Dave Grohl em Nova York. - Victoria Will/AP

Dave Grohl, o cara mais ocupado do rock, fala sobre a vinda do Foo Fighters ao Brasil

Primeira turnê da banda pelo país – sem ser em festival – tem início nesta quarta, 21, em Porto Alegre

Por Pedro Antunes Publicado em 21/01/2015, às 17h43 - Atualizado às 17h58

Leia abaixo a íntegra da entrevista da Rolling Stone Brasil com Dave Grohl, publicada na matéria de capa da edição 101. O líder do Foo Fighters fala da relação com o Brasil e da turnê que a banda inicia nesta quarta, 21, em Porto Alegre. É a primeira vez que o grupo se apresenta no país fora de festivais.

Aos 45 anos, Dave Grohl não para. Não por acaso, uma busca pelo nome dele ou do Foo Fighters na internet revela ao menos uma novidade toda semana. Naquela tarde de quarta-feira, fim de outubro, não era diferente. Falando ao telefone, diretamente de Los Angeles, o líder e criador do Foo Fighters se preparava para o lançamento mais ousado da carreira. O disco Sonic Highways chegaria às prateleiras em algumas semanas, em novembro, mas já vinha sendo mostrado aos poucos na série homônima exibida, nos Estados Unidos, pela HBO (e pelo canal pago BIS, no Brasil). A América do Sul será o primeiro destino do grupo em 2015. O quinteto passará por Chile e Argentina antes de fazer uma série de apresentações no Brasil (21/1, Porto Alegre; 23/1, São Paulo; 25/1, Rio de Janeiro e 28/1 Belo Horizonte). Apesar de não vir ao país com tanta frequência – será a terceira vez –, o músico derrete-se de amor pelo público brasileiro.

Foo Fighters: um guia faixa a faixa de Sonic Highways.

Em 2012, o anúncio de que a banda não faria shows por algum tempo pegou todos os fãs de surpresa. Muitos deles questionaram se o grupo chegaria ao fim.

Nos últimos dois anos, estivemos trabalhando neste programa de televisão. Quero dizer, estamos trabalhando neste projeto há muito tempo, mas não podíamos contar. Mantivemos em segredo, mas foi tempo pra caralho. Foi um ano de planejamento e, depois, um ano inteiro gravando e fazendo este disco. Estivemos ocupados. Não fizemos tantos shows nestes dois últimos anos porque estávamos trabalhando nisso. Mas, quer saber, estamos felizes em sair do estúdio e tocar. Além de tudo, o público daí é maluco pra cacete! Todas as vezes que fomos até aí, tivemos os melhores shows do mundo.

Estas apresentações no Brasil serão as primeiras nas quais o Foo Fighters não dividirá as atenções com ninguém, diferentemente do que ocorreu no Rock in Rio 2001 e no Lollapalooza 2012.

O que eu acho legal dos festivais é que as pessoas podem explorar diferentes tipos de música. Eu adoro tocar neles por pensar em pessoas que estão ali nos vendo pela primeira vez. Gosto da ideia de que alguém que nunca ouviu o Foo Fighters possa experimentar o nosso show ali. Mas [pausa]... em um show próprio, podemos tocar mais tempo, fazer uma apresentação mais profunda. É incrível quando temos todo o público cantando comigo alguma canção como “My Hero” ou “The Pretender”. É demais porque esse relacionamento entre banda e os fãs é muito importante.

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O primeiro disco do Foo Fighters completa 20 anos em 2015. O curioso é que a estreia da banda na televisão norte-americana foi no Late Show with David Letterman e, 19 anos depois, vocês voltaram ao programa para uma residência de uma semana. Imagino que a pressão e a ansiedade foram imensamente menores desta vez, não?

É diferente agora. Na primeira vez que tocamos no ...David Letterman, havia apenas um ano que éramos uma banda, talvez. Ainda estávamos aprendendo. Então, hoje é diferente por isso. Agora a gente se conhece muito como indivíduos e como banda. Mas ainda fico nervoso momentos antes de me apresentar, embora esse nervosismo seja mais ligado à excitação, à ansiedade de estar no palco. Não é como o medo, entende? É como estar a poucos momentos de saltar de paraquedas. Você está ali, no avião, prestes a pular, e a adrenalina é ótima. As pessoas pensam que quando se está numa banda de rock, você é diferente dos outros seres humanos. Mas quando se está numa banda por 20 anos, forma-se uma família. Quando subimos nós cinco ao palco, entramos como amigos, entende? Isso levou 20 anos para acontecer. Não era assim no começo, mas atingimos esse nível agora.

Aquele show foi importante por mostrá-los ao vivo para os Estados Unidos depois do fim do Nirvana. Consegue lembrar o que passava na sua cabeça?

Posso dizer que tudo daquele primeiro momento chega para mim como uma lembrança meio embaçada. Tudo, o primeiro disco e aquela turnê. Ficamos muito tempo na estrada, éramos jovens demais. Todas aquelas experiências, como o primeiro Reading Festival [na Inglaterra], o show no programa do Letterman, a nossa primeira van de turnê... Tudo era muito novo e enormemente excitante. Mas é como tentar se lembrar do primeiro ano na escola, sabe? Com todas aquelas novas experiências. Não consigo me recordar de muita coisa, somente que era incrível.

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Seu nome sempre está em listas do tipo “Os Caras Mais Legais do Rock”. Pensando no Dave Grohl adolescente, imagino que estar em uma lista dessas não passava pelas possibilidades que você enxergava para a sua vida.

Bom, eu não me acho o cara mais legal do rock [gargalha]. Sou muito sortudo de conseguir viver e fazer o que eu mais gosto. Eu amo todos os tipos de música e tenho a oportunidade de encontrar, conhecer e passar um tempo com músicos. Eles são como eu, são como a minha tribo. Se eu não tivesse tocando, não sei o que faria. Não terminei o colégio, sempre trabalhei em coisas como construção civil, umas porras de pizzarias, lojas de móveis. Eu era só um jovem norte-americano comum. Quando o Nirvana se tornou popular, de repente, a minha vida mudou. Tive a liberdade de seguir todos esses sonhos. Hoje eu posso fazer música, posso viajar o mundo. A música definitivamente preencheu a minha alma nos últimos 25 anos. Tem havido altos e baixos, mas tem sido uma ótima experiência de vida. Quando eu converso com jornalistas, fãs, pessoas na rua ou presidentes, tenho a oportunidade de conhecê-los de ser humano para ser humano. Acho que todo mundo deveria se tratar com delicadeza e compaixão. Seja um fã, seja um empresário em um avião. Não importa para mim. Pessoas são pessoas e eu sempre gostei de conhecer e encontrar gente diferente. Esse é o maior luxo da minha vida.

É até reconfortante pensar que você não é um santo, ou coisa do gênero?

Sim, tudo gira em torno das pessoas. Em um show do Foo Fighters, mesmo, nós pensamos no público como um sexto elemento da banda. Quando tocamos o refrão de “My Hero”, queremos que você cante o refrão de “My Hero”. Quando tocamos o refrão de “Walk”, queremos que você cante o refrão de “Walk”.

Você disse, certa vez, que estar em uma banda com Kurt Cobain fez com que aprendesse mais sobre composição e música do que imaginou que poderia aprender. Qual tipo de coisa você guarda daqueles tempos para compor?

O melhor de sempre tocar com pessoas diferentes é que quando se está tocando, você muda o que você faz para se adaptar à música do outro. Então, quando toco com John Paul Jones, é diferente de quando eu tocava com o Nirvana, ou com o Queens oft he Stone Age. Então, ao longo da vida, os músicos com quem você toca se tornam parte de você também. Todos aprendem uns com os outros. Naquele tempo com o Nirvana eu aprendi muito. Eu era somente um garoto, estava aprendendo sobre a vida. Foi uma experiência incrível. Eu aprendi a sobreviver. Aprendi a me apresentar ao vivo. Aprendi a compor. Aprendi tanto. Essa é uma das vantagens de se tocar com tanta gente.

Eu não sei se você conhece o site Setlist.fm, mas lá está registrado que “Everlong” é a música mais tocada na história dos shows do Foo Fighters. E é uma faixa do segundo álbum, ou seja, foi lançada em 1997. Provavelmente vocês tocaram essa música em todas as apresentações da banda.

Sim, tocamos muito essa música. Sabe, ela se tornou uma espécie de hino da banda. Uma daquelas músicas mais reconhecíveis do Foo Fighters e, para nós, tem aquela sensação de encerramento, de fim de noite. Quando tocamos “Everlong” estamos querendo fazer nossa despedida e dizer que nos veremos de novo em breve.

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