O serial killer Charles Manson usou o White Album para formular teorias homicidas
Paulo Cavalcanti Publicado em 22/11/2018, às 07h30
Charles Manson foi o criminoso mais conhecido de todos os tempos. Graças à sua ligação com a contracultura e com astros do rock, por um curto período de tempo, ele também virou um ícone pop, mas de uma forma maligna.
Nascido Charles Milles Madoxx, no dia 12 de novembro de 1934, em Cincinnati, Ohio, Manson (o sobrenome foi adotado do padrasto, William Manson) permaneceu praticamente toda a vida adulta, encarcerado após ser condenado por crimes diversos.
Em março de 1967, ele tinha 32 anos: era um sujeito semianalfabeto, ladrão de carros, cafetão e falsário.
Manson foi parar em São Francisco e, lá, envolveu-se no universo da contracultura. Manson, um músico amador que conhecia preceitos da cientologia, falava com desenvoltura e era muito carismático.
Ele formou uma comunidade de jovens desajustados e que tinham abandonado suas respectivas casas. O grupo era chamado de Família. Os desajustados viviam de pequenos golpes e comiam restos de comida jogados fora pelos supermercados.
A Família Manson escolheu como lar um lugar nos arredores de Los Angeles chamado Spahn Ranch, que tinha sido usado para filmagens, anteriormente.
No final de 1968, Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys, deu carona para Ella Jo Bailey e Patricia Krenwinkel, duas integrantes da Família Manson.
Ele as levou para a casa dele, no número 14400 da Sunset Boulevard. Foi assim que o músico ficou sabendo da existência de Charles Manson, que era chamado pelas garotas de “O Mago”. Na manhã seguinte, Wilson retornava para casa e viu que havia uma movimentação lá dentro.
Manson e seu séquito tinham invadido o local. Quando chegou à porta, Dennis se deparou com Manson. Ele encontrou um homem de menos de 1,60m, ligeiramente corcunda, barbudo e com o cabelo até os ombros. Com um olhar intenso, perturbador e hipnótico, o criminoso mais parecia um hippie saído de um filme gótico.
Wilson perguntou ao invasor: “Você vai me machucar?”. E ele respondeu: “Eu tenho jeito que vou machucar você?”. Em seguida, se ajoelhou e beijou os pés de Wilson. O baterista perguntou: “Quem é você?” E Manson respondeu: “Um amigo”.
Wilson ficou chocado com os acontecimentos inesperados, mas não se chateou, tampouco se preocupou em chamar a polícia. A Família Manson era integrada por um grande número de garotas jovens e bonitas prontas para o sexo.
Assim, o beach boy não se importou que Manson e seus parasitas morassem com ele por tempo indeterminado. Grande fã dos Beatles, Manson queria ser astro do rock e achou em Dennis Wilson o instrumento perfeito para conseguir o que queria.
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Wilson começou a levar Manson para lugares badalados, como o lendário clube de LA Whisky a Go Go, e o apresentou para Neil Young e John Phillips (The Mamas and The Papas).
No final, Dennis Wilson tomou um prejuízo gigantesco: os “hóspedes” roubaram os discos de ouro dele, roupas caras e ainda estragaram seus carros. Wilson, então, acabou se cansando de Manson e companhia e conseguiu que eles fossem expulsos de sua mansão. Manson e seus comandados voltaram para o deserto, com planos diabólicos na cabeça.
Manson tinha teorias alucinadas sobre o destino da humanidade – e o dele, e de seus comandados. Ele acreditava que os brancos e negros iriam entrar em uma guerra racial e acabariam se exterminando. Achava que, após o assassinato de Dr. Martin Luther King Jr., em 1968, este seria o caminho lógico.
E somente ele, Manson, e sua Família, escondidos no deserto, sobreviveriam. Ao conceber esta teoria, misturava preceitos da Bíblia com as canções do White Album, que ele ouvia ininterruptamente dia e noite. Para ele, cada canção tinha um significado apocalíptico – tanto que batizou de “Helter Skelter” o eminente conflito. Na Inglaterra, a expressão era um sinônimo para roda gigante. Mas para Manson, era o fim do mundo, literalmente.
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A psicopatia de Manson entrou em ação no dia 8 de agosto de 1969. A atriz Sharon Tate e seus amigos Jay Sebring (um famoso cabeleireiro de Hollywood), Wojciech Frykowski (ator polonês) e Abigail Folger (herdeira de uma marca de café e namorada de Frykowski) foram massacrados na mansão localizada no número 10050 da Cielo Drive.
Foi um dos crimes mais sádicos e marcantes do século 20. No dia seguinte, foi a vez de Leno LaBianca (empresário do ramo de supermercados) e sua esposa Rosemary, que foram brutalizados no número 3301 da Waverly Drive. Manson organizou e ordenou os dois assassinatos, mas ele não participou deles pessoalmente.
Sharon Tate e seus hóspedes foram mortos porque Manson tinha noção de como entrar na casa onde ela morava. Já o casal LaBianca foram escolhidos aleatoriamente. Os assassinatos de Sharon Tate e amigos foram cometidos por Charles “Tex” Watson (braço direito de Manson), Patricia Krenwinkel e Susan Atkins – Linda Kasabian acompanhou os matadores, mas não participou diretamente do crime, permanecendo do lado de fora da casa.
O casal LaBianca foi morto por Watson, Krenwinkel e Leslie Van Houten. Manson ficou animado: ele realmente achava que ao analisar a aterrorizante e dúbia cena do crime, a polícia iria pensar que os massacres teriam sido executados pelos negros e assim a guerra racial que ele preconizava começaria.
Nos locais dos massacres, a gangue de Manson escreveu com o sangue das vítimas as palavras “Healter Skelter” (sic), “Death to Pigs” e “Arise”. Os investigadores não sabiam que as expressões tinham sido retiradas de faixas do White Album.
Levou um tempo para a polícia montar o quebra-cabeça relacionado aos Beatles e enquadrar a turma de Manson. Foi graças ao trabalho meticuloso do promotor Vincent Bugliosi que os hippies assassinos foram presos.
O horrível incidente dos assassinatos instigados por Manson jogou uma luz sombria na contracultura e por um tempo, o White Album também ganhou uma aura de “maldito”. Manson foi condenado à morte, mas a pena foi comutada - ele ficou a vida inteira atrás das grades. Ele morreu no dia 19 de novembro de 2017, aos 83 anos.
Anos após os assassinatos, John Lennon foi perguntado sobre Charles Manson. “Ele é um pirado”, disse o beatle. “Ele é como qualquer outro fã dos Beatles que vê misticismo em tudo. Nós costumávamos levar isto na brincadeira, especialmente quando algum intelectual começava a enxergar coisas simbólicas nas letras, falando sobre os anseios da nossa geração e coisas assim. Mas eu não sei o que ‘Helter Skelter’ tem a ver com esfaquear alguém. Eu nunca notei isso na letra. Para mim, a música sempre foi algum tipo de barulho”.
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