Comediante explica por que resolveu se desculpar por piada acusada de antissemitismo
Por Gus Lanzetta Publicado em 13/05/2011, às 16h33
"Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz." Ao postar essas frases em seu Twitter, na última quinta-feira, 12, o comediante Danilo Gentili causou muita discussão na rede social e até mesmo fora dela.
A piada fazia referência aos moradores do bairro paulistano que protestaram contra a construção de uma linha metrô na região. Acusado de antissemitismo por uns e falta de graça por outros, Gentili se tornou o "comediante-problema" do momento, seguindo os passos de Marcelo Adnet (que há algumas semanas pediu desculpas publicamente após seu programa, Comédia MTV, ter exibido um quadro que satirizava personagens autistas) e seu colega de CQC, Rafinha Bastos (que virou alvo de crítica após uma piada dele sobre estupro ser reproduzida em perfil publicado na edição deste mês da Rolling Stone Brasil - leia aqui). "Eu não sei que tempos são esses. Semana retrasada, o Adnet era vilão por uma piada. Na semana passada, o Rafinha. E nessa, eu", declarou Gentili por e-mail à Rolling Stone Brasil. No fim da noite de ontem, o humorista, que já havia removido a piada de sua página no Twitter, publicou um pedido de desculpas: "Minha intenção como comediante nunca foi trazer nenhum outro sentimento ao público que não fosse alegria. Peço perdão se falhei nesse meu objetivo com a piada que fiz essa tarde. Me coloco à disposição da comunidade Judaica para me redimir."
Antes da retratação de Gentili, a Rede Bandeirantes - emissora para a qual o comediante trabalha como repórter no programa CQC e na qual está prestes a estrear um novo programa, Agora é Tarde, previsto para junho - publicou um comunicado oficial, em que repudiou o comentário do humorista: "Apesar de a manifestação ter ocorrido no Twitter, fora do programa da Band, a emissora repudia com veemência esse tipo de brincadeira de mau gosto, e se solidariza com os protestos e com a comunidade judaica".
"Em episódios passados, quando fui acusado de racismo, não pedi desculpas, mantive o que eu disse e levantei a bandeira de que comediante deve, sim, ser livre pra fazer a piada que quiser. Por meses e meses tive um grande desgaste por sustentar isso. Era gente me xingando, processando, dizendo que sou uma porção de coisas que não sou. Uma enorme pressão", Gentili declarou, horas após publicar sua retratação. "Lembrando do episódio passado, resolvi mudar o discurso dessa vez. Apaguei, pedi desculpas, me coloquei a disposição para retratar o erro. A reação tem sido até pior, porque os mesmos que sentiram ofendidos continuam apedrejando, e agora o argumento novo é que também sou covarde por ter pedido desculpa."
Conhecido não apenas pelos comentários sarcásticos no Twitter, mas também pelas relações conflituosas com a classe política em Brasília, o humorista paulista de 31 anos atribui à liberdade proporcionada pela rede social o patrulhamento que tem sofrido por seus comentários. "Fazia muita piada no Twitter e odiavam, falavam que eu tentava ser engraçado o tempo todo. Passei a segurar a onda e fazer pouca piada e disseram que sou ruim porque faço pouca piada. Fiz piada mais leve e pararam de me seguir porque dizem que pego leve. Faço piada mais acidas e me processam", afirmou. "Acho que Twitter ainda é uma mídia muito nova e muito livre. A conclusão a que chego é que talvez ou eu ou o público ainda não saibamos usar essa ferramenta direito e desfrutar da forma correta de toda liberdade que ela proporciona, seja pra fazer humor ou expressar alguma simples opinião."
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