Vocalista do Pearl Jam fez show emocionante, atendeu a pedidos e serviu vinho para a plateia do Citibank Hall, em São Paulo
Marcos Diego Nogueira Publicado em 29/03/2018, às 18h27 - Atualizado às 20h38
“Espíritos entram de graça.” Foi assim, lendo um papel com frases em português no melhor estilo Karol Wojtyla (Papa João Paulo II), que Eddie Vedder conversou com a plateia no início do primeiro show solo da temporada que faz na capital paulista essa semana (ele também sobe ao palco do Credicard Hall nesta quinta, 29, e sexta, 30). Antes, já havia aberto o espetáculo tocando órgão em uma canção inédita (descrita no setlist apenas como “Untitled Organ Song”), partindo em seguida para a guitarra, em uma versão de “Walking the Cow”, de Daniel Johnston, e dando a primeira palhinha de qual seria o tom da noite com “Long Road”, música do Pearl Jam que integra o EP Merkinball e a trilha do filme Os Últimos Passos de um Homem. “Desde a última vez que toquei neste lugar, há três anos, eu tive diversas perdas. E não estou falando de futebol”, disse ele, lembrando, sem citar nomes, apenas “amigos, irmãos e heróis” – em uma clara alusão a Chris Cornell, líder do Soundgarden, que se suicidou em 18 de maio de 2017. “Ainda não acredito que ele se foi e, muitas vezes, toco as músicas dele para mantê-lo perto”.
Nenhuma faixa de Cornell, porém, entrou na vasta lista das canções selecionadas para a ocasião, que contou com covers de John Lennon (“Imagine”), Pink Floyd (“Brain Damage”), Warren Zevon (“Keep me in your Heart”), Tom Petty (“Wildflowers’), James Taylor (“Millworker”), U2 (“Bad”), Bob Dylan (“Masters of War”), The Clash (“Should I Stay or Should I Go”) e Nine Inch Nails (“Hurt”), que foi um dos momentos mais densos da apresentação. “Essa é de um amigo que se mantém vivo e forte. É uma música que não toco muito, mas às vezes é preciso”, disse.
No que diz respeito às canções autorais, Vedder divide o tempo entre o repertório do Pearl Jam e de seus dois discos solo, Ukulele Songs e Into the Wild. Deste, que é também a trilha sonora do filme Na Natureza Selvagem, destacam-se “Society” e “Hard Sun”, ambas com o acompanhamento do irlandês Glen Hansard, que fez um ótimo show de abertura e serviu como único músico de apoio em momentos pontuais. “Glen é um dos meus melhores amigos”, afirmou Vedder sobre o artista.
Em geral, a plateia clamava mesmo era por faixas do Pearl Jam, que na semana passada fez dois concertos matadores: na quarta, 21, no Maracanã, Rio de Janeiro; e, no sábado, 24, em São Paulo, como headliner do Lollapalooza. “I am Mine”, “Wishlist”, “Immortality”, “Porch”, todas foram ovacionadas e cantadas em coro. Um grito pela bela “Crazy Mary” foi atendido. Outro pedido, desta vez de um rapaz que Vedder encontrou na rua, segundo o próprio, culminou em uma rara e atrapalhada apresentação de “Light Years”, do disco Binaural. “Para o seu pai, José”, dedicou. Mas o atendimento de desejos do público parou por aí. Ou melhor, foram cessados pelo músico de forma bem humorada. “Vocês conhecem Mike McCready?”, questionou, referindo-se a um dos guitarristas do Pearl Jam. “Ele costuma tocar alto, muito alto mesmo, inclusive nos ensaios. Todos esses anos tocando com ele me deixaram surdo. Então, não consigo escutar o que vocês dizem, nem se vocês gritarem mais alto”, riu, entre um momento e outro de compartilhamento da própria garrafa de vinho com o pessoal do gargarejo.
Quando o fim estava chegando, o riff do The Clash, tocado em um ukulele com som de guitarra elétrica, ajudava a fazer a pergunta: “devo ficar ou ir embora?” Ele foi. “Amanhã tem mais. Sexta também”. E, se a tradição for seguida, esses serão shows bem distintos – entre si e em relação aos que foram realizados nos últimos dias. Sorte de quem conseguiu ingressos (já esgotados) para as apresentações. E dos espíritos, que poderão ir sem pagar nada.
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