Do soul ao brega ou do funk ao rap, elas lutam pela liberdade de existência e de expressão no país que mais mata transexuais no mundo
Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 09/11/2019, às 13h00
Por muito tempo, artistas LGBTQIA+ foram silenciados por uma sociedade regida pela heteronormatividade e cisnormatividade, ou seja, a ideia de que pessoas heterossexuais e cisgêneras são o padrão, que deve ser seguido.
Contudo, esse cenário começou a mudar nos últimos anos e uma onda de artistas conquistou um espaço na cultura até então negado a eles. Segundo o G1, o ano de 2017 foi atingido pelo “efeito Pabllo Vittar” após a drag queen ganhar destaque nacional, desde as rádios até as publicidades de refrigerantes na televisão.
O resultado foi a ascensão das carreiras de performers como Aretuza Lovi, Gloria Groove e Lia Clark. Agora, o legado delas abre o caminho para uma nova geração de cantoras LGBTQIA+, desta vez, predominantemente transexuais ou travestis.
Do soul ao brega ou do funk ao rap, elas lutam pela liberdade de existência e de expressão no país que mais mata transexuais no mundo, segundo os dados da ONG Transgender Europe, de 2018.
A crescente necessidade de representatividade na música deu origem ao Trava Bizness, o primeiro selo musical focado em transexuais do Brasil, que oferece uma oportunidade para essas novas vozes construírem uma carreira.
Inspirada na luta dessas artistas, separei 9 cantoras transexuais e travestis para você conhecer e apoiar a partir de hoje:
Alice Guél estreou no mundo da música com "Deus é Travesti", que compõe o EP Alice no País que Mais Mata Travesti, produzido pela TravaBizness e lançado em 2017. No single, a artista cria uma reza própria e pede que "seja feita a vontade das vad**s, aqui na terra ou em qualquer esquina".
Inspirada em histórias reais de mulheres pretas, travestis e transexuais, a rapper denuncia a agressão cotidiana e transmite uma mensagem de união para as mulheres que lutam pela liberdade de expressão e existência.
No começo da carreira, Danna Lisboa ganhou destaque na mídia ao participar como dançarina do clipe "Tombei", de Karol Conká. Hoje, a artista já possui 2 discos, 7 singles e quase 1 milhão de visualizações no Youtube. Nas músicas, Danna transita entre diversos estilos musicais e como ela mesma diz na música "Censura": "Uma musa do rap ao pop".
Os principais destaques da carreira da cantora são "Sanguinetto" e "Quebradeira", uma colaboração com Gloria Groove, lançada em 2017. A artista ainda conta com um no currículo, Cidade Neon, com o qual recebeu o prêmio de Melhor Atuação no Festival Film Works.
Com letras ousadas e explícitas, Danny Bond se joga no brega funk e nas coreografias, como no clipe "Tiroteio das Travas", lançado em junho deste ano, o qual conta com mais de 500 mil visualizações. O principal trabalho da artista é o disco Epica, também lançado em 2019.
A cantora alagoana já conquistou elogios de artistas consagrados, como Mateus Carrilho e Pabllo Vittar, que este ano convidou a artista para participar do Bloco da Pablo, no carnaval de rua de São Paulo.
A trajetória musical de Jup do Bairro se concentra em "Corpo Sem Juízo", trabalho lançado em junho de 2019, com uma poesia impecável. Em 7 minutos e 21 segundos, a rapper constrói uma narrativa sensível sobre a violência contra a comunidade LGBTQIA+.
Jup arrecadou dinheiro através de uma plataforma de uma financiamento coletivo e produziu a faixa ao lado da produtora BadSista. A música traz trechos dos textos da escritora Conceição Evaristo e a fala de Matheusa, uma estudante não-binária que foi morta no Rio de Janeiro em 2018.
Aos 23 anos, Liniker já é um dos grandes nomes da cultura LGBTQIA+. Em 2015, ela e os futuros Caramelows se juntaram na casa de um dos integrantes e gravaram em dois dias as faixas “Zero”, “Louise du Brésil” e “Caeu”, que viralizaram na internet e hoje somam mais de 35 milhões de visualizações no Youtube.
A voz rouca e letras romântica da artista deram vida a dois álbuns de soul e black music: Remonta, de 2016, e Goela Abaixo, lançado este ano. A banda realizou diversos shows por todo o Brasil, com destaque para o Lollapalooza e Rock in Rio, e alguns outros na América do Norte, África e Europa.
Outro nome de conhecido na mídia é Linn da Quebrada. A cantora paulistana ganhou repercussão com o primeiro disco da carreira, Pajubá, lançado em 2017. No mesmo ano, ela foi uma das convidadas especiais no programa Amor&Sexo. Atualmente, a artista atua na série Segunda Chamada, exibida no Globoplay.
Recentemente, a cantora deixou para trás o tom agitado e as letras agressivas para abraçar uma nova fase mais reflexiva e sentimental em "Oração". A faixa reúne um coral formado apenas pelas mulheres trans: Alice Guél, Ana Giza, Ceci Dellacroix, Danna Lisboa, Kiara Felippe, Magô Tonhon, Maria Clara Araújo, Neon Cunha, Rainha Favelada, Urias, Ventura Profana e Verónica Valenttino.
Após ser rejeitada pela família, amigos e até mesmo pelo mercado de trabalho, Mc Dellacroix começou a carreira como rapper, em 2017. No ano seguinte, a artista lançou o “Video-manifesto 001” e foi tema de um dos episódios da série de documentários sobre mulheres, #bethechallenge, no canal do Youtube da plataforma M de Mulher.
Em “Quebrada”, a rapper mistura o funk com beats de hip hop e declara: “Arte me move apenas pra entender / Seguir, viver / De um mundo que não sabe o que eu quero ser / Existir, resistir”.
Rosa Luz tem apenas 23 anos, mas já possui uma trajetória de destaque no ativismo. Em 2016, ela criou um canal no Youtube para debater assuntos como a sexualidade e a vida cotidiana. A boa repercussão resultou no convite para participar do documentário Chega de Fiu Fiu, dirigido por Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão, do coletivo Think Olga.
Já na música, a rapper iniciou a carreira com o EP, Rosa Maria, Codinome Rosa Luz, em 2017. Recentemente, ela lançou o disco Rosa Luz no Estúdio Showlivre, composto por músicas inéditas e faixas antigas, como “Rosa Maria Codinome Rosa Luz”.
Depois de deixar o cargo de assistente pessoal da amiga inseparável Pabllo Vittar, Urias iniciou oficialmente a carreira musical com o single “Diaba”, presente no EP visual que leva o nome da cantora. Lançado este ano, o projeto conta com participações de artistas como Gorky, Maffalda e Pablo Bispo.
O ritmo pop e eletrônico acompanha os versos da rapper no primeiro single em que declara: “Sua lei me tornou ilegal / Me chamaram de suja, louca e sem moral / Vão ter que me engolir por bem ou por mal / Agora que eu atingi escala mundial. Em entrevista ao PapelPop, a artista disse que esta é a faixa favorita dela, pois é assim que as pessoas a entendem ‘de primeira, antes de pensar em dançar’.
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