Heróis do synthpop retornaram após 25 anos e entregaram um show que fez a espera valer a pena
PAULO CAVALCANTI Publicado em 28/03/2018, às 13h20 - Atualizado às 13h58
Depois de 24 anos sem vir ao Brasil, o Depeche Mode se apresentou novamente por aqui, fez uma apresentação única no Allianz Parque, em São Paulo, na noite da última terça, 27. Quando esteve por aqui pela última vez, em 1994, o grupo fez duas apresentações no extinto Olympia, em São Paulo. Desde então, muita aconteceu, mas a expectativa ainda era grande para esta apresentação da Global Spirit Tour. Foi uma noite especial para os inúmeros fãs da banda que redefiniu o pop e a música eletrônica nas décadas de 1980 e 1990, mas a noite quase começou com decepção. Choveu bastante em São Paulo à tarde e muitos previam que o tempo ruim iria estragar o show. Felizmente, antes de tudo começar, às 21h45, a chuva deu uma trégua e assim permaneceu até o fim do espetáculo.
Dave Gahan (vocais), Martin Gore (guitarra, teclados, vocais), Andy Fletcher (teclados) e seus excelentes músicos de apoio vieram para divulgar o álbum Spirit, lançado há exatamente um ano. Apesar de o Depeche Mode ter o som calcado no synthpop clássico dos anos 1980, a banda procura algo mais do que louvar a dança e o hedonismo. Sempre preocupados com questões espirituais, emocionais, políticas e sociais, os integrantes procuram levar a seus shows esse espírito de conscientização. Quando um trecho de “Revolution”, dos Beatles, ecoou nos alto-falantes do estádio, os músicos logo se materializassem no palco. Gahan, aos 55 anos, ainda com seu vocal barítono intacto, abriu os procedimentos de fora impactante com “Going Backwards", faixa de destaque de Spirit.
David Gahan: “É bom conseguir me expressar por canções, o Depeche Mode é minha maior proteção”
Mesmo com canções trazendo mensagens “sérias”, não se trata de algo sombrio, circunspecto ou monótono. Gahan é um frontman fantástico – em plena forma física, ele usa um infalível arsenal de truques cênicos: dança de forma desajeitada, rodopia como uma bailarina, trota pelo palco, faz conclamações à plateia e tudo mais. Com o cabelo penteado para trás e um bigodinho fino, ele deu um ar camp e extravagante ao show. Mas além da perfomance bombástica do cantor, o bem cuidado repertório também elevou a apresentação, trazendo algumas composições do mais recente trabalho, hits de outras décadas, obscuridades bem escolhidas e canções que não poderiam faltar de jeito nenhum. A iluminação impecável e as imagens exibidas no telão também reforçaram a excelência do espetáculo.
Do novo trabalho, o Depeche Mode também executou “Cover Me” e a estridente “Where’s the Revolution”. Mas a seleção de faixas serviu mais para agradar quem estava lá pelos hits. Entre as boas surpresas, a banda ofereceu uma certeira versão para “Insight”, de Ultra (1987), cantada por Martin Gore, que como vocalista se mostra quase à altura de Gahan. Deste disco, os músicos também selecionaram “Home”, “Barrel of a Gun” (citando “The Message”, do Grandmaster Flash) e “Useless”. Já Songs of Faith and Devotion (1993) foi representado pela evocativa “In You Room”. Enquanto esta última era executada, os telões mostravam um vídeo com um casal dançando sensualmente ao som da canção. A sinuosa “Everything Counts” também girou o relógio de volta aos anos 1980. A parte principal da apresentação findou com as esperadas “Enjoy the Silence” e “Never Let Me Down Again”, que transformaram o local em uma mistura de karaokê com pista de dança.
O grupo ainda voltou para mais algumas canções. Para o bis, vieram com a balada “Strangelove”, faixa de Music for The Masses (1987). Esta foi cantada pelo guitarrista, Gore, acompanhado apenas pelo piano. Na sequência, vieram as certeiras “Walking in My Shoes” e “A Question of Time”. O final ficou com “Personal Jesus”, o maior hino do Depeche Mode, faixa do álbum Violator (1990) que Gore escreveu inspirado por Elvis Presley. A emblemática e hipnótica canção foi o encerramento ideal para o espetáculo. Depois de duas horas de goth rock, synthpop e algumas baladas, a espera por quase 25 anos para ver a banda havia valido a pena.
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