Uma linha do tempo que mostra a transformação do gênero desde os anos 1950, até o novo vigor com a chegada do século 21
Pedro Antunes Publicado em 13/07/2019, às 14h00
Elvis Presley foi o rei - ainda é? Depois vieram Beatles, do iê-iê-iê à psicodelia. Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, o sonho começou e chegou ao fim. Veio o peso do heavy metal, com Black Sabbath, surgiu o Metallica, o punk surgia das sarjetas de Nova York e chegava à Inglaterra. O Queen criou uma identidade própria e se consagrou quando o rock se uniu no Live Aid, evento criado para levar atenção do mundo à fome na África.
Cada transformação do rock reflete de uma sociedade sempre mutante. Das guerras aos períodos de paz, tensões raciais, à pobreza, o desemprego, a falta de esperança adolescente. Há quase 70 anos é assim. E possivelmente, nas próximas sete décadas também, mesmo que vez ou outra alguém teime em dizer que o rock morreu.
Reunimos aqui os 24 momentos que transformaram o rock e a forma como a humanidade ouvia esse som sempre carregado, elétrico, dançante ou reflexivo. Vamos?
Talvez o rock não precisasse de um rei, mas eram os anos 1950, os Estados Unidos via o som elétrico chegado e Elvis Presley era tudo o que a sociedade conservadora da época aceitava. Galã, penteado certo, dono de um requebrado próprio e boa voz. Elvis emendou um hit atrás do outro entre 1956 e 1957, como “Heartbreak Hotel”, “Hound Dog” e “Don’t Be Cruel”, e foi coroado e transformado no arquétipo de como qualquer artista do rock deveria se comportar.
Ainda antes de se tornar um fenômeno mundial no início daquele década de 1960, o quarteto vindo de Liverpool representou o sentimento de euforia que a juventude norte-americana precisava. Em novembro de 1963, John F. Kennedy havia sido assassinado e luto durou até janeiro do ano seguinte, quando John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr desembarcaram nos Estados Unidos. Depois que "I Want Hold Your Hand" chegou ao topo das paradas, ninguém mais seria capaz de deter os Beatles e a nova Beatlemania.
É interessante pensar que Bob Dylan era um grande fã de rock na adolescência. Na adolescência, ele foi seduzido, por assim dizer, pelo folk político e panfletário que fazia a cabeça dos jovens que não curtiam o iê-iê-iê dos Beatles. Dylan se tornara o grande nome desse folk na briga contra o pop comercial. Incomodado com isso, o bardo fez o que ninguém imaginava. Em 25 de julho de 1965, ele eletrificou o folk acompanhado pela Paul Butterfield Blues Band em um festival deliberadamente dedicado à música folk em Newport. Os puristas se sentiram traídos, mas Dylan se agigantou ainda mais.
Os Rolling Stones ainda estavam longe da aclamação que viria nos próximos anos, mas, em 1965, os devassos Keith Richards e Mick Jagger criaram um dos seus primeiros e maiores hinos. Keith Richards acordou com um riff na cabeça, mostrou para Jagger e pronto. Estava criada "(I Can't Get No) Satisfaction, uma ode à insatisfação que tantos jovens sentiam, com transgressão e rebeldia.
Os Beach Boys eram os maiores nomes da surf music, definitivamente. Tinham um bom punhado de canções good vibes, “Surf in’ U.S.A.”, “I Get Around” e “California Girls”, que traziam aquele frescor de brisa marinha, sol, praia e carros potentes. Brian Wilson, líder e compositor do grupo, sofreu um ataque nervoso, parou de excursionar com a banda e passou a escrever sobre ansiedade e carência - embora tivesse acabado de se casar. Tudo isso se tornou Pet Sounds, um dos maiores e mais influentes discos de todos os tempos, de 1966.
Wilson, inspirado pelos Beatles para criar Pet Sounds, acabou influenciando os garotos de Liverpool a fazer Revolver, lançado naquele mesmo ano.
A verdade é que o Velvet Underground talvez tenha criado, sem querer, o termo "indie raiz". Porque possivelmente apenas uma centena de pessoas deve ter ouvido o álbum Velvet Underground & Nico, lançado em 1967, com a famosa ilustração de banana de Andy Warhol estampada na capa.
Era um álbum sobre perversões, vício em drogas, com o submundo de Nova York, em um momento no qual a euforia ainda tomava conta da música mainstream. Ninguém ouviu na época, mas o grupo de Lou Reed, por fim, se tornou uma das principais referências daquilo que viria a ser chamado de rock alternativo.
Quando surgiram, nem mesmo os Beatles imaginavam até onde eles poderiam chegar. Saíram do pop pós-adolescente do início da década e, na segunda metade dos anos 1960 eles beiraram a genialidade, com álbuns como Rubber Soul (1965) e Revolver (1966). Ninguém poderia esperar - nem eles, de certo - que a seguir viria Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, lançado em 1º de junho de 1967. Com altas doses de lisergia e cores, o disco se aproximava dos acontecimentos sociais, políticos e culturais do Verão do Amor.
Talvez o gênero de ópera rock não seja tão popular nos dias de hoje, mas naquele ano de 1969, o rock havia se tornado um gênero cada vez mais estilizado e poderoso. Deixou de ser um instrumento de dança, depois de rebeldia e, posteriormente, voz política. O gênero se aprimorava em harmonias e narrativas. Embora os britânicos The Pretty Things já tivessem criado uma ópera rock em 1968, com S.F. Sorrow, o The Who levou esse sub-gênero para outro lugar, com Tommy, no ano seguinte. Pete Townshend criou uma genial narrativa espiritual sobre um garoto cego, surdo e mudo que se tornara campeão de fliperama.
O rock chegava à idade adulta, por assim dizer, pela primeira vez, sendo apresentado em casas de ópera.
Toda a euforia do rock desde a sua criação, nos anos 1950, chegou ao auge com o festival Woodstock. O Monterey Pop Festival abriu as portas para os mega-festivais, mas ninguém esperava que 500 mil pessoas poderiam se reunir, de forma harmônica, pelos campos da cidade de Woodstock, nos Estados Unidos.
Nem mesmo a lama, a chuva e a comida escassa foi capaz de tirar frear os ânimos do público. Foram apresentações icônicas ali, de gente como Santana, Jimi Hendrix (que entrou no palco na manhã do dia 18), Crosby, Stills, Nash & Young, Joe Cocker, Joan Baez, Janis Joplin, Sly & the Family Stone e The Who.
Assim como Woodstock se tornou, historicamente, o momento máximo da força da contracultura e do rock, pouco depois, ainda em 1969, o sonho começou a ruir com a tragédia no Festival de Altamont.
Os Rolling Stones estavam em alta e, depois de uma bem-sucedida turnê pelos Estados Unidos, decidiram fazer um show gratuito em Altamont Speedway, na Califórnia, no dia 6 de dezembro.
Mas deu tudo errado, a celebração se tornou um pesadelo e Meredith Hunter, um jovem negro de 19 anos, acabou assassinado pelos Hells Angels, clipe de motoqueiros que faziam "a segurança" do show a poucos metros do palco dos Stones. Era o fim da utopia.
Acho que vocês já perceberam que o rock opera em ciclos, de momentos de euforia à melancolia. Pois com o fim da utopia dos anos 1960, veio a desesperança. Da cidadezinha de Birmingham vinha um rock mais pesado do que grupos como Deep Purple e Steppenwolf já haviam sinalizado.
Ninguém chegou perto das sombras que o disco Black Sabbath, o primeiro da banda de mesmo nome, foi capaz de fazer. Os riffs de Tony Iommi eram sinistros, os vocais de Ozzy Osbourne, assustadores. Surgia o heavy metal.
O rock psicodélico visto no final dos anos 1960 evolui para outra frente. Enquanto o heavy metal era o contraponto de tudo aquilo que a lisergia pregava, o rock progressivo era seu passo adiante.
Pink Floyd e Moody Blues já lançavam discos ainda na segunda metade da década de 1960, mas o início da década seguinte trouxe uma inundação e novas bandas do sub-gênero, com bandas como Emerson, Lake & Palmer, Yes e Genesis vivendo momentos de ápice criativo.
John Lennon havia dito que o sonho havia acabado. E, de fato, aquele acabou. Mas depois do luto, aos poucos, o rock se reencontrava. David Bowie tentou desesperadamente fazer sucesso nos anos 1960, iniciando uma carreira no folk. Mas embora "Space Oddity" tenha sido um marco, ele se transformou, de fato, em um herói do gênero quando colocou maquiagem, pintou o cabelo de laranja e criou o personagem Ziggy Stardust, em 1972.
Foi um estouro, Bowie se tornou uma estrela mundial e, um ano depois, matou Ziggy, o alienígena roqueiro de sexualidade indefinida. O rock conheceu a purpurina, a maquiagem e o caráter teatral das apresentações. Kiss, New York Dolls e até Alice Cooper se inspiraram a partir de Ziggy.
Eles tinham a pegada pesada, mas não eram sombrios como o Black Sabbath. O Led Zeppelin foi criado a partir das cinzas do supergrupo Yardbirds para ganhar o mundo, com o guitarrista Jimmy Page e o empresário Peter Grant.
Criticados no início, os Zeppelin seguiram lançando discos poderosos até o álbum Led Zeppelin IV, em 1971, que trazia "Stairway to Heaven", "Rock and Roll" e "Black Dog", todos clássicos. O disco seguinte, Houses of the Holy, de 1973, criou ainda mais expectativa sobre a nova turnê dos britânicos pelos Estados Unidos.
Todos os ingressos daquela tour foram vendidos em menos de quatro horas, um feito inimaginável. O rock tinha novos deuses. E era o quarteto que formava o Zeppelin.
A movimentação musical criada por Velvet Underground na cena underground de Nova York fomentou outras bandas a surgirem por ali. Eram jovens desempregados, alguns até de famílias ricas, que juntavam alguns trocos para beber e vadiar pelas ruas de lower Manhattan.
Aconteceu entre julho e agosto de 1975 um evento chamado Festival of New York’s Top 40 Unrecorded Rock and Roll Bands, cujo título já é bastante autoexplicativo, em uma casa de shows conhecida como CBGB, em Nova York. Ali tocaram Blondie, Talking Heads, Television e Ramones. Todos se conheciam das noitadas e criavam uma cena efervescente. O punk e a new wave estavam prontos para ganhar a América.
O Queen tinha relativa força em 1975. Em 1975, eles mostraram que dominavam o jogo do rock, muito além do caráter musical. A espetacular canção "Bohemian Rhapsody" também ganhou um videoclipe que se mostrava anos-luz a frente do resto da produção capenga de vídeos de rock até então.
Dirigido por Bruce Gowers, o vídeo mostrou Freddie Mercury e o restante do Queen para o mundo e foi fundamental para que a música seja, até hoje, uma das mais populares da história do rock. Depois disso, vídeo e música se tornaram parceiros inseparáveis.
O punk havia "pegado" Nova York de jeito. E o empresário, artista visual e agitador Malcolm McLaren percebeu ali uma oportunidade de negócio e tanto.
Porque o punk vinha na contramão do glam rock espalhafatoso da época, na segunda metade dos anos 1970. McLaren reuniu jovens que pregavam essa anarquia de ideais sob o nome de Sex Pistols.
A sociedade inglesa, conservadoríssima, ficou horrorizada, enquanto os jovens filhos da classe trabalhadora viram nos Pistols a transformação das suas angústias em música. Em 1977, foi lançado o single "God Save the Queen", um título debochado para uma canção que chamava a rainha Elizabeth II de fascista.
O punk apresentou o formato de carreira do "faça você mesmo" que, aos poucos, chegou aos jovens que não estavam necessariamente interessados no som cru e em colocar suas vísceras para fora em forma de canção.
Era possível ser independente, sem se curvar às forças das gravadoras, sim. E o surgimento do R.E.M., om o single "Radio Free Europe", lançado em julho de 1981, mostrava como esse esquema independente poderia funcionar.
Esse não é um momento crucial só para o rock, mas, sim, para a música de forma geral. A Music Television estreou em 1º de agosto de 1981 e mudou a forma como a música deveria se relacionar com o público. O Queen já havia mostrado a importância do videoclipe, e a MTV foi responsável por levar esses vídeos para o mundo todo.
De novo, o rock vive em ciclos e em forças opostas. O heavy metal estava melódico, com artistas com vocais agudos que se aproximavam dos cantores de ópera, portanto, o Metallica chegou para acelerar e poluir as coisas um pouco.
Não foram os desbravadores do thrash metal, porque grupos como Slayer e Anthrax já traziam essa pegada de speed metal, mas a repercussão do disco Kill 'Em All, de 1983, não havia acontecido com os antecessores.
O ano de 1985 marcou um retorno do rock às questões mundanas, digamos assim, mas não necessariamente nas suas letras. Diversos artistas do pop se juntaram para cantar o single beneficente "We Are The World" e, em julho daquele ano, o cantor Bob Geldolf estreou o Live Aid, um concerto realizado em duas apresentações simultaneamente, na Inglaterra (No Estádio de Wembley, em Londres) e nos Estados Unidos (no Estádio John F. Kenney, na Filadélfia). Toda a renda dos dois eventos era destinada à população da África.
Embora tenha apresentado shows espetaculares, o Live Aid também ficou marcado pela performance do Queen, agora eternizada pelo filme Bohemian Rhapsody.
O glam de Bowie havia se transformado, o hard rock absorveu as influências do heavy metal e, de repente, estávamos diante do hair rock e do hair metal. A MTV já mostrava sua força e os roqueiros cabeludos, loiros e boa aparência ganhavam rotação na emissora.
Nenhum deles foi tão poderoso quanto Axl Rose e o Guns N' Roses. Ao lado de Slash, Axl estabeleceu um novo padrão de roqueiro encrenqueiro. O disco Appetite for Destruction foi lançado em 21 de julho de 1987, o rock ganhou dois icônicos bad boys e voltou a ter a atenção da garotada.
Na contramão de tudo o que as cabeleiras de Axl Rose e o Guns N' Roses pregava estava o jovem tímido e angustiado Kurt Cobain. Inspirado pela barulheira de Black Sabbath e Melvins, Kurt e Nirvana surgiam como uma força alternativa aos bad boys que estavam sempre na MTV.
O Nirvana era mais cru, mais profundo, e pegou a molecada de jeito. Com o disco Bleach, de 1989, o grupo fez um relativo sucesso, mas ninguém poderia esperar o estrondo que foi o disco seguinte do grupo, já com Dave Grohl nas baquetas. Nevermind e o single "Smells Like Teen Spirit" bagunçaram o jogo, porque Kurt e companhia eram anti-comerciais, conseguindo rios de dinheiro.
A velocidade com a qual Julian Casablancas e o The Strokes surgiu e foram coroados foi assustadora. A era da internet havia chegado ao rock. Todos queriam saber qual seria apróxima grande banda e Casablancas era esse vocalista desleixado e perfeito para o papel.
Os Strokes bebiam da fonte do Velvet Underground e do punk que veio depois. Usavam do "faça você mesmo" do R.E.M. e desprezavam as instituições, tal qual o Nirvana.
De Nova York, os Strokes foram primeiro celebrados do outro lado do oceano, na Inglaterra, graças à globalização da informação graças ao ambiente da web.
O quinteto realmente impulsionou uma nova onda no rock, se tornando referência para outras bandas importantes para o rock do novo milênio, como Arctic Monkeys e The Libertines.
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