Do mangue à metrópole

A Nação Zumbi comemora os 15 anos de seu disco de estreia, Da Lama ao Caos, em show na capital paulista nesta sexta-feira, 18; "Queremos que aquilo volte, sei que é impossível, mas vamos tentar", diz Dengue, baixista do grupo

Por Adriana Douglas Publicado em 18/09/2009, às 19h09

Atualizado às 19h10

"Modernizar o passado é uma evolução musical". As primeiras palavras pronunciadas no disco Da Lama ao Caos, o primeiro da Nação Zumbi, parecem profetizar o que aconteceria no meio musical brasileiro com a chegada de Chico Science e seus companheiros. Há 15 anos, o rock nacional recebia novos ares, vindos diretamente de Pernambuco, graças à inserção de ritmos regionais, como o maracatu, no gênero. Nascia, então, o manguebeat.

Precursores na arte de fazer barulho com tambores e guitarra, os integrantes do grupo, junto aos conterrâneos do Mundo Livre S/A, chamaram a atenção de produtores e gravadoras com o som inusitado, carregado de crítica social. E é esse "início de tudo" que será comemorado nesta sexta-feira, 18, em São Paulo. Depois de apresentar o show de aniversário do álbum em seu estado natal, a Nação Zumbi desembarca na capital paulista para uma única apresentação que promete, mais uma vez, reviver a experiência firmada em 1994.

Além de celebrar a estreia do disco, a banda também irá relembrar a primeira viagem à metrópole, feita logo depois do lançamento de Da Lama ao Caos. "O show de 15 anos atrás e o show de agora servem para rejuvenescer todo mundo, voltar atrás. Queremos que aquilo volte, sei que é impossível, mas vamos tentar", afirma Dengue, baixista da banda, ao site da Rolling Stone Brasil. "Queremos sentir de novo aquela briga. O show em Pernambuco foi assim, logo no começo: olhei para Jorge [du Peixe, vocalista], ouvimos os tambores do início do disco e nos arrepiamos. Foi assim o show inteiro."

Da época de quando deram os primeiros passos com o álbum, o músico lembra que tudo ainda era novidade para a banda, afinal, nunca tinham entrado em estúdio "para gravar coisa séria". "Éramos muito verdes e estávamos muito empolgados com aquilo tudo. Não tinha tempo ruim com a gente."

Dengue explica ainda que, antes de fechar o contrato com uma gravadora, o grupo era formado por "um monte de gente, igual a uma banda de percussão da Bahia". Para o trabalho, apenas oito ficaram. Dois anos depois de Da Lama ao Caos, viria Afrociberdelia, o segundo e último disco com Science - o vocalista faleceu em 1997, em um acidente de carro. "Com o advento da perda de Chico, tivemos de reestruturar a banda. Foi um caminho duro, mas acabamos amadurecendo muito, já que tivemos que começar do zero de novo. Hoje, ainda estamos em pleno desenvolvimento, a harmonia cresceu ainda mais entre nós. A gente vive se reinventando."

A lembrança da morte do amigo soa como um desabafo tímido, mas Dengue garante que nenhum dos integrantes tem problemas ao falar sobre o assunto. "Não sei se a perda veio para a gente aprender, mas, com ele, teríamos ido ainda mais longe", admite. "Ele é tão presente que quase o vemos ao nosso redor." Nesse espírito de recordação, a banda será fiel à ordem das músicas do disco em São Paulo. A empreitada terá, inclusive, alguns parceiros e amigos para reforçar o time. BNegão, Otto e Fred Zero Quatro (do Mundo Livre S/A) serão os convidados da noite, que perde a presença do guitarrista Edgard Scandurra e Arnaldo Antunes - juntos com a banda no show do Festival de Inverno de Garanhuns - por conflito de agendas.

Neste show especial, a Nação tentará não improvisar ou acrescentar sons e batidas novas ao que foi originalmente apresentado no álbum, mesmo tendo mudado nesses anos todos. "Pra mim, o disco parece uma música só. É como dar o play e ele parece o mesmo da primeira à última música", conta Dengue. E não é à toa: "Ele, na verdade, é um retrato do que éramos na época."

Manguebeat

"A gente expandiu o conceito de manguebeat e ele saiu do nosso controle há muitos anos. Ele extrapolou e se perdeu dentro dele mesmo", reflete o baixista. "É muito cedo para saber quais são suas consequências e até onde irá. Não sei se o criamos, mas participamos dele."

Muito mais que fazer parte do movimento, o grupo tenta firmá-lo dentro do rock, e não à parte dele. "Acho engraçado ainda nos classificarem como banda regional e não de rock nacional. Algumas pessoas não entendem o que fazemos, um cara pode achar que estamos tocando forró", completa.

Com bom humor despreocupado, Dengue conta que a viagem a São Paulo, dessa vez, será definitiva. Como outros integrantes da banda, o músico firmará residência na capital. "Não temos mais pra onde correr", afirma. O músico apenas lamenta que, por ora, outras cidades brasileiras ficarão na espera para receber o show de comemoração dos 15 anos do disco. "Queremos estender os shows, mas não temos propostas. Gostaríamos de ir a Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, mas parece que as pessoas não gostam mais de Da Lama ao Caos (risos)."

Festival Conexão PE

Sexta-feira, 18/09

Nação Zumbi - abertura Ortinho e Guizado

Citibank Hall - Alameda dos Jamaris, 213

21h

Informações: (11) 2846-6040 ou www.citibankhall.com.br

R$ 40 (pista) e R$ 110 (camarote)

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