Em Paralytic Stalks, vocalista Kevin Barnes dá vida a suas angústias; leia entrevista e ouça a inédita "Spiteful Intervention"
Murilo Basso Publicado em 07/02/2012, às 20h01 - Atualizado em 09/02/2012, às 17h45
Completando 15 anos de carreira, o Of Montreal acaba de lançar seu décimo primeiro álbum de estúdio. Paralytic Stalks traz canções mais densas, retratando um estado íntimo vivido durante todo o processo de criação do novo trabalho. Angústias e a ideia de confissão pessoal marcam as nove canções do disco. “Eu estava passando por um momento difícil, então usei o processo criativo como uma forma de terapia espiritual e emocional. Foi um álbum que me fez trabalhar uma série de questões pessoais”, conta o vocalista Kevin Barnes à Rolling Stone Brasil.
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Apesar do choque inicial (os trabalhos anteriores do Of Montreal sempre foram marcados por uma atmosfera alegre), Barnes acredita que há um lado positivo no disco, e até aponta semelhanças com Hissing Fauna, Are You The Destroyer?, de 2007. “Ambos são álbuns pessoais e íntimos. Hissing Fauna, Are You The Destroyer? tem uma espécie de desvio no meio do álbum, se tornando um pouco mais divertido. Paralytic Stlaks, em diversas maneiras, é definitivamente mais sombrio e pessimista. Você também poderá dizer que é um pouco mais angustiante. Mas, na verdade, há esperança nele, não é algo completamente pessimista.”
Hissing Fauna..., aliás, foi escolhido para ser executado integralmente em shows comemorativos no ano passado, em Athens (Georgia, Estados Unidos), cidade natal da banda. “É sempre um desafio divertido tentar tocar um álbum na íntegra”, diz o cantor. “É o nosso disco mais popular. Ser capaz de mergulhar no espírito de um álbum é especial, porque é possível mostrar no show uma energia surpreendente.”
Apesar de em álbuns anteriores ter convidado outros cantores para dividir algumas faixas – Janelle Monáe e Solange Knowles, irmã de Beyoncé, entre eles –, Kevin preferiu não ter participações em Paralytic Stalks. “Eu quis ser o veículo para todas as letras”, explica. Para ele, a diferença entre o álbum novo e os demais estará ainda mais evidente durante apresentações ao vivo e, embora tenha confiança de que a banda será capaz de criar algo forte e interessante, será desafiador reproduzir alguns dos momentos instrumentais do disco. “Agora contamos com um novo músico, Zac Colwell. Ele foi responsável por todos os metais e sopros em Paralytic Stalks”, pondera.
A aproximação com a soul music, além de toques discretos de new wave por meio do uso ampliado de sintetizadores, é apontada como um dos pontos fortes do recém-lançado CD. “Provavelmente é o meu gênero favorito. Fui incorporando algumas influências recentemente, como a música moderna de vanguarda clássica, por exemplo. Me empolgo com obras de Charles Ives, Penderecki... experimentei como combinar essas influências nas minhas canções e acredito que o resultado é muito gratificante”, diz.
Paralytic Stalks, novo álbum do Of Montreal, chega ao Brasil nesta quinta-feira, 9, através do selo Vigilante (Deck).
Influências do Brasil
Entre as novas canções, chama a atenção “Wintered Debts”, que faz referência a São Paulo em um de seus versos ["Escorregando no meu vômito enquanto tento te ligar de um banheiro em São Paulo, mas eu estava bêbado demais"]. “É uma referência a uma experiência que tive durante um DJ set em São Paulo. Eu estava frustrado e atormentado. Não foi um dos meus pontos altos como ser humano, embora eu ainda ame a cidade e não veja a hora de voltar”, comenta Barnes.
Por sinal, a relação do Of Montreal com a música brasileira é mais significativa do que se imagina. A banda participou da coletânea Red Hot + Rio 2, com uma versão renovada para “Bat Macumba”, em parceria com Sérgio Dias. O trabalho é apontado pelo vocalista como um de seus melhores momentos como artista. “Sou um enorme fã da Tropicália. Adoro Mutantes, Caetano e Gilberto Gil, eles têm uma enorme influência sobre o meu trabalho e são uma grande inspiração. Foi emocionante colaborar com o Sérgio.”
Ouça a canção inédita "Spiteful Intervention" na seção multimídia, abaixo.
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