Artista voltou à ativa depois de um ano distante das redes sociais com a gravação do projeto que dá nova forma ao disco Reconstrução; álbum será lançado em setembro de 2019
Pedro Antunes Publicado em 31/05/2019, às 07h54
Entre os 250 convidados posicionados redor da banda no centro e cercados por uma enorme quantidade de integrantes da equipe de produção nos fundos do estúdio localizado na zona oeste de São Paulo, dois deles dão as mãos ao ouvirem as primeiras notas. É uma cena linda, que diz muito sem que algo precise realmente ser dito, mas logo voltaremos a eles.
O mais importante é saber que, no centro do palco (e de frente para eles) está Tiago Iorc, o principal nome do pop de violão brasileiro, de volta após um ano de carreira em suspenso, enquanto preparava, às escondidas, um novo disco, chamado Reconstrução. Lançado no início de maio, o álbum chega um ano e cinco meses depois do artista anunciar uma pausa na carreira. Na noite desta quinta-feira, 30, ele gravava o Acústico MTV Tiago Iorc.
A última vez que Tiago Iorc subiu em um palco, oficialmente, foi em novembro de 2017, quando se apresentou no festival VillaMix, no Rio de Janeiro. Desde então, até essa madrugada adentro de 30 para 31 de maio, ele esteve em silêncio - não fez shows oficiais e sumiu das redes sociais.
Mas voltou com um disco de inéditas de surpresa e, agora, retornava aos palcos, com o especial Acústico MTV, cuja versão finalizada será lançada em setembro de 2019. E por um acaso no qual a sorte favorece o jornalista, ao meu lado estava o pai de Tiago Iorc, o patriarca do clã Iorczeski. Na minha frente estava a mãe dele, dona Marley.
Era a primeira música tocada na gravação, a segunda na ordem do Acústico MTV Tiago Iorc quando o álbum for lançado (vamos explicar mais tarde) e o pai e a mãe do músico davam as mãos. Havia cumplicidade no gesto, carinho. Tinha ali também um sentimento de que "nosso menino está de volta".
O gesto também mostra como aquele ano sabático distante dos holofotes, por mais estrategicamente perfeito em termos de mercado, também era um período para que Tiago Iorc pudesse se tratar, ou melhor, desintoxicar depois de dez anos tão intensos em uma carreira das mais brilhantes e bem-sucedidas que a música popular brasileira havia testemunhado.
"Dez anos que vivi. Dez anos que me viveram. Se foram: intensos como um piscar de olhos e efêmeros como a eternidade. Parece que foi ontem. Parece que foi tanto", escreveu ele em um post de Instagram, já apagado, para se despedir. Também não estipulava prazos para voltar.
Poderia ser um ano, dois, dez, no dia seguinte ou nunca mais. Tudo isso dá mais significado para aquele gesto dos seus pais.
O caçula da família voltou aos palcos em uma apresentação intimista, embora as pausas entre as músicas fosse maior do que uma apresentação normal. E o público, mais contido - não ouvi, por exemplo, nenhum grito de "tiago, me engravida", algo bastante recorrente nas apresentações dele antes da pausa. Ainda assim, não há previsão de retorno às turnês ou coisa parecida.
Desde que se despediu das redes e deixou a carreira em modo de espera, Tiago não tem dado prazo para grandes retornos (às turnês, por exemplo), muito concedido entrevistas para explicar o que aconteceu. Como o maior artista do País no seu segmento, ele também está numa posição na qual não precisa se sentir pressionado pelo mercado para se enquadrar - são poucos os músicos que estão nessa zona de "além-do-mercado".
Por isso, ele pode muito bem fazer o que quiser, mostrar a sua verdade, não pesar a vontade dos outros. O clima do seu Acústico MTV era de proximidade. Ele e seus músicos vestem roupas de cor quase indefinida (entre o cinza e o bege), a grande maioria com sandália nos pés.
Tiago Iorc parecia ser uma figura messiânica ao entrar no círculo formado pelo público convidado, de bata larga e um coque enorme e minimamente desajustado para segurar a enorme cabeleira. Tinha a barba por fazer, calçava um par de meias cinza e uma sandália de couro.
No palco, ele estava acompanhado de Jeremy Gustin (norte-americano, na bateria), Isaías Elpes (no baixo), Mateus Asato (no violão) e Roberto Pollo (integrante da atual formação do Legião Urbana, no piano).
Todos pareciam bastante próximos de Tiago e do seu círculo familiar. Elpes, posicionado de maneira mais próxima dos Iorczeski, todos sentados na primeira fileira, bem perto do baixista (com exceção do pai, ao meu lado, a segunda fileira), distribui beijos logo no intervalo entre as primeiras músicas. Ele era também constantemente o mais atendido pela produção do acústico, porque a cada música migrava do tchello para o baixo elétrico ou baixo acústico e precisava mudar sua banqueta sem perder a posição exata na câmera.
Já Mateus Asato, músico que já tocou com Bruno Mars, foi se apresentar para os Iorczeski. Abraçou primeiro a mãe, Marley, que fez questão de apresentar cada um dos filhos ao seu lado, e o marido que estaria sentado atrás dela, mas havia escapulido naquele momento para tomar uma água ou o que quer que fosse.
Parecia ser o encontro entre duas famílias.
Até por conta do intervalo maior entre as músicas, para que cada instrumento estivesse devidamente afinado, câmeras posicionadas e maquiagens em dia, Tiago Iorc pode mostrar um lado bastante conversador ali.
Brincou logo no início do show que ninguém poderia levantar para ir ao banheiro se quisesse (o que era uma verdade), mas também agradecia a cada música bem recebida. Também pediu desculpas por estar praticamente de com as costas voltadas para uma parcela do público que, por azar, foi posicionado para ficar no canto logo atrás dele.
"Estou muito feliz por estar de volta", ele disse ao microfone, logo de início, para quebrar a cerimônia.
O palco mostrava os músicos virados nas extremidades, virados para o centro. Um de frente para o outro, todos sobre tapetes que cobriam o chão. É um cenário recorrente para Tiago, que, na turnê de Zeski, disco de 2013, também se apresentava sobre um tapete, com o violão no colo. Naquela época, contudo, ele chegou a fazer esse show sozinho e vivia um momento diferente da carreira.
O cenário escolhido para decorar o estúdio tinha grandes pilares com recortes ao fundo, que mudavam de cor de acordo com a iluminação jogada ali. Em dado momento, quando foi cantar "A Vida Nunca Cansa", Tiago ficou quase escondido pelo breu, iluminado por um jato de luz atrás de si. Os pilares eram iluminados para parecer com vitrais de uma grande catedral.
Foi esse o momento mais denso da apresentação do Acústico MTV, mas a gravação do especial foi mais leve do que isso. As luzes eram muitas vezes quentes, com tons amarelos e vermelhos, enquanto os momentos de pausa eram indicados por uma iluminação majoritariamente azul em todo o estúdio.
Historicamente, o Acústico MTV não é só sobre uma banda a experimentar um novo formato desplugado. As escolhas das participações especiais costumam dizer muito sobre o artista que está ali.
No caso de Iorc, ele parece ter escolhido uma delas para representar o presente, a outra para significar a sua carreira e vida até ali.
No primeiro caso, veio Duda Beat, a artista de Pernambuco que reside no Rio de Janeiro e responsável por acrescentar suas dores de amor enfeitadas de brega pop no gosto do indie brasileiro - e em ascensão no cenário popular. Ela é o "hoje" do Acústico MTV do Tiago Iorc, como ele mesmo explica: "Tive a feliz alegria de ouvir esse sotaque gostoso. Duda Beat é uma cantora querida".
Ela entrou com vestido amarelo no alto, vermelho nos pés. Cantaram juntos "Tangerina", música do disco novo dele, Reconstrução. Fizeram a versão duas vezes e meia, porque o replay para garantir o registro foi interrompido quando a produção notou que a cantora não estava com o aparelho do retorno no ouvido esquerdo. A versão ficou ótima, até mais leve do que quando Tiago a gravou sozinho para o álbum.
Já Jorge Drexler, músico uruguaio, representa a parte "a vida inteira", como Iorc faz questão de dizer ao anunciar o novo convidado, tratado como "o músico favorito do mundo todo". Drexler, com um figurino mais sóbrio, com blazer cinza, se juntou a ele em "Me Tira Para Dançar" em versos adoravelmente cantados em português.
É possível ver o setlist completo no fim do texto, mas é importante destacar que Reconstrução, o tal "disco de retorno", é tocado quase na íntegra, mesmo que em ordem de músicas diferente daquela apresentada no álbum.
Os arranjos recriados para esse ambiente sonoro acústico também se beneficiam. Embora a pegada pop e eletrônica do disco seja interessante, o som desplugado parece fazer um carinho aliado à voz de Iorc. Tudo parece entrar em uma mesma sintonia.
Mas ele não se esqueceu dos hits também. Estão lá músicas como "Amei de Ver", "Coisa Linda", por exemplo, estão lá. De novidade, mesmo, foi o cover de "Bellyache", música da nova figura do pop mundial Billy Eilish.
A música escolhida para abrir o Acústico MTV Tiago Iorc foi "Desconstrução", faixa que também inicia o mais novo disco. Ela, contudo, foi gravada por último, quando já estávamos na primeira hora de sexta-feira, 31, por conta da logística necessária para registrá-la.
Ela é a única que tem Tiago em pé e foi registrada inteiramente em plano-sequência, por uma só câmera. E foi gravada três vezes, "para garantir".
Tiago Iorc também mostrou duas músicas inéditas. A primeira a vir foi "Lôra", música romântica daquelas na qual ele canta estar aos pés da amada. A mãe e a irmã mais velha trocam olhares suspeitos, inclusive, como também estivessem curiosas para saber afinal para quem seria a canção.
A outra é "Do Que Você Tem Medo?", mais política, pesada, com iluminação inteiramente vermelha. "Quem planta ódio escolhe o medo", ele canta, em dado momento. Em outro, cita "falsas notícias", em alusão às fake news, o que mostra que essa certamente é uma música feita em uma safra bastante recente.
A mãe de Tiago Iorc era uma atração além do palco. Enquanto o pai, ao meu lado, de pernas cruzadas, assistia à apresentação calado, vez ou outra movendo-se para enxergar melhor a performance de um determinado músico, Marley era passional.
Vibrou muito com a entrada do filho e da banda no início da performance, assim como manteve as palmas firmes ao final da gravação. Dançou quando tinha que dançar e chorou também.
A performance com Duda Beat, com a ótima "Tangerina", foi recebida com vibração por ambos, pai e mãe. Na primeira vez que Tiago e Drexler tocam "Me Tira Pra Dançar", ela dança animada.
Os pais de Tiago Iorc, na sequência, trocam olhares ao início de "A Vida Nunca Cansa". Ali, a mãe cai no choro e é acolhida pela filha e pela nora, que estão ao seu lado.
Na sequência, no momento mais íntimo da apresentação, Tiago Iorc emenda "Laços", com versos como "Gota de lágrima / Trovão que vem do mar / Revolução E a chance pra recomeçar", música que soa bastante pessoal, tendo em vista o momento de transformação pelo qual o artista passa desde que decidiu deixar a vida pública. A mãe, com ela, volta a levar o lencinho de papel aos olhos.
A última do show (na ordem será montado o vídeo) foi "Bilhetes". Também densa e particularmente pessoal, a música tem versos como: "Às vezes não tem outro jeito / O jeito é seguir / Lembrar que o que me fere / Também me faz sorrir / Escrevo em um bilhete / Ame tudo que puder / Seja o que for / Venha o que vier". Dessa vez, a mãe de Tiago Iorc se derrama e deixa a lágrima seguir seu curso e secar o rosto só depois da sua passagem.
Debochado ao se aproximar da família, ao final da apresentação, Tiago Iorc cumprimenta irmãos e irmãs, mas pula justamente a mãe. Marley olha pro filho, como quem também pedisse por um abraço, mas ouve: "Você eu já encontrei". Ele sorri, ela se desarma e ri junto.
O programa musical, exibido pela MTV Brasil, foi inspirado na série MTV Unplugged, criado em 1989 nos Estados Unidos, com grandes bandas e artistas se apresentam em versão acústica. Com o fim da gestão do canal pelo Grupo Abril em 2013, a emissora decidiu não produzir mais o programa. Agora com a Viacom, responsável pelos direitos da MTV Brasil, o projeto retorna às telinhas.
O Acústico MTV já contou com a presença de Gal Costa, Sandy e Junior, Marcelo D2, Capital Inicial, O Rappa, Rita Lee, Os Paralamas do Sucesso, Jorge Ben, Charlie Brown Jr. e Gilberto Gil.
O Acústico MTV Tiago Iorc, dessa vez, não terá formato físico. Terá o formato de vídeo (no YouTube) e áudio, disponível nas plataformas de streaming. O lançamento será em setembro, como foi anunciado ao final da gravação, mas a data ainda não foi revelada.
Veja o repertório do Acústico MTV Tiago Iorc:
1. "Desconstrução"
2. "Fuzuê"
3. "Mil Razões"
4. "Hoje Eu Lembrei do Teu Amor"
5. "Deitada Nessa Cama"
6. "Nessa Paz Eu Vou"
7. "Coisa LInda"
8. "Lôra" (música inédita)
9. "Tangerina" (com Duda Beat)
10. "Tua Caramassa"
11. "Do Que Você Tem Medo?" (inédita)
12. "A Vida Nunca Cansa"
13. "Laços"
14. "Bellyache" (da Billie Eilish)
15. "Um DIa Após o Outro"
16. "Me Tira Pra Dançar" (Com Jorge Drexler)
17. "Faz"
18. "Cataflor"
19. "Eu Amei Te Ver"
20. "Bilhetes"
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