Documentário Pussy Riot: A Punk Prayer estreia nesse mês no festival de Sundance
Dan Hyman Publicado em 03/01/2013, às 16h41 - Atualizado às 17h04
“É uma das histórias da década”, diz o diretor britânico Mike Lerner sobre o desafio de fazer seu novo documentário, Pussy Riot: A Punk Prayer, que estreia ainda neste mês no festival de Sundance. O longa narra a tensão que cercou no ano passado o julgamento e a prisão das três membros do grupo punk russo depois de uma performance dentro de uma igreja de Moscou em protesto contra o presidente Putin.
Galeria: relembre bandas e atores que, ao defender causas, arrumaram problemas com autoridades.
As três mulheres, Nadezhda "Nadya" Tolokonnikova, Maria "Masha" Alyokhina e Yekaterina "Katya" Samutsevich, foram julgadas por desordem pública – o estado afirmou que elas corromperam a ordem social por protestar em uma igreja. Depois de um muito midiático julgamento, cada uma das três mulheres falou sobre as deficiências do país e foram julgadas a dois anos de prisão.
Na época, celebridades como Madonna e Sting se pronunciaram contra a pena às mulheres. Mas segundo Lerner afirmou à Rolling Stone EUA, quando pela primeira vez juntou forças com o co-diretor Maxim Pozdorovkin, estava incerto se a história teria algo a mais para contar. Teoricamente, a história de três mulheres que vão contra a tradição patriarcal de seu país e chegam às esferas políticas através do rock and roll é bastante atraente. Mas Lerner se perguntou: será que tem apelo cinematográfico?
“Como diretor você pensa ‘bom, alguma hora isso deve ter um fim. Elas vão ser liberadas e advertidas para não repetirem o ato, e será apenas uma boa história’”, lembra Lerner. Mas o caso foi ainda mais enfático, e o julgamento das roqueiras ganhou manchetes pelo mundo como uma guerra às bruxas. “Elas certamente seriam queimadas há 500 anos”, diz Lerner.
“É o feminismo que está em julgamento”, ele acrescenta, enfatizando que “foi a ideologia feminista e a oposição desafiadora de um protesto em uma igreja” que tanto ameaçaram o governo russo.
O mundo ficou horrorizado com a condenação do Pussy Riot. Mas ao filmar na Rússia, Pozdorovkin encontrou uma sociedade muito mais dividida. “Uma das coisas estranhas é que a maioria dos russos é contra a banda”, ele explica. “Existem pessoas que querem que elas sejam queimadas, e alguns ortodoxos afirmam que elas têm que ser perdoadas. Existem ativistas políticos de todo tipo. Essa história realmente revelou sentimentos radicais na sociedade”.
Lerner vê o filme como um “clássico drama de tribunal”. Em um movimento irônico, o estado permitiu que as câmeras captassem todo o julgamento. Mas ao conseguir entrevistados como os pais das mulheres (alguns dos quais insatisfeitos com as ações das filhas), o filme se tornou algo muito maior. “Nossa tentativa é mostrar a batalha ideológica”, diz Pozdorovkin. “Duas Rússias estão brigando entre si.”
Ambos os diretores esperam que o longa sirva de documento sobre como três mulheres, embora tenham sido presas por suas ações, prevaleceram como vencedoras morais. “Elas venceram a discussão de diversas formas”, diz Lerner. “Elas se consideram artistas profissionais que fizeram um bom trabalho. Elas são responsáveis pelo protesto de vanguarda mais famoso da história, provavelmente.” (Samutsevich, a única das três que não permaneceu na cadeia, afirmou à Rolling Stone EUA em outubro que acredita que o ato do Pussy Riot foi bem sucedido).
“É o tipo de coisa que aconteceria no Irã ou na China”, diz Lerner. “Eu acredito que a longo prazo é um grande erro de Putin. Dentro e fora do país, as pessoas abriram os olhos à mesquinhez de seu controle e para o comando simplesmente desalmado”.
Lerner agora se encontra inspirado pelo espírito proativo exemplificado por grupos como o Pussy Riot. “No contexto de Anonymous e Occupy, nós estamos vivendo em uma era de dissidência”, conclui. “Eu acho incrível e encorajadora uma geração assim tão ativa e consciente ao redor do mundo”.
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