Profissionais assinaram o Pacto, documento reivindicando copyright das músicas escritas por eles
Elias Leight | Rolling Stone EUA. Tradução: Marina Sakai | @marinasakai_ (sob supervisão de Camilla Millan) Publicado em 01/04/2021, às 20h39
Emily Warren é uma compositora pop de elite. Co-escreveu diversas músicas com mais de um bilhão de reproduções cada só no Spotify, incluindo “Don’t Start Now” e “New Rules” de Dua Lipa e o hit dos Chainsmokers, “Don’t Let Me Down.”
No entanto, Warren se encontrou em uma situação complicada no ano passado: uma cantora famosa exigiu uma fração “maluca” da renda destinada à composição, mesmo sem ter contribuído para o processo.
A compositora tentou negociar um acordo mais justo, mas a cantora não cedeu e a ameaçou. “Se não consigo falar não da minha posição, pequenos compositores com menos vantagem não têm chance nenhuma,” disse a Warren.
A experiência gerou ação coletiva por meio de uma carta aberta da comunidade de compositores dos Estados Unidos. O documento foi chamado de “Pacto” e declara: quem assinou “não dará direitos de publicação ou créditos de composição a quem não criou ou alterou letras ou melodias ou não contribuiu de qualquer outra forma para uma canção.” Warren assinou, assim como diversos compositores famosos, incluindo Justin Tranter, Ross Golan, Tayla Parx, Savan Kotecha, Amy Allen, entre outros.
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“Se todos aderirmos, 1) teremos vantagem, e 2) a ameaça dos artistas de ‘vou procurar outra pessoa se você não concordar’ não vai mais acontecer,” explicou Warren.
“Entendo, são negócios, mas extorquir outros profissionais não faz parte disso,” Ross Golan relatou à Rolling Stone EUA. “Compositores começarão a proteger o copyright, ou ficaremos furiosos.”
O Pacto é a tentativa mais recente de justiça econômica em um ambiente o qual, como Justin Tranter colocou, “dizimou completamente a classe média” da comunidade de compositores por conta dos baixos pagamentos por reprodução.
O sistema foi criado para gravadoras e artistas lucrarem mais com streams comparados aos compositores. Ainda, musicistas podem complementar os ganhos com shows, venda de produtos e campanhas. Essas opções não existem para compositores, os quais participam dos bastidores mas podem entrar em um bar sem serem reconhecidos.
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“Podemos estar caminhando para uma situação de não ter mais compositores que não performam,” disse Alastair Webber, co-fundador da gravadora independente e editora musical The Other Songs. “Simplesmente não conseguirão ganhar dinheiro o suficiente.”
Apesar do desequilíbrio entre artistas e compositores, a prática dos cantores mergulhando nas carteiras dos liricistas persiste. “É o comum agora,” contou um representante anônimo de uma editora musical. “Quase todo artista exige direitos de publicação, e acho injusto porque não fazem o trabalho além dos vocais.”
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Emily Warren trabalha principalmente no espaço pop, e nota como esse ambiente piorou recentemente. Parcialmente porque compositores tentam conscientizar sobre o assunto, “pessoas começaram a se importar mais, checar os créditos na Wikipédia ou a seção de créditos da música no Spotify [inaugurada em 2018]. Quando isso começou, artistas quiseram ser creditados.”
Estrelas demandam entre 20% e 35% da receita de músicas, as quais não ajudaram a compor com a justificativa de ser uma “taxa” por gravar as músicas. Shy Martin, liricista sueca, contou como, em alguns casos, encontrou artistas querendo 50% do lucro de músicas não compostas por eles.
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“No começo da carreira, você quer aproveitar todas as oportunidades, não sabia que tinha escolha. Em alguns casos, diriam, ‘Você devia agradecer pela nossa vontade de lançar sua música, e se você não concordar, não gravaremos,” disse Martin.
Compositores famosos assinantes do Pacto esperam apoiar e proteger colegas mais novos e encorajá-los a aderir à causa. “Muitos assinantes são grandes o suficiente para operar sem medo de retaliação,” disse Tranter. “Vamos entrar nisso com grandes corações e dedos do meio no ar.”
Mesmo com o lançamento do Pacto, compositores estão na corda bamba. Enquanto querem lutar por seus direitos, tomam cuidado para não mencionar nomes de artistas culpados desses comportamentos, com medo de envergonhar uma instituição poderosa.
Lucas Keller, dono da Milk & Honey, empresa de assessoria de mais de 80 compositores e produtores, é “100% a favor do Pacto” contanto que não machuque a indústria dos produtores. De acordo com Keller, a maior porção da renda vai para as gravadoras. “Como fazemos elas pagarem mais aos profissionais?' questiona.
Os liricistas não eliminam a possibilidade de trabalhar com artistas os quais demandam direitos de publicação em músicas que não escreveram. Reivindicam apenas alguma compensação caso sacrifiquem uma parte da renda. “Se você quer nos tirar algo, queremos algo de volta,” diz Tranter.
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