As produções voltadas para o público jovem tentam cada vez mais retratar as diferentes dimensões das relações sexuais modernas
Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 25/01/2020, às 13h00
Fotos, frases e memes de Sex Education tomaram as redes sociais após o lançamento da segunda temporada na Netflix, na última sexta-feira, 17. E a empolgação é totalmente compreensível, afinal, a série consegue abordar temas como maturbação, sexo oral e DST de um jeito leve e, como o próprio nome diz, didático.
Durante os últimos anos, o sexo se tornou um tema cada vez mais explícito não só nos seriados, mas em toda a cultura pop. Contudo, diversos estudos indicam que os jovens da Geração Z, Young Millennials, iGeneration, enfim, todos aqueles que foram adolescentes no final dos anos 1990 ou durante os anos 2000, são os que menos transam.
De acordo com o pesquisador Kaye Wellings, os Millennials fazem sexo, em média, entre 4,8 (mulheres) e 4,9 vezes (homens) por mês, enquanto os jovens da década passada faziam, em média, entre 6,2 (mulheres) e 6,3 (homens) vezes por mês.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças também chegou em um resultado parecido e apontou que a taxa de alunos norte-americanos que já fizeram sexo caiu em 12,9% entre 1991 e 2015. A Universidade Atlântica da Flórida ainda concluiu que a única geração que teve menos relações íntimas do que os Millennials foram os nascido na década de 1920.
Se por um lado os jovens não transam, por outro, adoram falar sobre sexo. Nunca se teve tanta liberdade para fazer perguntas, mandar nudes, usar itens de sadomasoquismo como acessórios de moda e relevar em uma publicação do Twitter se você é submisso ou dominador - ou até mesmo utilizar aplicativos como Tinder, Happn e Grindr.
Por isso, fiz uma linha do tempo para entender como a minha geração - e talvez a sua também - foi retratada nas séries a partir dos anos 2000 e como cada uma delas reflete uma dimensão da vida sexual dos jovens.
No começo, era apenas sexo, drogas e qualquer música que inflasse mais os hormônios. Os adolescentes da primeira década do novo milênio tinham o espírito de rebeldia e a curiosidade por atividades sexuais parecidas com o das gerações anteriores, um pouco mais sujo e banal.
Em 2007, estreou Skins. Com um elenco promissor, formado por Nicholas Hoult, Kaya Scodelario, Dev Patel, Joe Dempsie e Hannah Murray, a série ganhou destaque entre os jovens excitados por verem qualquer coisa que arrancasse alguma crítica dos mais conservadores.
Festas descontroladas, casas destruídas, brigas, drogas de todos os tipos, e claro, sexo. No seriado, os jovens transavam porque era insuportável ser virgem e acumular todo aquele tesão púbere no corpo.
Mas, nesta época, o sexo ainda não era só sexo. Ele representava um laço emocional, por isso, Sid enfrenta o maior dilema da vida dele quando tenta perder a virgindade, da mesma forma que a segunda geração inteira gira em torno das relações entre Effy, Cook e Freddie.
Na verdade, Skins não mostrava a realidade, mas a representação dos desejos destrutivos e carnais dos jovens por meio de personagens que buscavam explorar a vida da própria maneira.
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E apenas uma década mais tarde, o mundo das séries adolescentes voltaria a se animar com uma nova produção. Em 2017, a websérie norueguesa Skam ganhou destaque mundial e foi nomeada com o "novo Skins".
Mas o título foi equivocado, pois a produção apresentou jovens com o desejos muito mais simples e dramas fáceis de se identificar, como a vontade de Eva de terminar o relacionamento para ganhar independência e fazer amigas.
Além disso, o seriado apresentou personagens singulares como Sana, uma jovem muçulmana que vê problemas em cumprir os rituais da religião como Anwar, de Skins. Ao contrário disso, Sana quebra qualquer estereótipo sobre as mulheres muçulmanas e a escolha de perder a virgindade após o casamento.
No universo de Skam, a homofobia é inaceitável, o feminismo indispensável e os triângulos amorosos não destruem mais amizades. E o sexo é o ápice da intimidade, segurança e conforto.
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Nos anos 2010, a indústria audiovisual se empolga com a liberdade sexual dos jovens, produz diversas séries voltadas para o público adolescente e explora novas dimensões. A Netflix lança, então, The End Of The Fucking World.
Sem o compromisso de representar com fidelidade as relações joviais como Skam, TEOTFW está mais interessada em mostrar como o existencialismo afeta as relações de jovens que não conseguem pensar por muito tempo no futuro e tentam se livrar do tédio com aventuras bizarras.
Alyssa tem o desejo de perder a virgindade e decide fazer isso com o primeiro cara que conhece, sem precisar lidar com nenhum tipo de envolvimento emocional. Contudo, ela e o repentino namorado, James - que jura ser um psicopata -, percebem que os sentimentos são inevitáveis.
Ao longo das duas temporadas da série, os protagonistas não transam uma vez. A descoberta do sexo dá lugar à descoberta do amor e a distorção dessa forma de afeição por traumas de abuso sexual ou até mesmo educação familiar.
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Em 2018, a Netflix lança a série espanhola Elite com cenas quase explícitas de sexo e uma narrativa tensa sobre o assassinato e o desaparecimento de alunos de um dos colégios particulares mais prestigiados do país.
O excesso de luxo e o futuro garantido levam os personagens a se jogarem em aventuras eróticas, que vão desde sexo no banheiro da escola até um elaborado plano para realizar um ménage à trois. Temos, então, a retomada da busca pelo prazer no corpo alheio.
Meses mais tarde, uma nova série favorita surge. Estrelada por Zendaya, Euphoria conquistou rapidamente o público e atendeu as expectativas daqueles que esperavam por um grande impacto.
Como Skins, a produção da HBO chama atenção pelos exageros. Porém, desta vez, o retrato das inúmeras transas parecem mais reais. Nós podemos fazer menos sexo, mas, certamente conhecemos ou já ouvimos falar de alguém que transou por vingança, se tornou uma cam girl ou se relacionou com homens bem mais velhos - e até mesmo casados.
Além disso, a série mostra como os relacionamentos podem ser afetados pelas doenças mentais, o abuso de drogas ou simplesmente a desconfiança em se envolver emocionalmente com alguém. Em Euphoria, ninguém pertence a ninguém e se apaixonar não significa necessariamente sexo ou namoro.
Enfim, chegamos a Sex Education. A série da Netflix vem para desconstruir tudo o que aprendemos sobre a transa bem feita, estética e pornográfica. Otis e Jean ensinam que o sexo é autoconhecimento e que não deve ser comparado com as experiências pessoais de outras pessoas.
A narrativa simples conquista o público com histórias hilárias que podem facilmente sair da boca de nossos amigos em uma roda de conversa. Em um mundo em que transar não é mais um ato de rebeldia ou serviço de satisfação para o parceiro, aprendemos que o sexo é um ato de prazer, amor próprio - e sem dúvidas - diversão.
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