O apresentador de A Fazenda, veterano na cobertura de Copas, conversou com a Rolling Stone sobre como conseguiu unir as carreiras de jornalista e apresentador em uma coisa só
Stella Rodrigues Publicado em 29/06/2012, às 13h05 - Atualizado às 15h15
“Quando comecei, nunca pensei que um dia existiria algo como reality show e que eu fosse apresentar um”, relembra Britto Jr., falando dos dias de juventude que ele diz ter passado amando os Beatles, os Rolling Stones, The Who, Pink Floyd e outras bandas clássicas do rock. Em conversa por telefone com a Rolling Stone Brasil, Britto repassou sua carreira tanto de jornalista, quanto de showman, duas tarefas que podem não ser tão diferentes quanto se costuma imaginar. O comunicador falou sobre A Fazenda, a cobertura da Copa do Mundo, a Copa no Brasil, Hoje em Dia, reality shows e do “livro psicológico” que prepara, entre outras coisas.
“Não sinto nenhuma falta do jornalismo de reportagem, de ir para a rua”, afirma ele categoricamente quando o assunto é a mais fase mais recente da carreira, mais voltada para o entretenimento. “Já dei meu recado, fiz a parte que queria fazer. Agora, como apresentador, quero colocar o jornalismo e o entretenimento juntos”, explica. Britto chegou à Rede Record em 2005 para fazer o matinal Hoje em Dia, uma espécie de divisor de águas na carreira. Foi ali que o apresentador viu a chance de unir o jornalismo que já fazia, com reportagens de rua sobre comportamento, ao entretenimento em si. Não que ele tenha algum arrependimento de ter seguido primeiro pelo jornalismo tradicional. Aliás, jamais mencione algo do tipo para Britto Jr., ou ele se apressará em discursar sobre como sempre foi feliz na profissão que escolheu quando ainda era adolescente, no Rio Grande do Sul.
Antes do Hoje em Dia, ele já tinha trabalhado na cobertura de duas Copas do Mundo, sendo que cobrir a Copa pode ter a mesma equivalência para um jornalista brasileiro que jogar a Copa tem para um futebolista. Ao ser questionado sobre ter tido um pensamento de missão cumprida ao ser escalado para o trabalho, se sentia que poderia pendurar as chuteiras, Britto treme, sem nem poder cogitar a palavra aposentadoria. “De jeito nenhum!”, se apressa a exclamar. Mas logo se acalma ao entender que, na verdade, estamos falando de realização profissional. E isso ele realmente sentiu. “Fiquei 60 dias viajando pela Coreia do Sul e o Japão. Cada dia estávamos em uma cidade. Dormíamos em hotéis pequenos e motéis”, recorda sobre a aventura, destacando a emoção de cobrir os jogos da azarona Coreia do Sul, que na condição de hospedeira conseguiu um inesperado e impressionante quarto lugar na classificação.
“A gente sempre fala que o Brasil não está preparado, mas qual é o país que está preparado para receber um público de Copa do Mundo?”, emenda por conta própria. “A Copa do Mundo no Brasil não vai ser um fracasso. Quando chegar a hora, teremos todos os estádios construídos e funcionando. Não vai ser nota 10. Não foi na África, não foi na Alemanha, em praticamente nenhum país. Sempre se tenta fazer o melhor. Temos que nos preocupar com que o Brasil deixe uma herança para seu povo. Infraestrutura, metrô, hospitais, hotéis novos. E nós vamos chegar nesse ponto. Talvez a gente inaugure tudo com tinta fresca, mas vai dar tempo. O problema é o dinheiro público. Porque o Brasil tem outras prioridades, desequilíbrio social. Quando você coloca dinheiro público para beneficiar as outras seleções, você perde um pouco do foco. Fora essa questão, o Brasil estará preparadíssimo para a Copa, pode ter certeza.”
Além da Copa, o currículo de Britto Jr. tem diversas coberturas significativas. E ele não transmite a sensação de satisfação ao falar desde entrevistas com pessoas nas ruas sobre comportamento, o que fez por muito tempo, até as matérias premiadas das quais participou. “Teve a série de Nova York, comparando a vida das pessoas nas duas cidades; coberturas intensas e diárias sobre economia, as Diretas Já, eleição do Lula e do Collor...”. Mas o encontro de tudo que ele mais gosta só foi acontecer recentemente, com o já citado Hoje em Dia, cujo set o apresentador revisitou recentemente “e se sentiu em casa”, e com A Fazenda, o reality show das celebridades “b” que ajudou a elevar a audiência da Record.
Não é incomum, ao redor do mundo, que programas de competição com pessoas enclausuradas costumem ter como mestre de cerimônias um jornalista. A função desempenhada por ele, garante Britto, exige igualmente habilidades cênicas e de reportagem. “Eu assisto e faço uma cobertura. Anoto frases, comentários, é a mesma técnica. Acredito que jornalismo e entretenimento podem conversar, estar juntos no mesmo programa”, diz ele, refletindo que nunca mudou de carreira, apenas se aprofundou mais em uma área na qual tinha mais interesse. “Para o público, A Fazenda é totalmente entretenimento, mas para chegar àquele produto precisa de jornalismo, porque não inventamos o que está acontecendo”, diz Britto, esquecendo de mencionar que também faz papel de garoto do tempo ao início de cada capítulo do programa, invariavelmente falando sobre a chuva e o frio de Itu, cidade onde o reality é gravado.
“Fiquei muito interessado quando me fizeram essa proposta, porque estou participando de um novo capítulo da TV brasileira. Começamos uma revolução de conteúdo a partir dos reality shows e amo fazer parte disso”, afirma ele, que não tinha muitos conhecimentos anteriores sobre o assunto. “Assistia com a curiosidade de quem trabalha com televisão e percebeu que isso era uma coisa nova importante que estava acontecendo.”
Nos meses em que não está vigiando os fazendeiros intensamente, Britto se dedica à família, aos estudos, e a planos diversos de carreira, que inclui a criação de novos programas de TV. Aproveita também para mergulhar em outros assuntos sobre comportamento. Interessado e bem informado sobre novidades automobilísticas, acompanha ainda questões ligadas ao trânsito (pauta que já lhe rendeu um prêmio internacional), lê Nietzsche e Dostoievski e prepara um livro, que deve sair ano que vem. “Falo sobre episódios da minha carreira como repórter, apresentador de revista eletrônica e sobre A Fazenda. O livro também é psicológico. Conta as mudanças da carreira em paralelo com as mudanças que aconteceram na minha cabeça.”
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