Com o segundo álbum, a banda liderada por Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser deixou claro o caráter metamórfico da sonoridade que viriam a abordar incessantemente
Igor Brunaldi Publicado em 27/05/2020, às 06h00
No dia 10 de março de 2010, o MGMT trouxe ao mundo Congratulations, segundo disco da banda liderada pelos multi instrumentistas Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser. Com o lançamento, eles tinham um desafio hercúleo: satisfazer a vontade de uma multidão de jovens indies cabeludos e de calça skinny colorida (me incluo nessa lista) sedentos por hits grudentos e dançantes como "Electric Feel", "Kids" e "Time to Pretend".
E não foi bem isso que aconteceu. Ainda bem.
Com as 9 faixas que compõe o álbum e um total de 43 minutos de duração, a dupla deixou claro que não estava disposta a enraizar ou engessar o próprio som, e que tinha como objetivo bem definido explorar ao máximo os cantos existentes dentro de cada vertente da psicodelia, independente se essa aventura musical resultasse na perda de fãs, que foi de fato o que ocorreu, mas também serviu para fortalecer o vínculo afetivo com quem estivesse disposto a se deixar surpreender.
Congratulations nos ensinou a não colocar expectativas no MGMT, e isso deve ser entendido da forma mais positiva possível. O álbum nos ensinou a não esperar por "A", quando eles certamente lançariam "Z". Esse fator de surpresa e renovação acompanha a banda até hoje, e é o que mantém muita gente extremamente interessada e curiosa a cada novo anúncio de single ou disco.
O anseio pelo estranhamento sonoro se tornou a principal força cativante do duo. E tudo começou há 10 anos.
Depois de serem alavancados para a fama absoluta com Oracular Spectacular, disco de estreia lançado em 2007, repleto de singles tocados exaustivamente nas rádios e nas baladinhas alternativas, e responsável por fazer muitos emos buscarem roupas mais coloridas, o grupo demorou três anos para conceber o tão aguardado sucessor.
Incontáveis pares de All-Star brancos de cano médio esperavam pelos novos hits para dançarem e se desgastarem em chãos melados de cerveja ao som de novas linhas repetitivas de sintetizadores e hinos tragicômicos sobre o glamour de mudar para Paris, injetar heroína, casar com modelos e morrer afogado no próprio vômito.
E bastou um play na primeira música para que rostos joviais com barbas ainda ralas fossem tomados por completo pela feição assimétrica que é a famosa "cara de dúvida".
Congratulations abre com o dedilhado de guitarra totalmente surf rock em "It's Working", na qual o vocalista Andrew VanWyngarden parece já se questionar logo de cara se o novo som está satisfazendo os fãs: "How will I know if it's working right?", ele canta.
Mas qualquer interpretação mais elaborada em busca de relacionar a letra dessa música a qualquer grau de insegurança está equivocada. O significado é muito mais simples, como já explicou o cantor. É só sobre tomar ecstasy mesmo.
Ao longo de toda a duração do álbum, o MGMT sequer dá indícios de começar a tocar uma canção que possa ser aceita como single de rádio. E isso parece ter sido um esforço consciente, porém não forçado na hora de compor. Não é como se eles tivessem decididamente se reunido e combinado em "não fazer hits", mas com certeza concordaram em não se deixar acorrentar à sonoridade que os levou à fama.
Afinal, a fuga da zona de conforto é assustadora, mas é o primeiro passo em direçã à experimentação e inovação.
Congratulations é ousado, é experimental e certamente desafiador. Ouvi-lo de ponta a ponta é como parar para analisar os detalhes da figura familiar, mas distorcida, que aparece refletida quando você pára em frente a um daqueles espelhos ondulados de circo: no começo, é vertiginosos e difícil de assimilar. Mas no fim, você compreende a imagem e se diverte com o surrealismo da coisa.
Ao não se prender à fórmula do sucesso que já tinham em mãos, a banda demonstrou, com o segundo disco, uma versatilidade sonora surpreendente e corajosa, que viria a ser destaque em toda a discografia deles.
Eu poderia continuar esse texto falando sobre cada uma das músicas do álbum, o que elas representam para a trajetória do MGMT, criar teorias malucas sobre como elas se ligam a outras canções e até mesmo me gabar de já ter entrevistado o vocalista.
Essa, na realidade, era a ideia inicial para esse texto, até eu perceber que seria chato demais, e que apenas recomendar a audição do disco seria, talvez, muito mais educativo.
Ao invés disso, decidi focar em apenas uma das músicas para ilustrar como, em 2010, o grupo conseguiu profetizar muito do que aconteceria na carreira deles na década seguinte.
A faixa de número 6. A que marca o fim do segundo terço de Congratulations e a que carrega, em mais de 12 minutos de duração, um resumo de tudo que o MGMT fez, faz e ainda é capaz de fazer.
"Siberian Breaks" é uma jornada sonora por todo o baralho escondido na manga deles. Com inúmeras transições inesperadas, mudanças de atmosfera absolutamente imprevisíveis, e que carrega na extensa letra muitas facetas da filosofia e opiniões da banda, como, por exemplo, a falsidade que pode decorrer da receptividade alheia, expresa na frase "Wide open arms can feel so cold".
E, de fato, braços abertos podem mesmo ser mais gelados do que calorosos e receptivos. Mas no fim, se tudo der errado, sempre podemos voltar para como as coisas eram no início. Ou, como canta Andrew, "Back to the way that it was/ Long before it made a noise".
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