Depois de estourar com o hit "Deixa", compartilhado até por Neymar, o quinteto mineiro assume a posição de levar às rádios os dilemas de sua geração
Lorena Reis Publicado em 17/07/2019, às 19h48
De coração partido com o fim de namoro, Pedro Calais se trancou no quarto e fez o contrário do que se esperaria dele. Não recorreu às músicas tristes. Há cinco anos, ele compôs "Califórnia", uma canção sobre libertar a mente e pensar positivo.
Algumas semanas depois de ter publicado um vídeo no Facebook, a canção se espalhou e ele foi convidado para tocar numa boate de Belo Horizonte. Reuniu os amigos de infância que já tocavam algum instrumento e, com cinco ou seis ensaios, Calais tinha uma banda, o Lagum.
Com ele no vocal, Otávio Cardoso e Jorge nas guitarras, Francisco Jardim no baixo e Tio Wilson na bateria, o quinteto iniciou sua projeção no mercado nacional com o lançamento independente do disco Seja O Que Eu Quiser, em 2016.
Na época, todo e qualquer trocado recebido pelo grupo era investido gravar mais cópias do disco, distribuídos gratuitamente a cada nova apresentação do Lagum pelos arredores de Belo Horizonte.
Em determinado momento, "todo carro de jovens que beiravam os 20 e poucos anos tinha um CD nosso", conta Calais em uma conversa com a Rolling Stone Brasil.
Beira a ironia pensar que uma banda nova tenha investido tanto em uma plataforma de música física, como é o CD, mas eles mesmo não sabiam se a ideia daria certo. “A gente começou questionando o fato de que ninguém escuta CD nos dias de hoje", admite Calais.
"Aí a gente percebeu que a galera ia para os shows já sabendo cantar as músicas do começo ao fim, porque o pessoal de BH pegou o costume de colocar o disco no carro - acho que quando não tinha mais nada pra ouvir”, brinca.
O primeiro semestre de 2018 foi transformador na carreira dos meninos, especialmente quando a Ana Gabriela (jovem cantora que cresceu após o sucesso de covers publicados no YouTube) aceitou participar da regravação de “Deixa”.
A canção tinha cheiro de hit e explodiu ao ser compartilhada no Instagram de Neymar, jogador da seleção brasileira, durante a Copa do Mundo na Rússia. A partir daí, o Lagum viveu um daqueles contos de fadas que qualquer banda poderia querer.
De repente, "Deixa" estava em alta rotação nas plataformas digitais - e nas rádios. Os números cresciam exponencialmente. "Como a gente não tinha nada a perder, gravamos essa versão de bobeira e, quando ela saiu, foi o que foi", relembra Calais.
É agora preciso dar um salto no tempo. Enquanto o resto do mundo girava, o Lagum seguia à risca a cartilha de novas bandas e, show a show, construíram público e reputação para além da Internet.
Um contrato com a Sony Music para gravar um disco fez com que eles voltassem aos estúdios e só saíssem de lá com Coisas da Geração, o segundo álbum de Calais e companhia, produzido por Paul Ralphes.
Colocaram dentro daquele disco aquilo que viveram nesse turbilhão de estrada, rotina intensa de aeroportos, hotéis e shows, além da distância da família e de casa.
“Sou só eu ou mais alguém /
Também se sente estranho aqui? /
Se eu pensasse um pouco menos /
Talvez não seria assim /
Eu levo a vida até que normal /
Um dia seco, outro sentimental /
Mas fazer o quê? /
Me disseram que é coisa da geração”
- Canta Calais na música que inspirou o título do novo disco, “Coisa da Geração”.
Com leveza, a banda se estabeleceu justamente por tentar decifrar o que são as tais "coisas da geração", tão incompreendidas pelos mais velhos porque, afinal, já não fazem dos questionamentos da faixa etária deles.
O Lagum aborda as relações líquidas e outros assuntos complexos que marcam o nosso tempo, como amor, saudade e despedida. Suas músicas tratam da distância, ao mesmo tempo em que falam da falsa proximidade representada por uma mensagem de texto ou por uma foto nas redes sociais.
"Eu não quero que o nosso movimento seja uma coisa solta, ou que a gente seja só uma banda. Eu quero que as pessoas se relacionem com o que a gente quer dizer…"
De forma certeira, e com doçura, o grupo é capaz de traduzir as dúvidas e anseios de uma juventude que só é compreendida por quem pertecnce, de fato, à mesma geração.
Coisas da Geração, o disco, saiu em junho e, depois disso, a banda seguiu para a estrada, como tem feito desde o comecinho de carreira, quando tocavam em lugares de capacidade muito menor do que hoje.
Quando voltaram a Belo Horizonte, foram alçados à casa KM de Vantagens Hall, com capacidade para 5,5 mil pessoas. "A casa é gigante, histórica. E eu fui em grandes shows nela", conta Calais.
Aos 23 anos, os dias de adolescência ainda estão frescos na memória. "Já até invadi [o local do show] para ver o Luan Santana", ele relata e ri. Mas encerra, satisfeito: "Hoje eu tô lá em cima, onde eu queria estar."
Assista ao teaser de Coisas da Geração, lançado no dia 14 de junho:
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