Titãs na ópera rock <i>Doze Flores Amarelas</i> - Divulgação/Festival de Curitiba

Em pré-estreia de ousada ópera-rock, Titãs mistura teatro, cinema e música em espetáculo inédito

A banda mostrou o novo projeto, Doze Flores Amarelas, pela primeira vez no Festival de Curitiba

Redação Publicado em 04/04/2018, às 19h11 - Atualizado às 19h16

“O que é um ensaio aberto? É um espetáculo!”, disse Hugo Possolo, fundador do Parlapatões (teatro de São Paulo) e um dos diretores de Doze Flores Amarelas na abertura da primeira apresentação da nova ópera rock do Titãs. Ele estava ao lado de Otávio Juliano (de Sepultura Endurance e codiretor) anunciando o “ensaio aberto” que integra a primeira das duas noites (terça, 3, e quarta, 4) de pré-estreia do espetáculo no histórico Teatro Guaíra, durante o Festival de Curitiba. De ensaio mesmo, houve apenas uma única parada, já no fim do show, e a banda mostrou na íntegra a ousada empreitada artística – primeira autoral depois da saída de Paulo Miklos, em 2016.

Doze Flores Amarelas foi anunciado como um híbrido de teatro, cinema e show, com um cenário de dois pisos, a banda posicionada ao meio (com o guitarrista Beto Lee e o baterista Mário Fabre, além de Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto) e as três atrizes/cantoras protagonistas em movimento por todo o palco. A voz de Rita Lee surgiu em gravações para narrar pontualmente os três atos e conduzir o enredo. Tudo isso para contar uma história que já havia sido revelada na sinopse, entregue ao público em um folheto na entrada: três garotas usam um aplicativo chamado Facilitador para sair e se divertir, usam drogas, são estupradas, sofrem as consequências do trauma e buscam uma vingança indireta contra seus agressores.

Atrizes, projeções e 25 músicas inéditas: por dentro da ambiciosa ópera rock do Titãs

A dinâmica gira em torno da banda cantando o que acontece na trama, passeando pelas particularidades das personagens (as protagonistas, que têm o mesmo nome, Maria A, Maria B e Maria C, ganham trechos próprios dentro dos três atos). As projeções acrescentam à narrativa, como quando Bellotto assume o microfone para um punk de vingança (“Canção da Vingança”) e surgem palavras relacionadas ao tema ao fundo, por exemplo. Há pouco espaço para interpretações, com o “roteiro” bastante fechado no argumento (desenvolvido com participação também do escrito Marcelo Rubens Paiva) e simulações de posts nas redes sociais ajudam a reforçá-lo. Um exemplo disso é quando os agressores vão a uma espécie de Facebook se defender das denúncias e postam que as “Marias” são “vagabundas”, “safadas” e “pediram” o estupro. Enquanto isso, na voz do personagem “vilão”, Britto canta: “Elas enlouquecem e agora a culpa é nossa.”

Musicalmente, o grupo reúne riffs, viradas e solos típicos do rock mais clássico – a referência está muito mais no passado do que na trajetória da própria banda, lembrando

quase diretamente clássicos como os que o The Who eternizou na ópera-rock Tommy –, em faixas curtas que ora soam como interlúdios, ora como canções completas. Nas letras, a banda tenta resgatar as sacadas inteligentes e a ironia ácida dos discos que construíram a história do Titãs.

Doze Flores Amarelas é um espetáculo que mistura teatro (com partes de dramaturgia), um pouco de cinema (as projeções funcionam como ambientação e exibem vídeos relacionados à narrativa) e, em termos de música, uma trilha sonora abarrotada de 25 faixas. A esta altura – com um terço da formação original remanescente –, o Titãs parece estar buscando algo que soe inédito e inovador (uma ópera-rock no Brasil) e mantenha seu nome ainda em relevância.

*O jornalista viajou a convite da produção do festival

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