Miles Kane e Gang of Four foram as duas atrações finais do domingo musical no Parque da Independência
Por Stella Rodrigues
Publicado em 30/05/2011, às 11h37No ultimo domingo, 27, um mar de cabeças acompanhou, de graça, os shows de duas das atrações que integraram o line-up do 15º Cultura Inglesa Festival, em São Paulo. A proposta do evento era trazer um pouquinho do Reino Unido à capital paulista e, curiosamente, o local selecionado para hospedar a música da terra da rainha foi o Parque da Independência, um dos lugares mais "brasileiros" da cidade.
Uma dessas apresentações foi a do jovem de 25 anos Miles Kane, ex-vocalista do The Rascals, que atualmente segue carreira solo. Ele também tem como projeto paralelo o Last Shadow Puppets, ao lado do frontman do Arctic Monkeys, Alex Turner.
A outra, foi o lendário quarteto de pós-punk Gang of Four, que hoje em dia se apresenta com metade de seu line-up original: conta com os músicos Jon King (vocalista) e Andy Gill (guitarrista), que desde a década de 70, quando o grupo surgiu, são tidos como espinha criativa do grupo. O Gang of Four fechou o "música no parque", um dos muitos segmentos do Cultura Inglesa Festival (cinema, música e artes entre eles), que reuniu cerca de dez mil pessoas para assistir a sete shows.
Miles Kane
Ele conseguiu agradar até aos irmãos Gallagher. Liam o convidou para abrir os shows de sua nova banda, a Beady Eye, enquanto o Noel participou de seu primeiro e, até agora, único disco solo, Colour of the Trap. Se conquistar a dupla que liderava o Oasis não foi problema para ele, cativar a plateia paulistana foi tarefa fácil. Em especial a feminina, que pareceu se desmontar em gritos com o jeito arrumadinho de Miles.
Foi para mostrar o álbum citado acima, recém-lançado, que o rapaz desembarcou no país, começando sua performance, às 17h, com "Better Be Invisible". Em 50 minutos de apresentação, Miles falou bem pouco. Ele se ateve a pedir mais palmas, mais empolgação, e a agradecer em diversos momentos - sempre em inglês, evitando o clichê de aprender o "obrigado" na língua local.
Os destaques de seu show foram "Hey Bulldog", cover dos Beatles, a faixa que dá título a seu álbum, tocada em uma versão mais lenta, o mais novo single, "Rearrange", e o single que o público conheceu bem antes do álbum ser lançado, "Inhaler", escolhida para fechar o show.
Gang of Four
A apresentação durou pouco mais de uma hora, mas teve tudo que tinha que ter em uma performance do Gang of Four. Desde as dancinhas e coreografias teatrais e esquisitas do vocalista Jon King - que se movimentou para frente, para trás, correu para todos os lados e se jogou no chão diversas vezes - até um pobre micro-ondas sendo espatifado em muitos pedaços durante a performance do vocalista, que deu conta de se mexer o suficiente para não sentir frio naquele início de noite bem gelado, a ponto de terminar a apresentação de camisa aberta.
Não foram só os passos desengonçados de King que contribuíram para que o colorido do show fosse além da música tocada pelo quarteto. Já na primeira metade da apresentação, durante a execução de "Anthrax", Andy Gill despedaçou sua guitarra azul, o primeiro instrumento a ser vitimado pela banda. Aqueles deixados nas mãos de King também não tiveram sossego: ele girou o microfone pelo cabo, tirou o pedestal para dançar, trombava em tudo, de forma que todos esses objetos ou tiveram que ser substituídos ao longo do show, ou ficaram ligeiramente capengas.
A noite ainda contaria com mais momentos destruidores, como a marcação rítmica de "He'd Send in the Army" feita com um taco batendo no micro-ondas - que terminou com o já citado aparelho em pedaços, jogados para a plateia.
Ainda fizeram parte do set list "Ether", o single recente "You'll Never Pay for the Farm", pertencente ao novo disco Content, lançado em janeiro deste ano, "I Parade Myself" e "Do As I Say", que encerrou a primeiro porção, antes do bis. Este, dividido em duas partes, contou com as preferidas e mais aguardadas pela plateia: a já mencionada performance de "He'd Send in the Army" - que deixou todo mundo vidrado e fez desaparecer um pouco o incômodo causado pela microfonia que deu as caras aqui e ali, ao longo da apresentação - "Natural's Not in It", "I Love a Man in Uniform" e, para encerrar, aquela que foi pedida aos berros a noite toda, "Damaged Goods".