“Quando voltei daquela turnê sem voz – e sem saber o que fazer –, foi uma época muito difícil”, conta o vocalista e compositor da banda, Brandon Summers, sobre período que teve que “reaprender a cantar”
Lucas Brêda Publicado em 12/05/2016, às 19h55 - Atualizado às 20h06
“Se você lê a mídia nos Estados Unidos, parece que tem vírus Zika em todo lugar”, assume, aos risos, o vocalista, guitarrista e principal compositor do duo norte-americano The Helio Sequence, Brandon Summers. Junto ao companheiro, o baterista e tecladista Benjamin Weikel, ele vem pela primeira vez ao Brasil para dois shows: um em São Paulo, nesta quinta, 12, e outro em Goiânia (no festival Bananada), no domingo, 15. “Sabemos da conjuntura política, o impeachment, mas acho que deve um lugar bacana, com pessoas que gostam de música, como várias outras pelo mundo.”
A passagem do Helio Sequence pelo Brasil tem muito a ver com os laços que foram estreitados com uma banda nacional, o Quarto Negro, que gravou o segundo disco da carreira, Amor Violento, nos Estados Unidos, com o Helio Sequence. “Tem muitas bandas que nos abordam pelo Facebook”, conta Summers. “Eles falam: ‘Gostamos do som de vocês, vocês poderiam gravar com a gente ou produzir nosso som?’ Mas nunca costumamos fazer isso. E com o Quarto Negro eu nunca imaginei que ia acontecer porque, bem, eles estão muito distantes.”
“Mas então nós combinamos e eu percebi que a coisa ficou séria quando eles apareceram na nossa porta”, continuou o compositor, novamente emendando risadas. “Nós saímos, nos demos muito bem. Gravamos umas demos e sabíamos que ia dar certo desde o começo. Isso foi em 2013. Eles vieram três vezes aos Estados Unidos para gravar as coisas.”
Amor Violento, lançado em 2015, representou um crescimento por caminhos até então inexplorados pela então brasileira: timbres mais coloridos, levadas mais viajantes e uma influência direta do shoegaze. E o intercâmbio também foi crucial para o trabalho do Helio Sequence. “Foi um processo muito, muito bom. Em parte porque eles eram um duo, como nós. E eu gosto muito de trabalhar com eles, porque estão abertos a praticamente tudo: pessoas tocando no disco deles, sugestões de ideais, tudo”, diz o vocalista.
Segundo ele, a distância cultural não foi um empecilho para a criação. “Artisticamente, é tudo música”, comentou. “Estamos todos chegando no mesmo lugar. Mas o que eu mais gostei foi que, mesmo quando eles estavam discutindo sobre uma música, eles falavam em português, e a língua portuguesa é tão legal para ouvir que até parecia algo relaxante [risos].”
Summers admite inclusive ter incorporado parte da “dinâmica” de trabalho do Quarto Negro. “Eles não ficam mudando muito quando já têm uma sonoridade para buscar”, diz ele. “Além disso, estão abertos a muita coisa. Então, essa coisa de aproveitar o momento foi o que determinou o disco do Quarto Negro. E nós pegamos um pouco daquilo, porque quando terminamos de gravar com eles, pensamos: ‘Ok, agora vamos fazer o nosso disco’.”
A troca de experiências foi tanta que o mais recente álbum do Helio Sequence, autointitulado, foi marcado fortemente pelo shoegaze e um tipo de som determinado por Summers como mais “espacial”. “Há algumas coisas dos nossos primeiros álbuns – os que não foram lançados pela [gravadora] Sub Pop – que se conectaram conosco agora”, diz Summers. “Enchemos as músicas de reverb e eco, voltamos a ouvir muito do shoegaze que nos influenciou quando estávamos começando: Slowdive, Ride, My Bloody Valentine, entre outros. E foi muito legal, porque foi uma coisa natural.”
A sonoridade de The Helio Sequence (2015) deixou para trás a veia folk do disco Keep Your Eyes Ahead (2008), mais bem sucedido com crítica e público do duo norte-americano. Conforme conta Summers, contudo, a presença das canções mais tradicionais e a composição ao violão naquele álbum foram resultado de uma experiência intensa e frustrante pela qual ele passou.
“Foi logo depois de Love and Distance, nosso primeiro álbum pela Sub Pop”, narra o vocalista. “Nós estávamos fazendo turnês que nem doido. Era 2004 ou 2005. Fizemos uma turnê inteira nos Estados Unidos, por conta própria, e eu já tinha perdido a voz. Depois, ainda fomos à Europa, tocamos por lá, voltamos, e saímos em turnê com outra banda. Eu não tinha mais voz. Então, quando voltei daquela turnê sem voz – e sem saber o que fazer –, foi uma época muito difícil.”
“Então, fui até um médico e ele me ajudou a voltar a falar direito de novo, com todos aqueles exercícios, sabe?”, continua. “Então comecei a apreender a cantar músicas de outras pessoas para poder voltar a ter voz. Foi aí que comecei a me ligar em muitas músicas do Bob Dylan e outros cantores folk. Justamente porque as letras eram mais fáceis, assim como as melodias.”
A experiência de “reaprender” a cantar com o folk levou a influência do gênero ao disco do Helio Sequence, mas Summers afirma que o susto serviu para fazê-lo mudar alguns hábitos – responsáveis, na época, ´por agravar ainda mais a situação da voz dele. “Beber antes de subir ao palco é a pior coisa que você pode fazer para sua voz. Mas eu mudei o estilo de vida, aprendi técnicas que ajudam. Agora, não bebo antes de cantar.”
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