Bethe Correia, lutadora brasileira do UFC - Jeff Chiu/AP

De contadora a lutadora do UFC: Bethe Correia, a brasileira que desafiará Ronda Rousey

Emergente lutadora paraibana enfrenta neste sábado, 1°, a mais temida atleta do MMA

Lucas Borges Publicado em 30/07/2015, às 15h31 - Atualizado às 16h27

No próximo sábado, dia 1°, no Rio de Janeiro, uma brasileira terá a inédita oportunidade para o país de disputar o cinturão do UFC. A adversária e atual campeã do peso galo feminino é a temida Ronda Rousey.

Como Ronda Rousey, depois de morar no próprio carro, se tornou a força número 1 do MMA.

Onze lutadoras já tentaram derrubar a norte-americana de 28 anos, desde os 11 atleta de judô, modalidade pela qual foi medalhista de bronze na Olimpíada de Pequim, em 2008. Nenhuma conseguiu e oito delas foram derrotadas ainda no primeiro round. Bethe Correia, até quatro anos atrás uma recém-formada contadora que nunca havia assistido a MMA, será a aproxima desafiante.

“Isso é muito natural, todas as minhas adversárias começaram antes de mim, nasceram em cima de um tatame. Sempre fui tida como a zebra, ninguém nunca acreditou em mim, achavam que eu era uma louca de lutar com essas meninas. Mas a cada dia que passa calo a boca de mais gente e provo que tempo não é sinônimo de qualidade. Você pode treinar dez anos e eu treinar um mês e vou evoluir mais”, garante a brasileira.

O jeitinho brasileiro foi essencial no processo de transição do Vale-Tudo para o MMA.

Hoje aos 32 anos, nascida em Campina Grande, Paraíba, e radicada em Natal, Rio Grande do Norte, Bethe decidiu aprender kung-fu no final de 2011 para preservar a boa forma. Gostou tanto que em poucos meses já estava treinando MMA e em maio de 2012 estreou em um campeonato amador.

A troca da estável vida de casada pelos ringues não deixou o entorno da paraibana satisfeito. “No início, teve uma rebeldia muito grande por parte da minha família. Era casada e tive muitos conflitos por essa decisão com meu ex-marido. Ele estava com uma mulher e me tornei outra. Tinha uma vida normal, trabalhar em casa e tal e precisei optar por uma vida de atleta que é completamente diferente de todos os planos que a gente tinha. Eu entendo, não guardo mágoa por isso. Mas eu estava certa e todos, errados. Quando me deparei com o MMA, tudo se encaixou. Foi como um chamado. Já nasci lutadora, mas demorei para descobrir”.

Edição 69: A Dança Solitária de Anderson Silva.

Bethe trocou o rótulo de aventureira pelo de “nordestina ‘casca grossa’”, ela mesma define. O rito de passagem foi a luta pelo Jungle Fight, mais popular evento de MMA do Brasil, no início de 2013, contra Érica Paz, campeã mundial e pentacampeã brasileira de jiu-jitsu.

A azarã venceu e no final do mesmo ano recebeu uma chance de competir no UFC, ganhando também as três lutas seguintes. Seu cartel é de oito lutas e oito vitórias. “Sou chamada de fenômeno do MMA, um caso raro, exceção mesmo. Ninguém consegue ter uma evolução dentro de um esporte em um curso tão pequeno”, gaba-se ela.

Para superar Ronda, a brasileira diz ter treinado durante os últimos quatro meses, de segunda a sábado, cinco horas por dia e, garante, evoluiu muito. “[A estratégia] É mão na cara mesmo, é impor meu jogo, tentar o nocaute. Ser a Beth Correia, mas dez vezes mais evoluída”, diz.

Assista ao making of da sessão de fotos com Anderson Silva.

Bethe confia que pode se tornar uma nova heroína do esporte nacional, uma espécie de Anderson Silva. O “Spider”, aliás, é treinado pelo noivo dela, e costuma dar conselhos à emergente atleta. No sábado, ela prevê, o Rio assistirá ao duelo entre uma intocável estrela dos Estados Unidos e uma brava guerreira do mundo sub-desenvolvido. E o resultado será surpreendente.

“O Brasil é muito carente, por isso vejo brasileiros torcendo para a Ronda. Mas isso não me magoa porque estamos acostumados a não ter heróis aqui, nossos heróis são americanos. Somos um país tão de baixa renda, não temos a tecnologia dos Estados Unidos, a estrutura financeira, o apoio do governo. Mesmo assim, formamos campeões de MMA. Nada me intimida. Eu venho da resistência, a Ronda e ninguém desse país aí sabe o que a gente passa aqui, eles não entendem. Está na hora de surgir uma campeã brasileira que quebre essa imagem da heroína americana imbatível”.

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