Depois de percorrer pelo country e o jazz, a cantora americana faz retorno triunfante ao pop eletrônico com Elton John, Ariana Grande e Blackpink no sexto disco de estúdio
Nicolle Cabral Publicado em 02/06/2020, às 07h00
Antes da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar estado de pandemia global, o single “Stupid Love”, lançado em fevereiro, anunciou o retorno de Lady Gaga ao mundo do pop. A faixa, acompanhada pelo clipe pink e futurista, nos apresentou ao planeta Chromatica - que dá nome ao disco - criado pela artista para nos introduzir a ‘nova era de Lady Gaga’.
Em março, porém, a popstar anunciou que o projeto seria adiado. O motivo pareceu óbvio: o aumento de casos do novo coronavírus. “Não parece certo lançar este disco durante tudo o que está acontecendo nessa pandemia global”, escreveu a artista em um tuíte.
Com isso, decidiu recuar e se dedicou em promover outros projetos que tentassem conscientizar a população da situação atual. A “live das lives”, One World: Together at Home, por exemplo, foi um evento online organizado pela cantora, em parceria com a OMS e a ONG Global Citizen, para reunir vários artistas icônicos e arrecadar fundos para o combate à pandemia. O resultado do megashow rendeu mais de US$ 127 milhões.
Depois dessa ação, o motivo pelo qual a interrompeu a lançar o projeto, parece ter sido o mesmo que a fez finalizá-lo - além do vazamento de alguns trechos das novas canções. Com o isolamento social, os casos de depressão aumentaram de 2% para 8%, enquanto os de ansiedade foram de 8,7% para 14,9%, segundo uma pesquisa realizada pela UERJ em parceria com Hospital New Haven, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. “Resolvi falar para ajudar quem estiver passando por coisa parecida. Acho que essa é a minha função na vida”, revelou a artista em uma entrevista ao O Globo.
Também em entrevista, desta vez ao Fantástico, a cantora relatou os problemas de saúde mental que estava enfrentando: “Eu estava com um quadro grave de depressão e a música me salvou". Com isso, na última sexta-feira, 29, Lady Gaga, sem mais hesitações, disponibilizou o sexto disco de estúdio, Chromatica, em todas as plataformas digitais.
O álbum, que conta com 16 faixas - entre elas, três interlúdios orquestrais e espaciais -, é o primeiro com inéditas depois de um hiato de quatro anos. Chromatica, além de dar nome ao planeta que todos gostaríamos de estar agora, sinaliza o retorno triunfal das raízes da cantora ao eletro-pop e aos figurinos extravagantes presentes na era dos primeiros hits, "Just Dance" e "Poker Face", de 2008, e "Bad Romance", do ano seguinte.
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Em Chromatica, Gaga revisita a identidade pop que conquistou com The Fame (2008), The Fame Monster (2009) e Born This Way (2011). Algo distante dos últimos projetos, como o Artpop (2013) em que se juntou Tony Bennett e explorou o jazz, e a pegada country de Joanne (2016), que rendeu um Oscar com o hit "Shallow" como Melhor Canção Original do filme Nasce Uma Estrela - produção na qual Gaga também atua.
A artista, porém, se apresenta na melhor forma quando volta às origens. A faixa "Alice", por exemplo, retoma a modulação vocal familiar aos monstrinhos (fãs de Gaga): "oh, ma-ma-ma" com o "ra-ra-roma-ma" de "Bad Romance". "Stupid Love", que vem logo na sequência, apesar da estrutura mais simples e comercial, acompanha a atmosfera pop do final dos anos 2000 emplacada nas rádios por Gaga.
"Rain on Me", o dueto com Ariana Grande - que já coleciona o recorde de ser a primeira colaboração unicamente feminina a estrear na primeira posição do Hot 100 da Billboard - volta as batidas dos anos 1990. Esse recorte de década dentro do pop, não foi buscado apenas pela artista este ano. Dua Lipa, com Future Nostalgia, também revisitou as baladas de Madonna e Kylie Minogue que movimentavam as pistas entre 1980 e 1990.
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Ao lado de BloodPop (Michael Tucker, produtor americano responsável pelos hits como "Sorry", de Justin Bieber e "Internet" de Post Malone), a dupla criou, ao longo de 43 minutos, uma sequência de músicas arrebatadoras. Ainda na primeira fase Chromatica, aparece "Free Woman" - que ganha força pela composição sobre o abuso que Gaga sofreu de um produtor, quando tinha 19 anos -, e "Fun Tonight", o hit pop melódico, que mostra uma visão introspectiva da cantora sobre a fama e um arranjo que chega à altura.
Quando passado o Chromatica II, o disco parece ter chegado no melhor momento. A sequência "911", "Plastic Doll", "Sour Candy", "Enigma" e "Replay" assume os riscos musicais tomados por Gaga. Desde a influência dos The Buggles e Kraftwerk à ousada (e certeira) parceria com o grupo de K-pop Blackpink em "Sour Candy", Gaga constrói, à própria maneira, o disco mais coeso da carreira.
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Na terceira parte de Chromatica, "Sine From Above", faixa em parceria com Elton John, ídolo e amigo de longa data, é destaque. Quase que um "prog-pop", a música tem atmosfera dramática e unida aos sintetizadores estimula uma ansiedade pelo refrão épico. O resultado é Elton John dançando, com simpatia, de óculos e terno colorido. A sequência de "1000 Doves" e "Babylon" dão o tom - ainda intensos - do fim da balada. Todos exaustos.
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O mergulho no pop, eurodance e house music unido às composições melancólicas - ora românticas e conturbadas, ora otimistas - capturou o exato instante em que, no sábado a noite, sentimos falta estar em uma pista de dança, conversar com estranhos e entrar em uma fila para pegar um drink. Ironicamente, apesar do momento, o pop frenético do disco soa reconfortante - principalmente se você já deu um jeito de se acostumar com as baladas online. Os sete anos de espera dos fãs pela faceta pop da cantora foram vencidos por Chromatica. Agora, resta esperar o encontro dele com as pistas de dança.
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