Seu disco mais recente lembra o som pastoral e descontraído da estreia solo de 1970
Rob Sheffield | Rolling Stone EUA. Tradução: Vitória Campos | @camposvitoria (com supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 09/02/2021, às 21h37
Toda década deveria começar com um álbum de uma banda de um homem só - e esta precisa disso mais do que a maioria. McCartney III continua sua tradição de discos solos caseiros, como em sua estréia acústica de 1970 e sua excentricidade de synth-pop de 1980, apresentada em McCartney II. Similar aos seus dois predecessores, é McCartney em sua forma mais divertida.
Ele não está suando por ser uma lenda, um gênio ou um Beatle - apenas um homem de família relaxando na quarentena, escrevendo algumas músicas para manter seu fluxo de energia. Como o resto de nós, está trancado, curtindo a fazenda de sua filha, os netos e dedilhando seu violão sob o sol do verão inglês. É o mais caloroso e amigável dos álbuns de quarentena - basicamente o encontro de Ram (Paul e Linda, esposa dele) e Folklore (Taylor Swift).
O próprio músico escreveu, tocou e produziu McCartney III com muita dedicação folclórica. Nos anos 1970, um de seus colegas do Wings o chamou de "apenas um fazendeiro tocando guitarra", e é essa a vibe buscada aqui. Paul não parecia tão rústico desde seus primeiros dias solo, de "Mary’s Got a Little Lamb" a "Junior’s Farm" e "Mull of Kintyre". Quando canta sobre ovelhas e galinhas, você sabe como se refere a elas de verdade, não a metáforas.
McCartney III funciona melhor quando se inclina totalmente para o conceito acústico solo. Começa forte com a maravilhosa “Long Tailed Winter Bird”, possuidora de alguns minutos de violão folk frenético antes mesmo de começar a cantar. Há também momentos espirituosos, como a balada rock de iate no estilo London Town de "Women and Wives" ou a "Lavatory Lil", no bobo estilo Abbey Road.
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McCartney voltou a compor músicas nos últimos anos. Passaram-se apenas dois desde o excelente Egypt Station, um de seus melhores discos solo de todos os tempos, com a meditação de guitarra no estilo "Dominoes" de Alex Chilton, definitivamente um dos dez melhores clássicos solo de Paul de todos os tempos.
Egypt Station também foi primeiro lugar nas paradas, e Paul levou isso a sério. Foi sua primeira vez no topo desde Tug of War em 1982, estabelecendo um novo recorde para o período mais longo entre os álbuns em primeiro lugar.
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Sua atual onda de sucesso começou com Chaos and Creation in the Backyard, colaboração com Nigel Godrich em 2005, da qual escapou das fissuras na época, mas, agora, é um grande ponto de virada em sua história.
Paul nunca quis se contentar em ser um artista nostálgico - isto sempre o diferencia de seus colegas de geração. Orgulha-se de seguir em frente. Até a pandemia desacelerar suas turnês, arrasava multidões ao vivo, todas as noites, com sua melhor banda desde os Fab Four. Desde Chaos and Creation, tem escrito canções brilhantes.
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McCartney III não é tão ambicioso quanto Egypt Station - como suas duas primeiras declarações solo auto intituladas, é um limpador de paladar espontâneo após um laborioso projeto de estúdio. McCartney veio logo depois de Abbey Road, enquanto dispensava os Beatles com canções acústicas como “Every Night” e “The Lovely Linda”, gravadas em casa em seu novo toca-fitas.
McCartney II veio logo após o álbum final dos Wings, o subestimado Back to the Egg; teve um hit número um genuinamente maluco, "Coming Up," e a jóia perdida "Temporary Secretary," despercebida por décadas até o mundo, de repente, notar ser brilhante.
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McCartney III tem o mesmo toque despojado - as únicas falhas surgem quando aumenta os sintetizadores e tenta agitar. O ápice é "The Kiss of Venus", um romance pastoral como um "Mothers Nature’s Son" atualizado, enquanto atinge notas agudas comoventes em sua voz soberbamente envelhecida.
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Termina com “When Winter Comes”, história contundente da vida na fazenda. A princípio, parece o almanaque de tarefas de um fazendeiro, como "Must dig a drain by the carrot patch” (em tradução livre: "Preciso cavar um buraco perto do canteiro de cenouras").
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Mas, também é um retrato da felicidade doméstica na velhice, com dois amantes idosos aquecendo os dedos dos pés junto ao fogo, forçados pelo inverno a ficar em casa e a se deliciarem. A música tem um poder emocional surpreendente - como um outro lado de "When I’m 64", com Paul olhando para trás aos 78 anos.
Quando McCartney estava fazendo suas declarações de farm-core dos anos 1970, como Ram e Red Rose Speedway, os álbuns foram atacados. Mas viveu o suficiente para ver uma nova geração considerar, corretamente, estes discos como clássicos cult - para sua grande diversão.
Como disse à Rolling Stone em 2016, "Um dos meus sobrinhos, Jay, disse: ‘Ram é meu disco favorito de todos os tempos. Pensei estar morto, fedendo ali no fosso de esterco. Então eu escutei. Uau, entendi o que estava fazendo’”. A reivindicação deve ser doce. Isso é parte do charme de McCartney III. Não está furioso contra o inverno - é apenas uma chance para o mestre relaxar e sorrir.
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