Eddie Vedder - São Paulo - MRossi/T4F/Divulgação

Eddie Vedder conquista paulistanos com show intimista, cheio de hits, galanteios e piadas

Vocalista do Pearl Jam também brincou dizendo que não fuma maconha, mas reconhece os valores medicinais do uso da droga

Pedro Antunes Publicado em 07/05/2014, às 03h17 - Atualizado em 09/05/2014, às 11h46

“Eddie, você se casaria comigo?”, grita uma moça do lado direito da plateia, na noite desta terça-feira, 6, em São Paulo. Eddie Vedder para por alguns segundos para pensar e responde: “Eu entendi direito? Ela pediu para dormir comigo?” O público que lota o Citibank Hall (novo nome do Credicard Hall, casa de shows localizada na zona sul de São Paulo) ri descontroladamente. “Sabe, é como quando as pessoas dizem, durante uma briga: só escutamos aquilo que queremos”, completa ele. Ao ver mais risadas, ele completa. “Não que seja esse o caso!” Bastante à vontade, o vocalista do Pearl Jam deixa que o público mergulhe neste seu universo tão particular, representado por uma performance intimista em turnê solo.

Relembre como foi o show do Pearl Jam no Lollapalooza Brasil de 2013.

A química entre o plateia e Eddie Vedder não poderia ter sido melhor nesta estreia solitária do músico no território brasileiro. O primeiro dos cinco shows que serão realizados no país teve hits do Pearl Jam, uma canção vencedora do Globo de Ouro (“Guaranteed”, da trilha sonora do filme Na Natureza Selvagem), covers bem escolhidos e faixas do disco solo do músico, Ukelele Songs. Tudo em um clima que une uma performance de João Gilberto, em voz e violão, mas completamente extrovertida da parte de Vedder.

Mesmo que o resultado tenha sido extremamente satisfatório, era possível notar uma certa tensão no começo da performance, principalmente quando Vedder subiu ao palco, às 21h50, depois de um consistente show de abertura de Glen Hansard. Gritos e palmas acompanharam os passos do músico até o centro, rodeado por instrumentos, incluindo violões, o ukelele (conhecido como uma espécie de cavaquinho havaiano) e guitarras. Ele apertou o play em uma máquina que reproduz o som das ondas do mar e gesticulou para que as pessoas se sentassem e fizessem menos barulho. Pedidos de silêncio vieram por todos os lados. Tensão: não seria possível vibrar no show do roqueiro que, há duas décadas, se pendura nas estruturas dos palcos como uma espécie de Tarzan do grunge – movimento, aliás, que o Pearl Jam ajudou a solidificar, ao lado de Nirvana e Soundgarden.

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Mas o gelo durou pouco. Cinco músicas, para ser mais exato: Vedder começou com “The Moon Song”, um cover de Karen O, da trilha do filme Ela, que concorreu ao Oscar de Melhor Canção Original; a primeira do Pearl Jam da noite, “Can't Keep”; e três faixas do disco solo Ukelele Songs, “Without You”, “Sleeping By Myself” e “More Than You Know”. Ao final deste primeiro trecho, com 14 minutos de razoável silêncio, o músico descansou o ukelele e empunhou uma guitarra. Pronto, gelo quebrado e, com mais duas do Pearl Jam, “Sometimes” e “Immortality”, o show estava garantido.

É como aquele primeiro encontro de um casal que já se conhece, mas nunca teve a oportunidade de estar à sós. Os primeiros minutos tensos, a busca incessante por assunto para não ver o “date” fracassar, a curiosidade, tudo fluindo e se ajeitando aos poucos. Com a banda, cujo nome não foi mencionado por Vedder em momento algum, o vocalista já passou pelo Brasil em 2005, 2011 e 2013. Neste formato intimista, foi a primeira vez.

“Todos estão bem? Sempre que toco com o grupo, vemos bandeiras do país de vocês. É bom estar aqui”, disse Vedder – sim, um elogio é sempre uma ótima saída para aliviar a tensão do primeiro encontro. E, na sequência, uma piada pode vir e deixar tudo mais descontraído, como manda a cartilha da paquera: “Como vocês podem ver, o meu português é uma merda. Então, vou falar pouco. Na próxima vez, vou para escola aprender o seu bonito idioma.”

Entrevista - Por dentro das gravações do novo álbum do Pearl Jam, Lightning Bolt.

A performance vocal de Vedder, aos 49 anos de idade, também impressiona. Quando fala com o público, soa rouco, mas ao cantar, ele ilumina até os corações mais devastados. Os críticos mais vorazes podem apontar algumas escorregadelas aqui e ali, principalmente nas canções mais antigas e selvagens do Pearl Jam, mas o grau de intimidade do formato solo praticamente acústico adotado por Vedder evidencia a beleza de uma voz maturada capaz de alternar momentos de doçura com versos vorazes.

Assim como faz no Pearl Jam, Vedder não parece ser adepto de roteiros pré-programados. Setlist escolhido com antecedência? Aparentemente, nem pensar. Ao lado do pé direito dele, o músico guardava uma pasta com as partituras e letras de todas as músicas que poderiam ser escolhidas. Quando alguém pediu por uma faixa que não estava na lista, ele ainda brincou: “Tocarei uma outra e vou lá fora aprender a tocar essa, pode ser?”

Entre as covers da noite, “The Needle and the Damage Done”, do clássico disco de Neil Young de 1972, Harvest, e “Good Woman”, de Cat Power, Vedder cantou as dores da perda como poucos seriam capazes. Ele ainda homenageou Joey Ramone, que foi líder do Ramones, com “I Believe In Miracles”. Nem mesmo o bis, tão praxe dos shows, é tão bem definido. Já no fim do show, ele chamou Hansard ao palco para uma versão de “Sleepless Nights”, do The Everly Brothers. “Nós gravamos essa música na primeira vez em que nos encontramos, em dez minutos”, explicou o músico. Vedder brincou com o convidado – “ele gosta de filme pornô” –, e errou a introdução da faixa: “É difícil acertar quando se está com filme pornô na cabeça”.

Vídeo compila várias quedas de Eddie Vedder no palco durante a carreira.

Já o repertório do Peal Jam foi bastante vasto, indo do lado B “Driftin'”, lançado em uma coletânea, até hits consagrados como “Better Man”, “Porch” “Just Breathe”, “Unthought Known” e “Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town”. Na última, aliás, Vedder deixou o microfone para trás e foi para a beirada do palco, para que o público cantasse aqueles versos melancólicos sobre velhice, solidão e reencontros. “The End” tem também uma performance caprichada, com o palco ficando em escuridão total ao final dos últimos versos: “I’m here / But not much longer”.

Com “Hard Sun”, o show chegou ao fim. Ao longo de 2h10, Vedder tocou mais de 30 músicas. E, se a metáfora do primeiro encontro ainda estiver valendo, esse teve um belo final feliz – e, de repente, pode até ter rendido um beijo de despedida.

Eddie Vedder volta a se apresentar na casa paulistana nesta quarta, 7, e quinta, 8. Ele segue para o Rio de Janeiro, onde toca nos dias 11 e 12, no Citibank Hall.

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