A Rolling Stone Brasil separou 20 fatos sobre Michaela Coel: a impressionante trajetória da criadora e protagonista de Chewing Gum e I May Destroy You
Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 20/07/2020, às 07h00 - Atualizado em 25/09/2021, às 15h30
Michaela Coel se tornou um nome de grande destaque da indústria televisiva nos últimos anos. A poeta, escritora, atriz, produtora e cantora é a mente por trás da hilária Chewing Gum, série que conquistou espectadores ao redor do mundo após ser incorporada no catálogo da Netflix, em 2016.
Inspirada nas próprias experiências, a artista cria histórias com personagens e cenários representativos e inéditos para o universo da televisão e das plataformas de streaming. A roteirista revolucionou as séries de comédia com um humor versátil, o qual se mistura com o bizarro e o dramático, e temas polêmicos, mas extremamente relevantes.
— Michaela Coel (@MichaelaCoel) September 16, 2021
A prova dessa revolução é a recém-lançada I May Destroy You, que traz uma história fictícia baseada no abuso sexual sofrido pela criadora durante a produção da série de estreia dela. Indicada a nove Emmys em 2021, a série levou em Melhor Roteiro em Série Limitada ou Telefilme - como foi roteirista, Coel subiu ao palco para recebê-lo.
Para conhecer e amar Michaela Coel, a Rolling Stone Brasil separou 20 fatos e curiosidades sobre a vida pessoal e profissional da artista. Confira a lista:
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Em entrevista ao Channel 4 News, Michaela contou que a mãe dela é de Gana e imigrou para o Reino Unido com cerca de 20 anos em busca de oportunidades melhores para a filha.
“Tudo que eu sei é que minha mãe arrebentou. Ela teve uma vida muito, muito difícil e fez essas coisas para que eu, talvez, tivesse um senso maior de liberdade e de maiores oportunidades”, disse a atriz.
Michaela revelou que o primeiro contato com a atuação aconteceu ainda na infância quando a mãe dela descobriu que um teatro local tinha um projeto gratuito para incluir crianças de famílias de baixa renda em um grupo de jovens.
Durante uma palestra no Edinburgh International Television Festival, ela ainda enfatizou que era a única criança negra da turma, mas adorava acompanhar os elencos das peças que se apresentavam no local.
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A escritora revelou para o Channel 4 News que não tinha dificuldades em passar nos exames para universidades, por isso experimentou estudar em diferentes áreas. A artista cursou ciência política, mas saiu da faculdade depois de dois meses. Pouco tempo depois, ela tentou literatura inglesa e teologia, porém desistiu do curso após um ano.
Enquanto Michaela não tinha certeza sobre o futuro acadêmico, a atriz se ocupou com diversas outras profissões, como faxineira de praças de alimentação e bancos. Além disso, ela também trabalhou em lojas de roupa.
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Na faculdade, Michaela foi chamada para fazer parte de um grupo de dança e, somente após se juntar ao time, a artista descobriu que era um coletivo de cristãos. Porém, a estudante decidiu fingir seguir a religião para não deixar de participar das atividades.
Contudo, certo dia, a estudante estava em um evento de uma igreja pentecostal e ouviu de uma jovem desconhecida que Deus estava pedindo para ela conhecê-lo de verdade.
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“Eu voltei para a igreja. E acho que na segunda vez, o pastor fez um chamado no altar, em que ele dizia: ‘Se você não conhece Jesus, levante a mão’. E antes mesmo de perceber, minha mão estava no ar e eu corri para o altar”, disse a escritora para o Channel 4 News.
Ela completou: “Eu estava de joelhos, chorando, apenas me desculpando para esse Deus que eu tinha acabado de ter essa conexão incrível [...] E então eu me tornei uma absoluta e real cristã por cinco anos”.
No dia 22 de maio de 2006, Michaela se inspirou nos salmos da religião para escrever um poema pela primeira vez. A obra intitulada de A Próxima Modelo de Deus foi o ponto de partida para a ela se tornar poeta.
A artista considera o texto tão importante na trajetória dela que até hoje comemora a data de criação do poema todos os anos, segundo informações do Channel 4 News.
Entre eventos e performances, o diretor Shay Walker se ofereceu para dar aulas gratuitas de atuação para a poeta na Royal Academy of Dramatic Arts. Walker também foi o responsável por aconselhar Michaela a se inscrever em uma faculdade de teatro.
Ela fez exames para três faculdades e foi aceita na Guildhall School of Music and Drama aos 23 anos.
No Edinburgh International Television Festival, Michaela contou que o plano dela era “ensinar os homossexuais sobre Jesus” ao longo do curso acadêmico de teatro. Porém, a estudante se tornou amiga dos “pecadores” e começou a questionar o posicionamento da igreja católica até que decidiu se desvincular da religião.
Michaela gosta de usar a palavra “desajustado” no lugar de “diversificado” ou “estranho”. A artista conta que sempre foi amiga dos “desajustados”, seja na escola ou na faculdade, onde foi a primeira mulher negra aceita em cinco anos.
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“O termo ‘desajustado’ possui duas definições. Um ‘desajustado’ é alguém que olha para vida de um jeito diferente. No entanto, muitos se tornam ‘desajustados’ porque a vida olha para eles de forma diferente, como as comunidades negras, asiáticas e de ruivos no Reino Unido, por exemplo”, disse a atriz no Edinburgh International Television Festival.
Ela continuou: “O termo ultrapassa gerações, conceitos de gênero ou cultura simplesmente por um desejo por transparência e pelo ponto de vista do outro. Um ‘desajustado’ que visivelmente se encaixar vai se encontrar, de vez em quando, emergindo com o mainstream pelo sentimento de segurança”.
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Além da escrita e da atuação, Michaela também possui uma carreira musical. A artista já lançou três CDs de música e poesia: 22 May, Fixing Barbie e We’re the Losers.
“Eu gosto de escrever músicas simples, eu não usou muitas metáforas ou coisas similares porque, às vezes, eu sinto que isso complica as coisas. Se eu estou frustrada ou uma amiga está passando por uma fase difícil, então eu escrevo sobre isso”, disse a cantora em entrevista ao canal do Youtube JOQ.
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A artista contou para o Channel 4 News que, apesar de conseguir papéis principais na faculdade, ela tinha consciência que o mercado de trabalho não iria colocar uma protagonista negra em uma peças clássicas.
Então, Michaela decidiu escrever uma obra com a qual se identificasse no último ano do curso. Assim, surgiu Chewing Gum Dreams, uma peça com apenas uma personagem que foi exibida em teatros da Inglaterra e, mais tarde, foi transformada em uma série de televisão.
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Em 2015, o Channel 4 lançou Chewing Gum reescrita e protagonizada por Michaela. Um ano depois, a produção foi incorporada no catálogo da Netflix nos Estados Unidos.
A série conta a história de Tracy, uma jovem cristã de 24 anos que deseja perder a virgindade. A série levanta questões sobre religião e sexualidade e cativa o espectador com o humor ingênuo da personagem e as cenas embaraçosas de sedução.
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Além disso, a protagonista diverte o público ao compartilhar pensamentos por meio da quebra da quarta parede - técnica que voltou a ganhar popularidade em séries de comédia com produções como Fleabag, de Phoebe Waller-Bridge.
Com o sucesso das duas primeiras partes do seriado, Michaela decidiu dar um passo ousado e mudar a produção de Chewing Gum. De acordo com o Channel 4 News, a ideia era dar oportunidade para novos escritores criarem cada um dos episódios da terceira temporada.
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Contudo, a emissora mudou de ideia e pediu para a escritora desenvolver os novos episódios. “Nós tivemos uma reunião e nós celebramos porque ia acontecer. Eu estava tão, tão feliz. Então eu saí e imediatamente recebi um e-mail dizendo: ‘Oh, você poderia escrever os dois primeiros?’’, disse a atriz.
Ela completou: “Eu pensei: ‘Eu não confio no canal. Se vocês voltaram atrás tão rápido, eu cheiro um rato’. Então disse: ‘Não, eu vou achar um outro jeito de fazer minha coisa com escritores’”.
Apesar de ter se despedido oficialmente da série no Twitter, Michaela deixou claro que ainda pode retomar a produção algum dia.
Outro motivo para a terceira temporada de Chewing Gum não ter sido produzida foi por causa da agenda de Michaela. Ao longo da exibição da segunda parte da série de comédia, a atriz avisou que iria fazer um teste para uma nova produção e pediu para o canal confirmar o desenvolvimento de novos episódios, mas a emissora demorou para responder.
Então a artista decidiu se dedicar a um novo projeto, Black Earth Rising, uma produção original da Netflix escrita por Hugo Blick. Na série, a artista dá vida à Kate Ashby, uma sobrevivente de um genocídio em Ruanda que tenta descobrir a verdade sobre o próprio passado.
A artista já ganhou cinco prêmios de poesia, incluindo o Laurence Olivier Award, em 2011. A peça Chewing Gum Dreams também recebeu uma estatueta no teatro, mas foi a série de televisão que trouxe reconhecimento para Michaela.
No total, Chewing Gum foi indicado quatro vezes para o BAFTA e venceu as categorias de Melhor Performance Feminina de Comédia e Talento Revelação, em 2016.
Michaela apresentou outras peças além de Chewing Gum Dreams, como o clássico do teatro grego Medeia. Já na televisão, ela participou de Law and Order: SVU: UK, The Aliens e Black Mirror.
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A atriz também apareceu em cinco produções cinematográficas, sendo a mais conhecida Star Wars: Os Últimos Jedi.
Em 2018, Michaela revelou ter sido vítima de um estupro durante o processo de escrita da segunda temporada de Chewing Gum. De acordo com informações do Deadline reproduzidas pelo Uol, a revelação foi feita no Edinburgh International Television Festival.
"Eu estava virando a noite no trabalho, tinha que entregar um episódio às 9 da manhã do dia seguinte [...] Eu resolvi fazer um intervalo e encontrar uma amiga que estava por perto para tomar um drinque. A próxima coisa que eu me lembro é estar na frente do computador, no dia seguinte, digitando".
A escritora só entendeu o que tinha acontecido quando começou a ter flashbacks e, então, fez uma denúncia na polícia e pediu ajuda para a família. A artista também disse que a emissora se responsabilizou pelas despesas de uma clínica de recuperação e terapia até o final das filmagens.
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Cinco anos após a estreia de Chewing Gum, Michaela lançou I May Destroy You no dia 7 de junho por meio da HBO e BBC One. Muito mais dramática e com um humor um pouco mais estranho - e realista -, a série parte das mesmas circunstâncias do episódio traumático da atriz.
A protagonista Arabella precisa entregar um manuscrito em poucas horas e, no meio do processo, decide encontrar um amigo durante a madrugada para se distrair. Ao ser deixada sozinha pelo colega, Arabella é abusada por um estranho em um bar e só consegue se lembrar do ocorrido horas mais tarde, com flashbacks.
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O retrato do abuso sexual e a reação da personagem é o que mais chama atenção na trama. Ao contrário de produções como 13 Reasons Why, a série não foca no ato de violência ou na imagem frágil da vítima.
Com muita sensibilidade, Michaela expõe a confusão mental da experiência pessoal dela e mostra que está disposta a denunciar e falar abertamente sobre esses crimes nas produções culturais.
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Talentosa e perspicaz, Michaela preza pela liberdade criativa e a segurança das próprias obras mesmo que isso signifique abrir mão de um contrato de US$1 milhão da Netflix.
De acordo com informações da Vulture reproduzidas pela Harper’s Bazaar, a escritora tentou vender o roteiro dela para a plataforma de streaming, mas a empresa só estava interessada na compra se a autora abrisse mão da porcentagem financeira de direitos autorais.
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Além disso, ela deixou a agência de talentos que administrava a carreira dela depois que descobriu que eles queriam fazer cortes no projeto.
Michaela Coel não romantiza os conflitos da vida, mas sabe muito bem como fazer piada de si mesma, como podemos ver em Chewing Gum. Em uma indústria dominada por produtores e protagonistas brancos, a artista negra se coloca no papel principal e consegue arrancar suspiros e risadas nervosas dos espectadores com cenas que vão do ridículo ao catártico.
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Contrariando o raciocínio tradicional do mercado de roteiros e séries, a artista mostra que não está disposta a abrir mão da liberdade artística para garantir uma carreira promissora, pois ela sabe que a arte dela é boa e necessária.
Com uma trajetória impressionante, Michaela mostra que ainda podemos esperar muitas produções e performances extraordinárias dela.
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