Filme com Denise Fraga e César Troncoso foi o grande vencedor do Festival de Brasília de 2011 e chega aos cinemas nesta sexta, 19
Paulo Gadioli Publicado em 19/04/2013, às 15h52 - Atualizado às 16h49
Para a cineasta paulista Tata Amaral, Hoje demorou a chegar. Em 2002, após ler uma cópia mimeografada do livro Prova Contrária, de Fernando Bonassi, a diretora começou a esboçar o projeto que culminou em seu quarto longa-metragem, lançado nas salas brasileiras nesta sexta, 19/04. Protagonizado por Denise Fraga e pelo uruguaio César Troncoso, Hoje trata de temas íntimos tanto da história de sua realizadora quanto da de seu país.
“Perdi meu primeiro marido muito nova, então eu queria falar dessa ausência”, conta Tata em entrevista à Rolling Stone Brasil. “É muito bom poder tratar da possibilidade de um reencontro com essa pessoa que perdi lá atrás”, revela. Na trama, Vera, interpretada por Denise, compra um apartamento com o dinheiro de uma indenização recebida pelo desaparecimento de seu marido na ditadura.
“Ao mesmo tempo em que pra mim é importante falar sobre tema do filme, do acesso e do direito à verdade, de tomar posse de sua própria história, também acho essencial tratar de amor”, diz, explicitando o caráter multifacetado do longa. É um conto de um amor perdido, talvez reencontrado, retrato do cotidiano dos afetados pela ditadura. Hoje tem muitas camadas, e a competência dos atores foi essencial para o sucesso do projeto.
“Sempre me senti muito apoiada por toda essa equipe com quem trabalho, mas, dessa vez, senti um suporte muito grande de Denise e César, de uma maneira muito especial”, lembra. “Eu sentia que estava de braços dados com os dois e falava: ’gente, vamos pro abismo,’ e eles não hesitavam”, diz, detalhando o clima intimista da filmagem.
Ambientado quase que exclusivamente em um apartamento, o filme teve diversos momentos retirados diretamente da vida de Tata, como, por exemplo, uma mensagem lida por um dos protagonistas. “Aquela carta de amor, na verdade, foi escrita para mim e o César apenas traduziu”, revela. “No livro, a personagem conta que sentiu tanta falta do marido que pensou em se suicidar. Mas é muito pior que aquilo. Aquele suicídio é meu, aquele texto aconteceu comigo. Eu estava deitada, imaginei tudo aquilo, fechei a janela e voltei”, conta, referindo-se a uma das mais belas cenas do longa.
Como afirma sua própria diretora, Hoje é “um filme que fala sobre emoções muito íntimas”. Entre romance, fatos históricos, suspense, drama e até momentos cômicos, o filme aparece como um delicado e necessário retrato de um fantasma que ainda insiste em assombrar milhares de apartamentos como o de Vera.
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