Gustavo Sá, diretor artístico e produtor executivo do evento brasiliense, comenta o papel dele nos dias de hoje e fala da saída do Porão da Abrafin
Por Stella Rodrigues Publicado em 12/08/2011, às 11h57
O Porão do Rock completou 14 edições, em 2011. Ao longo desses anos, muita coisa passou pelo festival, conforme conta seu diretor artístico e produtor executivo, Gustavo Sá. Mudou de casa, de estrutura, "mas a essência é a mesma", afirma ele. Nesse período, com todas as questões relativas às diferenças na forma como se consome e distribui música, o papel dos festivais acabou se adaptando para não dançar. "A gente hoje assumiu o papel de gravadora e de rádio. Somos divulgadores, multiplicadores. Quando uma banda desconhecida de Brasília teria a chance de tocar em um palco desses, com um som desses e essa estrutura e, ainda, para um público desse tamanho?", argumenta, referindo à última edição do evento, realizada nos últimos dias 30 e 31 de julho.
Este ano, o festival passou por uma mudança significativa, a saída nada amigável da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes), com a qual Sá não compactua mais. "Fomos fundadores, ao lado de outros ajudamos a criar, consolidar e fazer a Abrafin crescer, mas saímos há alguns meses. Não compartilhamos mais dos ideais dela, a Abrafin foi absorvida pelo Fora do Eixo e eu, pessoalmente, não compartilho com as ideias deles", afirma o diretor. "Isso de não pagar cachê, por exemplo, sou totalmente contra. Todas as bandas que tocam no Porão do Rock ganham algum tipo de dinheiro, elas não pagam para tocar. Fora que achamos que a Abrafin ficou muito politizada. Sou produtor de rock, não sou político, não quero me eleger."
Política, aliás, é outro grande desafio quando se tenta fazer qualquer outra coisa em Brasília, cidade que gira em absoluto em torno do fato de ser a capital federal. "Aqui prevalece a coisa pública. Não temos grandes indústrias e empresas. Tem meia dúzia de empresários de grande porte, de um ou outro ramo. Mas não é como em São Paulo. Aí, você soma a isso ser um festival de rock independente, sem bandinhas pop do mainstream, e fica complicado."
Parte desses ideais aos quais o Porão tenta se manter fiel é o conceito de independente- conceito este que não necessariamente está atrelado ao apoio financeiro. Empresas e órgãos do governo bancaram a última edição do Porão (de entrada franca), patrocinado oficialmente pela Petrobras. Além disso, atrações robustas, como Jon Spencer Blues Explosion e Helmet integraram o line-up. A independência está em outra questão, para Gustavo. Está no já citado papel de divulgador, que come por fora daquilo que é sucesso radiofônico.
"A gente sempre foi um festival independente. Muitas vezes, realizado com ingresso gratuito e algumas vezes de forma bem barata, com ingressos populares. Em 2008, quando trouxemos o Muse, o ingresso custou R$ 10", enfatiza Gustavo Sá. "Cada vez mais trazemos bandas gringas, porque não houve renovação entre as nacionais de grande porte. A gente já trouxe todas. Então, buscamos outras alternativas. Fora do país e, mais do que isso, fora do mainstream nacional. Tivemos, este ano Copacabana Club, Camarones Orquestra Guitarrística, Garotas Suecas, Cidadão Instigado..."
A logística para reunir toda essa gente em Brasília não é simples. Mais de mil pessoas, segundo ele, trabalharam na edição 2011 para cuidar das bandas, imprensa, estrutura física do evento e acomodação do público, entre outros fatores. Porém, apesar da comparação com a primeira edição mostrar um festival muito maior, a linha do tempo aponta que ele já não está mais no pico. Este ano, recebeu 55 mil pessoas, sendo que o recorde de público foi algo em torno de 140 mil. "O festival foi crescendo naturalmente e muito rápido. Realmente já foi maior, mas nos estabilizamos em um formato que é ideal para a gente. Confesso que teve edição do Porão que eu rezava para acabar logo antes que desse algum problema, de tanta gente que tinha", admite.
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