Longa dirigido por Christopher Nolan é vertiginoso e narra um dos momentos históricos mais importantes da trajetória da sociedade moderna; Harry Styles atua na produção
Paulo Cavalcanti Publicado em 27/07/2017, às 15h16 - Atualizado às 15h41
Para compreender Dunkirk é necessário um pouco de história – e como o longa não faz essa contextualização, é de bom tom recapitular tudo que aconteceu. No período de 26 de maio a 4 de junho de 1940, cerca de nove meses depois de a Segunda Guerra Mundial ter começado, 400 mil soldados, a maioria deles ingleses, mas também muitos franceses, estavam encurralados na praias de Dunquerque, uma pequena cidade no norte da França, perto da fronteira com a Bélgica. O resgate parecia impossível. As tropas de Adolf Hitler estavam prontas para executar um massacre épico e dar um xeque-mate nos aliados. Mas isso nunca aconteceu e pelo menos 340 mil deles voltaram para casa.
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Até hoje esse é um dos episódios mais misteriosos e controvertidos da Segunda Guerra Mundial. Ninguém sabe o motivo de Adolf Hitler ter segurado o exército, dando tempo e oportunidade para que os ingleses e franceses escapassem. Alguns historiadores dizem que os generais alemães, representados por Gerd von Rundstedt, argumentavam que um avanço por terra seria contraproducente e arriscado, e que seria melhor um ataque pelo ar. A Luftwaffe, a força aérea nazista, comandada pelo pomposo Marechal Hermann Göring, até bombardeou os soldados ilhados, mas com muita má vontade. Se o ataque fosse feito de forma rápida, efetiva e impiedosa, não sobraria ninguém. Então, por que os nazistas recuaram em todas as frentes? Seria um ato cavalheiresco e estratégico, ditado pela esperança de fazer as pazes com os britânicos logo em seguida? É sabido que Primeiro Ministro inglês Winston Churchill nunca faria qualquer tipo de acordo com o governo nazista. De qualquer forma, os ingleses escaparam e se reorganizaram; os nazistas se ocuparam com a invasão da Rússia; os Estados Unidos entraram no conflito no final de 1941; e o destino da guerra mudaria de vez. Os bastidores das ações dos nazistas em Dunquerque se tornariam um enigma nunca solucionado.
Em Dunkirk, Christopher Nolan não fez exatamente um filme histórico, no sentido de que o didatismo passa longe. É uma obra naturalista, às vezes abstrata, com narrativa não-linear. O diretor se preocupa mais com a atmosfera e com as reações dos personagens diante do caos e da incerteza que os cercam. Nolan, conhecidos por filmes com muito diálogo, faz justamente o contrário, neste caso. Os personagens falam pouco e a narrativa muitas vezes é conduzida pela trilha enervante de Hans Zimmer.
O drama de Dunquerque é contado sob três perspectivas diferentes: terra, mar e ar. O diretor imprime a cada um destes cenários andamentos e visões diferentes. No segmento da terra (chamado no filme de molhe, que é o paredão construído nas praias e portos para evitar a violência das águas), presenciamos a angústia, ansiedade e terror dos soldados encurralados aos milhares nas praias, esperando uma salvação – ou então um ataque fulminante dos alemães. A narrativa é lenta e o tédio da rotina deles é quebrado pela inesperada violência dos eventuais ataques alemães, que duram apenas alguns segundos, mas deixam resultados devastadores. Enquanto os combatentes aguardam seus destinos, o Comandante Bolton (Kenneth Branagh) tenta organizar o caos que reina no local.
Na parte que mostra a ação na água, tudo é ainda mais imprevisível. O foco principal fica em Mr. Dawson (Mark Rylance), um dos inúmeros civis que foram convocados pelo governo para participar da Operação Dínamo, ajudando na evacuação dos militares e os levando para o território inglês. Assim, cerca de 800 embarcações atravessaram o canal da mancha no dia 4 de junho de 1940. Valia tudo: barcos de pesca, iates e traineiras. Mas estes marinheiros de primeira viagem não sabiam se conseguiriam voltar para casa.
No ar, tudo é muito mais frenético e acelerado. Três pilotos da Real Força Aérea inglesa pilotando aviões Spitfire fazem a guarda da área onde os soldados estão concentrados. O problema é que um avião da Luftwaffe os persegue de forma decidida. Dos três aviões ingleses, somente aquele pilotado por Farris (Tom Hardy) consegue resistir. Mesmo com o avião severamente avariado e com o combustível no fim, ele consegue dar o vital apoio aéreo de que os colegas de exército lá em baixo tanto necessitam. Nolan dirige estas cenas de perseguição aérea de forma vertiginosa e estonteante.
Apesar de a obra do cineasta ser muito mais vanguardista e anticonvencional, o filme ainda faz um tributo a antigos filmes do gênero “guerra”, como O Mais Longo do Dias. Mal se conhece os atores, por trás de seus uniformes e capacetes. O ídolo pop Harry Styles, é um desses. Ele vive Alex, um dos pracinhas que voltam para casa sob o temor de ser considerado um fracasso.
Um dos aspectos mais importantes de Dunkirk é que Nolan dispensou a computação gráfica. Quase tudo o que é visto na tela é real, de equipamentos e veículos a multidões de soldados. Trata-se de uma verdadeira imersão em um momento histórico ainda muito vivo na história da Inglaterra. Quem assistir ao filme terá a mesma sensação de desespero e desconforto dos 400 mil soldados que esperavam uma morte quase certa e sangrenta, mas que felizmente não aconteceu para a maioria deles.
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