Compositora de questões existenciais, australiana indicada ao Grammy como revelação volta ao Brasil com um dos melhores discos de 2018
Pedro Antunes Publicado em 20/02/2019, às 12h22
"O retorno de Saturno foi muito maluco", admite e ri Courtney Barnett, de 31 anos, ao falar sobre o fenômeno astrológico no qual o planeta em questão retorna ao mesmo local no céu do momento do nascimento da pessoa em questão, o que ocorre geralmente a cada 29 anos e causa, para quem acredita em astrologia, transformações profundas.
No caso de Courtney, "depois de sentar e pensar bastante, ou de simplesmente sentar" (o "pensar", aí, não é necessariamente uma questão), ela quer saber como você está. Brincadeiras com os títulos dos discos da artista australiana à parte (os álbuns se chamam Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit e Tell Me How You Really Feel, de 2015 e 2018), o fato é que ela a ícone dessa nova geração de indie com guitarras se transformou.
Havia uma questão existencialista e niilista em Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, álbum que cataputou Barnett para as primeiras posições nas preferências daqueles educados musicalmente pela escola belíssima escola descolada do Pavement e ainda descolou, para ela, uma indicação ao Grammy como revelação daquele 2015.
No disco, Courtney olhava para si. E, às vezes, encontrava vazio - quem nunca? Essa dormência ou anestesia de sentir, de estar, de pensar, movia as engrenagens engenhosamente armadas com linhas de guitarra saborosas e vocais estranhos somente o suficiente para criar atenção maior às palavras cantadas ali.
Um álbum com tantas canções saborosas, como "Elevator Operator", "Avant Gardener", "Pedestrian At Best", "An Illustration of Loneliness (Sleepless in NY)", nada resume tão bem Courtney, seu público (essa geração pós-30, ainda jovem, mas com os boletos, obrigações e fantasmas na cola dela), como essa simples constatação da música "Nobody Really Cares If You Don't Go to the Party":
"I wanna go out but I wanna stay home". Ou, em tradução livre, "eu quero sair, mas quero ficar em casa". Se houver indecisão mais comum que essa numa terça-feira à noite (ou até mesmo em alguns sábados), eu desconheço.
"Sabe, eu nunca quis fazer a mesma coisa", começa Courtney, em entrevista à Rolling Stone Brasil, no fim de tarde para nós e início do dia para ela, ainda moradora de Melbourne, na Austrália, sobre as transformações sonoras entre o álbum de estreia o segundo dela.
Com esse disco, Tell Me How You Really Feel, Courtney Barnett volta ao Brasil, com duas apresentações, dentro da plataforma de shows Popload Gig. Ela toca em São Paulo (no Fabrique), nesta quinta-feira, 21, e Porto Alegre (no Opinião), no dia 22. O serviço completo está no final do texto.
Em São Paulo haverá o show de abertura de Brvnks, banda de Bruna Guimarães, cujo EP de estreia, Lanches, de 2016, saciou muita barriga vazia ansiosa por canções injetadas de sujeira e ecos. Uma dica: ainda neste primeiro semestre ela vai lançar seu primeiro álbum cheio, fiquem ligados - e esfomeados.
É a segunda passagem da australiana por aqui. A estreia se deu em 2016, quando ela dividiu uma linda noite musical em São Paulo, na Audio, com a banda Edward Sharpe & The Magnetic Zeros.
"Eu já tinha feito tudo aquilo do primeiro disco. Soou natural buscar outros instrumentos, trazer algo diferente, algo que também me tire da zona de conforto e me mostre ideias diferentes, sabe?", ela explica.
"Need a Little Time", música já do novo álbum, tem mais corpo, aquela "sustância" que a sua avó costumava pedir quando achava que seu prato do almoço não estava cheio o bastante, e uma letra sobre relações problemáticas e intensas demais.
Deu bem certo. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, incluiu a canção de Courtney na sua listona de músicas favoritas de 2018 - a título de curiosidade, a lista também inclui uma versão de Caetano Veloso para "Cucurrucucú Paloma". Estar na lista do presidente não é pouco.
De qualquer forma, além da preferência de Obama, Tell Me How You Really Feel também foi lembrado pelas principais listas de melhores discos do ano passado.
É um disco que parte do princípio do "pensei demais, e agora?", que saí da inanição se se coloca em movimento. Depois de Sometimes I Just Sit…, Courtney gravou um álbum colaborativo com Kurt Ville, outro graduado com louvor na escola do rock-desleixado-que-amamos, chamado Lotta Sea Lice, de 2017.
Quando voltou para si, para seu trabalho como artista solo, ela beirava os 30 anos - outra época de muitas transformações - e se viu diferente. Na própria e já citada "Need a Little Time", ela também diz precisar de "um tempo de mim".
Por isso, chegamos ao conceito de Tell Me How You Really Feel. Depois de tanto ruminar os próprios sentimentos, Courtney busca, em um movimento empático, aqueles que, como ela, buscam soluções para questões internas mais profundas.
Veja o caso de "Nameless, Faceless", quinta faixa do disco mais recente. Nela, Courtney cita uma frase de Margaret Atwood, autora de O Conto da Aia, adaptado para a série (obrigatória para todxs) Handmaid's Tale:
"Men are afraid that women will laugh at them; women are afraid that men will kill them", ela canta (em tradução livre: "homens têm medo de que as mulheres riam deles; mulheres temem que homens as matem").
É uma canção na qual Courtney fala abertamente sobre medo e inquietações, mas ao fazê-lo, também se mostra mais interessada em ir a fundo para entender o que se passa por dentro daquele que também provoca o temor.
"Don't you have anything better to do? / I wish that someone could hug you / Must be lonely
Being angry", ela canta, em certo momento. Outro trecho da música diz: "I'm real sorry / 'Bout whatever happened to you".
De certo modo, ainda é a mesma Courtney Barnett, com seu modo de pensar e fazer música muito particular, mas não é exatamente a mesma coisa, entende? Existe um movimento de expansão além da própria consciência e do sentimento do "eu". Courtney agora também quer saber de você.
Por isso, não havia outro jeito de começar a entrevista que não esse:
"Courtney, me diga, como você realmente está?"
São Paulo
Data: 21 de fevereiro (quinta-feira)
Local: Fabrique
Endereço: R. Barra Funda, 1071 - Barra Funda, São Paulo - SP | CEP: 01152-000
Horários: Portas: 19h || Brvnks: 20h30 || Courtney: 21h
Ingressos:
Pista 2º lote: R$ 90 (esgotado) || R$ 180 (inteira)
Pista 3º lote: R$ 120 (meia-entrada) || R$ 240 (inteira)
Vendas online: www.ticketload.com
Porto Alegre
Data: 22 de fevereiro (sexta-feira)
Local: Opinião
Endereço: Rua José do Patrocínio, 834 - Cidade Baixa, Porto Alegre - RS | CEP: 90050-002
Horários: Portas: 19h30 || Show: 21h
Ingressos:
Pista 1º lote/promocional: esgotado
Pista 2º lote: R$ 80 (meia-entrada) || R$ 160 (inteira)
Pista 3º lote: R$ 100 (meia-entrada) || R$ 200 (inteira)
Vendas online: www.ticketload.com
Alfa Anderson, vocalista principal do Chic, morre aos 78 anos
Blake Lively se pronuncia sobre acusação de assédio contra Justin Baldoni
Luigi Mangione enfrenta acusações federais de assassinato e perseguição
Prince e The Clash receberão o Grammy pelo conjunto da obra na edição de 2025
Música de Robbie Williams é desqualificada do Oscar por supostas semelhanças com outras canções
Detonautas divulga agenda de shows de 2025; veja