Do pó-de-arroz discreto de Elvis Presley até o delineado marcante do Twenty One Pilots - uma linha do tempo de homens do rock usando maquiagem
Julia Harumi Publicado em 06/10/2019, às 10h00
Homens usando maquiagem não é novidade. No Egito Antigo, os faraós já usavam o que podemos chamar de o precursor do delineador. O pigmento preto - kohl- tinha propriedades químicas que protegiam os olhos e simbolizavam o status da elite.
Na Idade Moderna, nobreza e realeza usavam maquiagem para corrigir imperfeições, clarear a pele e realçar traços do rosto. Da mesma forma, as primeiras estrelas de Hollywood também se embelezavam para aumentar a elegância e beleza.
Porém, em algum momento da história, decidiu-se que a maquiagem era algo feminino. Homens usando maquiagem ganhou tom pejorativo, até mesmo em meios artísticos como cinema, teatro e música. Mas rock sempre foi subversão - e bateram de frente com a ideia.
Desde o início do estilo, na segunda metade do século XX, diversos astros do rock ousaram desafiar padrões estéticos - de vestimenta e ações. E também, padrões de maquiagem. Com glitter ou sombra preta nos olhos, os músicos criaram cenários e figurinos para as performances nos shows, e usam a diferença para encarar personas, também - o caso de Stardust e Bowie, por exemplo.
Para mostrar uma evolução histórica do uso de maquiagem alinhado ao rock, separamos 11 subgêneros do estilo e músicos de cada era que nunca se importaram em lambuzar o rosto. Veja:
A maquiagem acompanha os astros do rock desde o surgimento do gênero nos anos 1950. No rockabilly, os músicos usavam a maquiagem para destacar traços marcantes do rosto de um modo discreto e quase imperceptível.
Little Richard, por exemplo, já gostava de se maquiar antes mesmo de ser músico - treinava os traços com os produtos da mãe. Mais tarde, com a fama, os discretos olhos contornados se tornaram a marca do cantor. E quem seguiu os passos do precursor do novo gênero para o charme irreverente foi ninguém menos que o Rei do Rock, Elvis Presley.
Ao contrário da simpatia do rockabilly, o hard rock usava a maquiagem para confrontar padrões de gênero e criar um estilo próprio de expressão no final dos anos 1960 e durante os anos seguintes. Nascido em época de contracultura, o estilo queria abalar e quebrar padrões sociais - e então bandas como os Rolling Stones, Aerosmith e Queen abraçaram um visual andrógino propositalmente.
Freddie Mercury, Mick Jagger e Steven Tyler não se tornaram apenas estrelas do rock, mas ícones fashion ao usar cabelos compridos, roupas femininas, lenços, lápis de olho, sombra, unhas pintadas e até mesmo batom. De alguma forma, o visual afeminado intensificava o ar masculino e criou um novo anti-padrão para os rockstars (que manteve-se assim no hard rock).
O punk chegou nos anos 1970 pronto para rejeitar tudo o que era comercial e provocar os olhos e ouvidos do público. As roupas rasgadas, pichadas, customizadas com alfinetes e rebites junto com os moicanos e as maquiagens excêntricas fizeram o gênero musical se consolidar rapidamente como um movimento icônico.
O padrinho do punk, Iggy Pop, fugia um pouco dessa descrição. O cantor conhecido pela performance energética muitas vezes completa o visual do cabelos compridos, calças justas e sem camisa com lápis de olho básico e despretensioso.
A profundidade e teatralidade do heavy metal levaram a história da maquiagem no rock para outro nível. A maquiagem deixou de ser apenas um complemento do visual e passou a definir a persona que seria encarnada nos palcos.
As roupas justas e mirabolantes, as botas de plataforma e o rosto branco com desenhos pretos e pratas deram vida aos personagens criados pelo Kiss. Starchild, Demons, Spaceman e Catman são conhecidos por todo o mundo e se tornaram um símbolo da cultural, frequentemente reproduzidos em festas à fantasia.
Nos anos 1980, o rock alternativo e melancólico ganhou destaque com as bandas Bauhaus, The Cure e Siouxsie and the Banshees. Influenciados pela moda gótica, medieval e punk, os músicos desse gênero usavam e abusavam das sombras pretas, em pinceladas angulosas, e batons vermelhos.
E quando o assunto é cultura cult e sombras pretas, não tem como não mencionar Robert Smith. O vocalista do The Cure ganhou fama com as músicas tristes, os cabelo bagunçado e a maquiagem carregada. Assim como Smith, Peter Murphy também ficou conhecido pelos olhos esfumados com sombra preta ou vermelha.
Ainda nos anos 1980, uma tendência totalmente oposta aos góticos tomou conta do mundo do rock. Com muita cor e extravagância, o new wave e o glam rock deu continuidade à cultura andrógina e pop da década anterior.
Por meio do alter ego Ziggy Stardust, David Bowie foi na direção contrária dos subgêneros da época. Com os cabelos vermelhos, roupas brilhantes e maquiagens coloridas, o astro conquistou o público com a capacidade de mudar completamente o estilo visual e musical que tinha. Entre o rock e o pop, também podemos citar como símbolo fashion Boy George, que usava contornos e delineados neon, e Prince, com os olhos contornados bem definidos.
O glam metal surgiu da mistura do metal com a cultura pop andrógina que continuava firme e forte nos anos 1980. Os cabelos ganharam volume, as roupas carregaram no couro e as maquiagens pesada do heavy metal se tornaram mais femininas e parecidas com as das drag queens.
Os integrantes do Mötley Crüe representam o glam rock, principalmente Nikki Sixx com os olhos pintados, contornos vermelhos e traços pretos nas bochechas. Dee Snider também ajudou a moldar a visual do sub-gênero, com a sombra azul exagerada, o contorno geométrico e batom vermelhos.
Marilyn Manson e a estética bizarra caminham juntos. As lentes de contato brancas, as sombras escuras, que vão desde as sobrancelhas até o início das bochechas, e o batom vermelho-escuro foram um dos fatores que levaram o cantor chocar e ser admirado pelo público.
Junto com Rob Zombie, vocalista do White Zombie conhecido pelas maquiagens que simulam machucados e sangue, os dois marcaram o início do rock industrial e outros subgêneros similares como post-rock.
Apesar da introversão do grunge, Kurt Cobain defendia aberta e persistentemente a liberdade de expressão e de gênero. O ícone não usava a maquiagem para criar um personagem e conquistar o público, mas sim para protestar e contra o preconceito fortemente presente na sociedade.
E quando o líder do Nirvana se aventurava com a maquiagem,normalmente, ele fazia um contorno preto forte e definido em volta dos olhos. Além disso, Cobain e os outros integrantes da banda eram conhecido por usar roupas femininas como saias e vestidos nos shows e eventos.
Os anos 2000 foram marcados pelo auge da melancolia e do sentimentalismo emo. O subgênero musical influenciou a moda alternativa da época com a mistura de elementos góticos e esportivos. Franjas longas cobrindo os olhos e lápis preto debaixo dos olhos eram essenciais para quem quisesse seguir o movimento.
Por mais que Gerard Way não goste do título, ele é o símbolo máximo do emo. O vocalista do My Chemical Romance revezava entre o lápis preto e a sombra vermelha super-esfumada nos olhos. Outros músicos dessa década conhecidos pela maquiagem são Billie Joe, vocalista e guitarrista do Green Day; Pete Wentz, o baixista do Fall Out Boy; Brendon Urie, vocalista do Panic! at the Disco.
O indie rock surgiu nos anos 1970, mas no novo milênio, ganhou novo fôlego. Destacaram-se nomes como Arcade Fire, The Strokes e The White Stripes. A primeira e até mesmo a segunda onda do indie rock, composta por The Black Keys, Interpol e Kings of Leon, não eram adeptos da maquiagem, mas o cenário começou a mudar a partir da década de 2010.
Se tivermos que escolher alguma banda para carregar o legado da maquiagem masculina no rock seria Twenty One Pilots. Josh Dun e Tyler Joseph buscam envolver o público em uma performance cativante e cênica, que inclui a apresentação dos músicos com sombra vermelha nos olhos e tinta pretas nas mãos e no pescoço.
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