Eminem em São Paulo - Roberto Larroude

Eminem, atrasos e muita chuva no F1 Rocks

A primeira edição do evento ligado à Fórmula 1, realizado na última sexta, 5, teve bons shows, mas foi marcada pelo mau tempo

Por Stella Rodrigues Publicado em 06/11/2010, às 14h31

A programação queria que Eminem fosse o headliner do evento, mas um tal de São Pedro resolveu tentar roubar a cena. Foi debaixo de um dilúvio que o rapper norte-americano fez sua primeira apresentação no Brasil, durante o F1 Rocks, que aconteceu na última sexta, 5, no Jockey Club, e contou, ainda, com Marcelo D2 e o grupo N*E*R*D. O evento é ligado à Fórmula 1 e à realização do Grande Prêmio do Brasil no próximo domingo, 7. Mas, se na Fórmula 1, chuva é sinônimo de injeção de emoção na corrida, no caso de um festival ao ar livre, a tempestade apenas significou muito atraso. O jeito foi improvisar: shows mais rápidos, músicas em versões mais curtas e medleys. Deu sorte quem ficou preso nos tradicionais congestionamentos de sexta-feira da cidade e ainda assim chegou a tempo de ver as três atrações da noite.

Marcelo D2

A apresentação de Marcelo D2 estava programada para começar às 19h. Por volta desse horário, a primeira chuva da noite começou a cair e a encharcar o palco. Quando os pingos deram uma trégua e os funcionários pareciam estar perto de terminar de secar tudo, ela deu as caras novamente, desta vez ainda mais intensa. A conclusão: já eram quase 21h15 quando Marcelo D2 pôde finalmente subir ao palco. O simpático cantor levou o atraso com bom humor e começou a noite em um ótimo clima puxando coro de "parabéns a você" para ele mesmo, em ritmo de hip-hop: D2 comemorava 43 anos na ocasião e declarou-se várias vezes muito contente de celebrar a data no evento.

Começou a apresentação com "Vai Vendo" e conseguiu animar o público, mesmo que este já tivesse cansado de esperar, em pé e com as roupas molhadas para o início dos trabalhos. Continuou ao som de "A Maldição do Samba", "A Procura Da Batida Perfeita" e "Desabafo", com pequenos intervalos entre uma e outra para incentivar os presentes a cantar e dançar, mas correndo com o show - como ele mesmo brincou, tempo é dinheiro em u show atrasado. Até então, só podiam ver o rapper, de fato, aqueles que estavam na pista VIP. A comum, bastante afastada, não pôde contar com os telões até quase o final da apresentação de D2, quando a transmissão começou.

A performance teve ainda "Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá)", parceria do músico com Seu Jorge ("Ele não está aqui, mas vocês podem me ajudar", pediu, e o público colaborou no coro) e foi encerrada, menos de meia hora depois de seu início, ao som do hit "Qual É", seguido de mais um coro de parabéns, desta vez puxado pelos fãs.

N*E*R*D

Depois de um batalhão correr por todo o palco para reorganizá-lo o mais rápido possível e não agravar ainda mais o atraso, o trio N*E*R*D assumiu a noite. O projeto liderado pelo megaprodutor de hip-hop/pop/R&B Pharrell Williams mostra uma veia mais rock e experimental do artista, misturando diversos estilos ao rap. "Everyone Nose (All the Girls Standing in the Line for the Bathroom)" abriu os trabalhos. Logo de cara, as chamativas dançarinas que acompanham o grupo captaram a atenção com seu show a parte. As duas, cada uma em uma ponta do palco, sambaram, fizeram passos de lambada, dança do ventre, atuaram como animadoras de plateia e ajudaram a contagiar as pessoas com uma energia aparentemente infindável.

Pharrell, simpático, mas de jeitão reservado, gritou várias vezes o nome da cidade, pedindo a participação da plateia toda hora e usando algumas frases de efeito do livro dos "Artistas gringos que se apresentam no Brasil: como agradar a nação verde e amarela". Pharrell deve ter lido atentamente o capítulo que diz como interagir com o público feminino: afirmou, entre outras coisas, que o Brasil tem as mulheres mais bonitas do mundo.

O repertório trouxe algumas faixas do novíssimo álbum do trio, lançado esta semana nos Estados Unidos. Tocar faixas pouco conhecidas é sempre um risco, já que nos shows um dos grandes baratos é acompanhar a letra, esperar aquela virada preferida da canção e dançar com ela. Mas as novidades seguraram bem o ritmo, até porque "Hypnotize U", produzida pelo Daft Punk, e "Hot-n-Fun", com participação da Nelly Furtado, já foram lançadas como singles.

"She Wants to Move" proporcionou um dos momentos mais animados da performance, mas perdeu para a hora em que o grande hit "Beautiful", de Snoop Dogg com a participação de Pharrell, foi executada. O hit, cujo videoclipe foi gravado no Rio de Janeiro, fez todo mundo cantar, até quem estava ali para ver o Eminem e passou a maior parte da apresentação do N*E*R*D meio perdido.

A apresentação, também mais curta do que o planejado, teve apenas pouco mais de 30 minutos, mas foi suficiente para mostrar porque todos o rappers de prestígio querem trabalhar com o talentoso Pharrell.

Eminem

No intervalo que antecedeu o show do Eminem, ela deu o ar da graça novamente. A contumaz chuva voltou a cair e desta vez estava mais para tempestade. Marshall Bruce Mathers III, como foi batizado o polêmico rapper, não se intimidou com a inconveniência, estava lá para se molhar junto com os fãs e entregar a eles suas famosas rimas, conforme lhe foi encomendado. Mostrou-se 100% dedicado e não aparentou insatisfação com as condições climáticas uma só vez, pelo contrário, repetiu várias vezes e demonstrou o quanto estava contente de estar ali.

Ele começou a cantar por volta das 23h, em um palco mais adornado do que o que foi montado para as atrações anteriores. Uma estrutura metálica organizava a banda ao fundo do palco, que ficou um pouco mais protegida da água, evitando um eventual curto na parte elétrica que acompanha os instrumentos.

Logo de cara, o telão - agora, mais do que nunca, parte integrante do show, exibindo videoclipes do artista e outras imagens misturadas à gravação da apresentação - explica a saga de Eminem nos últimos tempos: como o rapper encarou a clínica de reabilitação para largar as drogas e se afastou da música, mas conseguiu voltar com tudo. Inclusive, este ano, lançou um álbum muito bem sucedido e apropriadamente chamado de Recovery (recuperação).

Foi justamente uma faixa desse disco, "Won't Back Down", que deu o pontapé inicial. A backing vocal da banda dublou a gravação com a voz da cantora Pink, que divide o microfone com o rapper na canção. O mesmo aconteceu em "Love the Way You Lie", que traz vocais de Rihanna, originalmente, e o grande hit "Stan", que sampleia "Thank You", sucesso que catapultou Dido para o sucesso.

Esta última música, de 2000, traz rimas rápidas e complicadas, mas que ainda estavam na ponta de língua de muita gente, evidenciando que grande parte do público que estava ali conhece Eminem há algum tempo. Isso ficou mais do que provado com a clara empolgação causada por outros hits mais antigos do rapper, como "The Real Slim Shady" e "Without Me". Ainda assim, ele equilibrou bem as fases de sua carreira, trazendo para sua primeira apresentação na América Latina um pouco de cada período de sua trajetória na música. Do disco novo também estiveram lá "No Love", mais uma faixa com sample, desta vez de "What Is Love", dance noventista do Haddaway, e "Not Afraid".

Quando Eminem deixou o palco, ensopado e com o microfone chiando bastante - provavelmente por causa da grande quantidade de água que entrou nele - a chuva já havia quase cessado. E muitos continuaram lá esperando um bis. Aos berros, alguns pediam "Lose Yourself", trilha sonora do filme 8 Mile - Rua das Ilusões, o hit que estava faltando no setlist. Quando Eminem voltou a pisar nas poças de água formadas em cima do palco, não faltou mais nada: "Lose Yourself", única música do bis, fechou a noite à 0h10, apenas dez minutos após o horário inicialmente estipulado para encerrar o festival.

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