A produção de Todd Phillips é a mais subversiva da história dos quadrinhos por espelhar tão bem os incômodos de uma geração caótica
Redação Publicado em 10/02/2020, às 01h06
Desigualdade, corrupção, cortes de gastos, figuras públicas ameaçadoras e uma população ansiosa. O mundo está em 1980 ou 2020? Como um dos maiores reflexos da sociedade, as produções cinematográficas servem como objetos de estudo do próprio tempo. Se não reproduzem a realidade, essas obras nos atentam a um cenário próximo.
Um bom exemplo é a maior aposta da DC, Coringa, indicado em 11 categorias (Melhor Filme, Melhor Ator, Fotografia, Direção, Edição, Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora Original, Edição de Som, Mixagem de Som e Roteiro Adaptado) na premiação mais importante da indústria, o Oscar.
A 92ª cerimônia de entrega dos Academy Award aconteceu na madrugada deste domingo, 9, e consolidou a estrondosa repercussão da produção mais subversiva da história dos quadrinhos dirigida por Todd Phillips e estrelada por Joaquin Pheonix.
Ambientado em uma Gotham que faz alusão a Nova York do início dos anos 1980, o filme captura o espírito desse tempo: a ascensão neoliberalista, falência do Estado, a criminalidade e uma população negligenciada. Apesar das quatro décadas de diferença, a obra brinca com o nosso presente.
Uma das semelhanças é a aproximação da figura política retratada em Coringa: Thomas Wanye, o empresário que se propõe a salvar a cidade ao se candidatar para prefeito, com o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, outro empresário que se projetou como a solução das deficiências do poder público de Nova York.
Por outro lado, a produção acompanha a dormência de uma sociedade fadada ao caos que centra essa angústia gradual no protagonista, Arthur Fleck / Coringa. Os problemas de saúde mental, traumas de infância, frustração profissional e a solidão caminham em direção à violência por falta de amparo.
Esse retrato, que por si só já soa perigoso, quando transportado para a realidade é ainda mais sombrio por apresentar que o acúmulo de questões, internas e externas, podem levar uma pessoa inserida em uma sociedade desordenada a ultrapassar os limites.
Não é por acaso que essa imagem - unida a atuação admirável de Joaquin Pheonix e a exatidão do diretor ao criar essa linha tênue entre o bem e o mal - tenha sido alvo de preocupações.
Os primeiros pontos levantados sobre a produção, inclusive, enfatizaram de que ele poderia inspirar ações violentas e alimentar a cultura incel [abreviação de involuntary celibates (celibatos involuntários, em português), um termo usado para nomear um grupo de homens, quase exclusivamente formado por heterossexuais adultos que têm dificuldades para se relacionar sexualmente com mulheres]. Essa comunidade tem históricos reais de violência, principalmente os tiroteios em massa nos Estados Unidos.
Para os críticos, as primeiras impressões foram duras. Segundo Stephanie Zacharek, da revista Time, a produção transforma "um cara triste que não consegue marcar um encontro em um herói assassino". Enquanto Robbie Collin, do Telegraph, escreveu que Coringa "vai causar problemas" e que a produção "deveria ter sido trancada em uma caixa, depois jogada no oceano e nunca lançada".
Por outro lado, a cineasta argentina Lucrécia Martel, presidente do júri do Festival de Veneza - no qual o filme foi ovacionado durante oito minutos -, afirmou que "Coringa é um retrato poderoso do nosso tempo, e que por espelhar algo latente, não deve ser ignorado".
Desde 1940, quando o Coringa foi lançado, o personagem - apesar de sobreviver com a mesma imagem há 80 anos - evoluiu e incorporou várias formas a cada nova produção. Tudo isso é resultado do espaço-tempo no qual o Coringa foi inserido.
Se agora, neste retrato premiado, ele soa tão desconfortável e carregado de controvérsias, é porque ainda estamos vivendo nessa caixa de representações: exclusão social, desprezo, intolerância, falta de suporte do Estado, sensacionalismo midiático (completamente coerente aos tempos atuais e essencial para a narrativa) e ascensão de figuras públicas ameaçadoras, que não se restringe apenas a cultura e política norte-americana, muito menos apenas às décadas passadas.
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