Famoso por trilhas sonoras, o músico criou Sleep, composição de oito horas para explorar os impactos da música no sono
Vitória Campos (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 08/04/2021, às 19h32
À primeira vista, espalhar centenas de camas em um parque em Los Angeles, EUA, para pessoas dormirem enquanto escutam música por oito horas, pode parecer história de filme. E realmente é.
Max Richter, compositor alemão famoso por músicas em Ilha do Medo (2010) e A Chegada (2016) e a diretora Natalie Johns realizaram um projeto ambicioso e original, o documentário Max Richter's Sleep (2019). Disponível na plataforma de streaming MUBI.
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O projeto mostra os concertos de Sleep, composição de Richter de 2015. Com cordas, sintetizadores e camas espalhadas, dura oito horas e tem o intuito de explorar os impactos da música no sono, focando na experiência de ver pessoas dormirem.
O filme vai além da obra musical, e mostra os bastidores das noites nas quais o público se reunia ao ar livre para adormecer ao som do compositor. Também apresenta conversas de Ritcher com a parceira criativa Yulia Mahr, tornando a produção muito mais pessoal.
Com uma fotografia azulada para relembrar noites tranquilas, o documentário acerta em cheio no ritmo da narrativa. Some isso à trilha sonora de Richter, famosas no mundo cinematográfico por enriquecer qualquer filme. Contudo, peca em um aspecto: não te faz querer fechar os olhos nem por um segundo.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Max Richter contou sobre a composição, a incrível carreira e como o projeto se tornou um documentário.
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Não se lembrava exatamente como surgiu a ideia de transformar os concertos em filme, mas acredita ter se originado com a parceira Yulia. Ela filmava algumas partes enquanto rodavam o mundo por causa da composição. Com tanto material gravado, o projeto nasceu. Sleep foi performada em Berlim, Alemanha; Londres, Reino Unido, e até mesmo na Ópera de Sydney, Austrália, lugar querido por Richter.
Normalmente, quando o público dorme em um show, é sinal de fracasso, mas não nesse caso. A ideia de compor para as pessoas dormirem tinha uma razão muito maior. “Um lugar para descanso” explicou Richter. Com o caos e a maneira como não nos desconectamos do mundo virtual, sentiu a necessidade de produzir algo pela paz e tranquilidade.
Quando toca e vê o público adormecendo, cria uma intimidade maior com a audiência e, como músico, acha a experiência muito especial. “Quanto tocamos Sleep, é como se víssemos algo maior acontecer, não estamos só performando, também providenciamos às pessoas um lugar de fuga.”
Contudo, é uma longa composição de oito horas, com centenas de folhas de partituras de piano. Richter define os concertos como um esporte extremo: “É como correr uma maratona”.
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Coincidentemente, Richter não consegue dormir enquanto escuta o próprio álbum. “É um paradoxo,” pois o compositor não consegue descansar a mente enquanto ouve músicas, fica com os pensamentos ativos a todo momento.
Com a carreira prestigiada na música e no cinema, Richter acredita que a trilha sonora assume o papel de mudar a narrativa de um filme por mexer com os sentimentos dos espectadores. Enxerga-a como responsável por abrilhantar uma produção, ou até mesmo arruiná-la.
Para ele, compor para o cinema e séries é muito diferente de compor para concertos. Em um filme, a música é um elemento entre outros - acompanha a direção, os atores e todos os aspectos da produção. Mas, em projetos como Sleep, “não [existe] nada além disso.” A composição é a peça central.
Falou sobre o maior desafio em escrever músicas: saber a hora de parar e perceber quando a obra finalmente está pronta. É fácil entender o motivo do compositor não conseguir finalizar, pois o público também não quer parar de ouvir, nem que seja necessário adormecer e sonhar ao som de Ritcher.
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