Brian e Michael D’Addario retomam as texturas glamourosas e psicodélicas dos anos 1960 e 1970 no terceiro disco da carreira, Songs For The General Public
Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 21/08/2020, às 07h00
The Lemon Twigs poderia estar no palco de um teatro barroco, vestido com figurinos exuberantes diante de uma grandiosa plateia acomodada em assentos ou cabines com detalhes arquitetônicos luxuosos. Ou poderiam estar em um estúdio, em Nova York, vestidos com calças estampadas, camisetas extremamente justas e lenços coloridos.
Os dois cenários seriam adequados para os irmãos multi-instrumentistas Brian e Michael D’Addario, que carregam uma dramaticidade e despretensiosidade natural, digna dos palcos. Uma mistura que está claramente presente no novo disco da banda, Songs For The General Public, que seria lançado no dia primeiro de maio, mas, por causa da pandemia, saiu nesta sexta-feira, 21, pela 4AD.
O terceiro álbum da dupla nova-iorquina sucede Go To School (2018), um ópera rock sobre um macaco criado por humanos que enfrenta dilemas da adolescência. A obra foi gravada no porão dos pais dos artistas, Susan e o músico Ronnie D’Addario, que também participaram da produção, e contou com o Todd Rundgren no papel do pai do primata.
A banda percorreu uma trajetória peculiar. Como astros do rock perdidos no tempo, eles trouxeram de volta as texturas glamourosas e psicodélicas dos anos 1960 e 1970 no disco de estreia, Do Hollywood (2016). Já no segundo álbum, eles flertaram com diversos gêneros musicais, como o rockabilly e a bossa nova, para acompanhar as emoções de um personagem principal.
Com Songs For The General Public, os artistas perdem o interesse em narrativas estruturadas e voltam a explorar espontaneamente temas do cotidiano de forma mais simples, desta vez, com uma identidade sonora mais definida.
Michael, 21, o irmão mais novo, estava em casa, em Nova York, quando conversou com a Rolling Stone Brasil e explicou que o terceiro disco do The Lemon Twigs é o resultado do desejo de fazer um álbum pop e compor canções sem muitas limitações ou direcionamentos artísticos.
“Eu não estou mais interessado [na ideia de uma ópera rock]. Eu estou mais [interessado] em uma coisa líquida. É apenas… jogar algo na parede e ver se gruda ao invés de tentar se prender em qualquer tipo de contexto.”
Já Brian, 23, que estava do outro lado dos Estados Unidos, em Los Angeles, disse que a ópera rock e o novo disco abordam temas semelhantes, como a solidão e a “inabilidade de colocar seu amor em algum lugar significativo”. A diferença entre os dois trabalhos está na linguagem.
“Está muito mais direto neste álbum. Não tinha nada para nos distrair do que estávamos criando com os temas, as músicas e as letras desse disco. Eu acho que em Go To School você precisa vir e procurar um pouco mais por esses temas, mas aqui, nós apenas colocamos as ideias de uma forma mais simples”.
O The Lemon Twigs se afastou das narrativas planejadas, mas não perdeu o tom teatral característico da dupla, que, na infância, já participava de peças da Broadway, filmes e séries, além de tocar instrumentos. A primeira canção do disco, “Hell On Wheels”, soa como a abertura triunfal de um musical, com direito a coro, violino e um refrão que se intensifica a cada repetição.
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Em seguida, os irmãos nos levam em viagem no tempo. Talvez, essa impressão seja causada por causa da virada dramática em “No One Holds You (Closer Than The One You Haven’t Met)”, os teclados psicodélicos em “Somebody Loving You” ou o tom de celebração presente na maioria das canções, o qual contrasta com o peso das letras.
“Eu ouvi isso algumas vezes, que as letras são mais sombrias e a música é mais leve. Eu diria que as músicas do Michael, especialmente “Hell On Wheels” e “Moon” são bem celebrativas”, disse Brian. “Essa também é a identidade do disco, é apenas bem pop.”
"Eles dizem que a lua parece muito com uma unha do pé hoje à noite / Então, espero que não desapareça / Porque existe algo sobre andar por aí na luz do luar / Faz você sentir que vai sair daqui", os músicos cantam em "Moon".
“Hog” e “Leather Together” são canções que se destacam no álbum. A primeira por quebrar o ritmo acelerado das canções anteriores e a segunda por levá-lo ao limite. “Eu gosto de ‘Hog’ e acho que é muito bem produzida, tipo, as diferentes camadas e cores são realmentes boas, você sabe, os saxofones e as flautas são lindas, não sei realmente explicar”, disse Michael.
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Brian completou: “Eu consigo ver que as duas [músicas] vêm de um lugar diferente, mas ‘Leather Together’ parece vir de um sentimento similar à ‘Hell On Wheels’, você sabe, é um pouco mais imprudente [...] Eu acho que ainda continua divertida. Mas ‘Hog’ é mais sombria e parece uma história de vingança ou algo do tipo, para mim”.
Como no disco de estreia, Songs For The General Public traz um tom nostálgico que remete ao pop rock progressivo do Supertramp, os teclados psicodélicos de Steppenwolf no disco The Second e até mesmo a melancolia beatlemaníaca.
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Curiosamente, os irmãos D’Addario contaram que não se sentem uma grande conexão com o rock dos anos 1960 e 1970. “Eu não sei. Às vezes, eu não me sinto conectado [a esse tipo de música]. Eu apenas escrevo o que eu escrevo e, às vezes, para as outras pessoas, soa deste jeito”, disse Brian.
O irmão mais velho enfatizou que houve todos os tipos de música. Bob Dylan, Tiny Tim, Jean-Jacques Perrey estão entre as referências dele. Já Michael ouve desde trap até folk tradicional da Itália ou Albânia. Os músicos ainda disseram que o novo disco sintetiza uma mistura de sonoridades.
“Eu realmente gosto do jeito que nós usamos os sintetizadores no álbum, as guitarras pesadas e distorcidas. Eu acho que tem bons tons de guitarras e sons de bateria. Eu sinto que é uma boa mistura muito boa de um som refinado, um pouco exagerado e pesado, e um tipo de ruído”, concluiu Brian.
Para os irmãos, se as composições do disco pudessem ser representadas visualmente, assumiriam a forma de uma lixeira ou uma pintura a óleo de um grande rottweiler vestido com as roupas do papa.
The Lemon Twigs retoma texturas clássicas do rock 'n' roll, mas incorpora novos elementos performáticos em Songs For The General Public. Brian e Michael se destacam na cena do rock ao criarem uma celebração sonora que, definitivamente, vale a pena ser ouvida.
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