“A troca de energia que há com o público também acontece contra um bom adversário no boxe”, diz o músico
Pedro Antunes Publicado em 09/10/2013, às 16h46 - Atualizado em 11/10/2013, às 07h04
Derrick Green, vocalista do Sepultura, encara a luta de boxe como uma partida de xadrez. “É interessante pensar nesse reflexo de atacar e defender, em velocidade”, diz ele. “A diferença é que o adversário está desferindo socos em você.” Green ri, em um momento de descontração antes de encarar mais um treino comandado por Ery Silva, lutador de muay thai e treinador, nesta terça-feira, 8. Sujeito grandalhão, o músico parece uma máquina de desferir pancadas – são 104 kg distribuídos em 1,96 m de altura. Impossível não cair no jargão jornalístico de comparar o entrevistado a um lutador, afinal, ali está ele, deixando cair a mão pesada sobre o adversário, Silva, com vários centímetros e quilos a menos.
Há dois meses, a rotina de Derrick Green envolve treinamento funcional e boxe na Pretorian Gym, de onde Ery é coordenador, no bairro do Jardins, em São Paulo, duas vezes por semana. São treinos de uma hora de duração, mas com a intensidade capaz de deixá-lo ensopado de suor. O artista foi chamado para participar de uma luta beneficente no Hard Rock Cafe, em Las Vegas, em um evento beneficente que reúne celebridades no ringue para angariar fundos para ajudar crianças carentes. A luta está marcada para sábado, 12, mas Derrick não sabe quem será o adversário. “O maior problema para eles [produção] é encontrar alguém famoso que tenha tamanho e peso similares aos meus”, conta ele, ainda antes do treino.
Como se vê no ringue neste dia, a equivalência de estatura dos adversários é fundamental. Ainda que Green tenha uma invejável envergadura para os golpes, Silva, rival no ringue, parece levar vantagem no gingado de pernas – e o fato de ele ser mais baixo parece ser até favorável. Com agilidade nos movimentos, o treinador consegue desviar da maior parte dos golpes e contra-atacar com precisão. “Stronger! Stronger!”, grita Silva, campeão sul-americano e três vezes vencedor do torneio nacional de muay thai, arte marcial tailandesa. “É no ringue que se aprende a apanhar”, diz, antes do sparing. “O saco de areia não bate de volta.”
A plasticidade dos movimentos de mãos e socos deu ao boxe o apelido, entre as artes marciais, de “arte nobre”. Doce, sorridente e gentil, o Derrick Green que conversa com a Rolling Stone Brasil se transforma no ringue – assim como no palco. “Estar neste momento, seja no palco, seja em uma luta, é um sentimento semelhante”, compara o músico.
“Quando se está diante de 85 mil pessoas, como no Rock in Rio, você tem a sensação de que consegue fazer qualquer coisa”, continua. “A troca de energia que há com o público também acontece contra um bom adversário no boxe.”
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Graças ao boxe o músico perdeu 6 kg e isso tem ajudado no show, com o Sepultura e com os outros projetos. No Rock in Rio 2013, por exemplo, Derrick estabeleceu um recorde, entre os outros artistas, de três shows no mesmo festival. “Eu não fico mais tão exausto após as apresentações. Ainda tenho essa energia, entende? Consigo respirar melhor”, conta. “Nos últimos anos, nas turnês, eu comia muita porcaria. Para o ciclo deste novo disco, queria mudar isso.”
Ele está falando de The Mediator Between the Head and Hands Must Be the Heart, álbum do Sepultura que chega às lojas neste mês, resumido por Derrick como “brutal”. “Tem elementos modernos, assim como momentos bem crus e sombrios do thrash metal”, completa. O disco é o primeiro feito com a participação do baterista Eloy Casagrande, de 22 anos. “É um moleque!”, brinca o vocalista, em português. “Pelo fato de ser jovem, ele trouxe muita energia pra gente. Ele é muito apaixonado pelo que faz.”
A ideia de Derrick é se manter treinando, mesmo em turnê com o novo álbum, cujo título foi sacado de uma frase dita no filme clássico Metrópolis (1927), longa-metragem de Fritz Lang, uma das primeiras ficções científicas da história do cinema.
A comparação com o xadrez vem pela forma cerebral como os lutadores praticam o boxe. Saber atrair a guarda do adversário e lidar com o cansaço de pernas e braços, mais e mais pesados com o passar dos rounds, é o segredo. No ringue, Green enfrenta o treinador por quatro rounds de dois minutos de duração. É uma exibição, mas os punhos do músico parecem feitos de pedra. No fim, ele cansa e já não aparenta a mesma disposição. Ainda assim, consegue acertar um bom jab, antes de o gongo soar e colocar fim à disputa. Em uma decisão dos juízes, o cantor possivelmente perderia por pontos, mas ele deixa o ringue satisfeito com o desempenho. “Alguém aí tem uma aspirina?”, brinca Ery Silva, e o exausto Derrick volta a sorrir. “É uma droga natural, é muito intenso. O coração bate muito forte.”
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