Orange is the new black - terceira temporada - Jojo Whilden/Netflix

Entenda como as estrelas improváveis de Orange is the New Black revolucionaram a televisão

O enredo da série, que já ganhou mais de 20 prêmios pela adaptação da autobiografia de Piper Kerman sobre o ano que passou em uma penitenciária feminina, tem sexo, tramoias, paixões e atrizes que não vemos frequentemente

Mac McClelland - Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 12/06/2015, às 11h47 - Atualizado às 13h38

Taylor Schilling tem feito muitas sessões na terapia. “Tanta”, conta durante uma caminhada na manhã de um domingo ao longo do rio Hudson, perto de seu apartamento em Manhattan. “Tanta terapia”. Assim, a atriz de 30 anos, com o rosto sem maquiagem e sem malícia sob o sol que reflete na água, é tremendamente bem ajustada. Ela não bebe. Não discute publicamente sua vida pessoal – quem está namorando, o motivo de tanta tanta terapia – a não ser para dizer: “Se você realmente está vivendo, a vida é complicada”.

Está centrada em seu porte franzino, falando e andando muito lentamente e, como uma boa pessoa, fica preocupada com a segurança do meu emprego se eu não tiver nada empolgante para dizer sobre ela. “Veremos como vamos fazer você conseguir algo divertido, mas não do tipo ‘como perdi minha virgindade’”, diz, mas acaba não conseguindo pensar em nada suculento. Exceto, talvez, ao questionar por qual razão os chefes dela não lhe fazem um favor. “Estou pagando pela porra do Netflix”, reclama. “Queria falar com alguém sobre isso.”

Em resumo, Schilling não é problemática, diferentemente de sua personagem em Orange is the New Black, Piper Chapman, presa por transportar dinheiro da venda de drogas e que, às vezes, é tão ignorante e manipuladora quanto superior. Taylor diz que ela “não é particularmente uma querida”, mas mesmo assim conquistou o público como o personagem principal do maior sucesso cultural da Netflix desde que o serviço começou a injetar centenas de milhões de dólares em conteúdo original. Em sua segunda temporada, a série se tornou a mais vista na Netflix, que tem 60 milhões de assinantes no mundo inteiro. Em 2014, “Piper” estava na lista de nomes de bebê mais comuns para meninas nos Estados Unidos.

Querida ou não, Piper é exatamente o que Taylor estava procurando. Criada em Boston por pais executivos, ela abandonou um programa de artes na faculdade para fazer testes para papéis e conseguiu alguns – em Mercy, que durou pouco na NBC, em Argo, e até em uma obra de Nicholas Sparks na qual deu uns amassos em Zac Efron. “Queria fazer coisas em que acreditasse”, conta, “Mas os papéis para mulheres realmente podem ser como um apêndice para outra pessoa. É a melhor amiga ou a namorada – você não está no comando da própria narrativa”. Decidiu não aceitar mais papéis assim, ponto final, mesmo se isso a afastasse das telas. Estava preparada para trabalhar em peças com pouco público. Possivelmente, teria passado muito tempo “reavaliando” na casa da avó, no Maine.

“É engraçado, quando você está totalmente tipo ‘fiiiiiiiu’” – ela dá um assobio – “é quando as coisas chegam. Não estava lendo muitos roteiros, mas minha agente falou: ‘Este roteiro é muito bom’, e tinha razão. Havia tantos lados diferentes nessa mulher”, diz sobre seu papel. “Ela não era definida por apenas uma coisa.”

É por isso que Orange is the New Black, que já ganhou mais de 20 prêmios por sua adaptação da autobiografia de Piper Kerman sobre o ano que passou em uma penitenciária feminina, não é apenas um seriado popular, mas também um evento histórico: tem muitas mulheres. Mulheres que fazem coisas que nunca vemos mulheres no entretenimento fazendo – e o referencial máximo disso é simplesmente interagir com outras mulheres sobre tópicos que não giram em torno de homens. Orange – como o elenco a chama – está cheia de morte, de sexo, de apoio, de tramoias, de mulheres se masturbando desesperadamente, vivendo em um sistema penal que geralmente tentamos esquecer, representadas por atrizes que não vemos frequentemente.

Isso, é claro, não vale para Taylor ou Laura Prepon, antes conhecida como a alta e linda Donna em That ’70s Show, mas agora reconhecida como a dominadora e calculista Alex, mais uma “lésbica” branca que se une a Piper na prisão para sexo, jogos de poder e brigas entre amantes. Depois de oito anos em ’70s e duas séries depois dela, Laura, aos 32 anos, havia declarado uma pausa da TV e estava querendo fazer filmes, mas quando leu o roteiro de Orange, agendou uma audição imediatamente, a princípio para o papel de Piper. Ela diz que Orange “definitivamente mudou minha perspectiva” sobre a televisão. “Em muitos dos filmes que vejo agora, o material nem de longe é tão bom quanto o que consigo fazer todo dia.”

No entanto, para o resto do elenco de Orange, a criadora Jenji Kohan, que se tornou uma mulher com quem todo mundo queria trabalhar depois do sucesso de oito anos em Weeds, montou um elenco de atrizes sub-representadas – uma atriz transgênero no papel de uma mulher transgênero, uma sapatão gorda realmente interpretada por uma sapatão gorda, diversas atrizes que haviam desistido da profissão depois de perceberem que eram velhas demais, africanas demais, latinas demais, gays demais ou grandes demais para Hollywood.

Jenji, uma mulher de 45 anos que usa óculos e é conhecida por tingir o cabelo de várias cores, dava tanta importância a ter grandes estrelas em seu novo projeto quanto dá aos prêmios que ganhou (“O que interessa é que as pessoas estão assistindo e gostando e falando sobre isso. Com relação ao ciclo de prêmios, todos podem ir à merda”). “Acredito muito no processo de audição, na pessoa certa para o papel certo, nao por causa do reconhecimento do nome ou da fama”, afirma. “Estou procurando atores para servir ao papel, não o contrário.”

O resultado é um seriado amplamente elogiado por sua diversidade inédita. Jenji já admitiu que usou a protagonista branca de Taylor para basicamente fazer os canais se interessarem por Orange. Não é seu único truque – o elenco feminino marginalizado usa seus talentos incríveis para fazer o público se envolver com, talvez, a população mais marginalizada de todos os tempos: prisioneiras.

Nesta temporada, Orange tem 14 personagens fixas, cujas trajetórias humanizam as invisíveis criminosas que representam de formas variavelmente tristes e hilárias. Como na última temporada, compõem tanto da narrativa que Piper mal se qualifica mais como a personagem principal. “O lindo em Orange é que você vê esse bando de mulheres”, diz Uzo Aduba, que, aos 34 anos, é uma das muitas atrizes na série que haviam abandonado a profissão antes de conseguirem seus papéis. No seriado, é Suzanne Warren, mais conhecida como Crazy Eyes. “Quando cheguei para trabalhar, falava: ‘Parece a Ilha dos Brinquedos Roubados’.?”

Quando Jenji estava selecionando artistas para o papel de Sophia, a cabeleireira transgênero, não poderia imaginar que Laverne Cox se tornaria um ícone. “Não posso prever o futuro, mas sabia que queria uma atriz realmente transgênero para o personagem. E Laverne foi a melhor.” Quando falo com Laverne, sentada no sofá do lado de fora de uma sessão de fotos, a atriz de 31 anos admite que suas ideias sobre Orange podem ser “grandiosas”, mas, para ser justo, ela estava trabalhando em um restaurante há apenas três anos e, desde então, apareceu em várias capas de revista e deve interpretar uma advogada transgênero em um futuro piloto do canal CBS. “Revolucionamos a TV”, afirma. “Acho que a diversidade inédita que vimos na primeira temporada não seria possível se não fosse por nós.”

Crescendo no Alabama com uma mãe solteira que “trabalhava como um cão” e um irmão gêmeo – ele faz sua personagem pré-transição em flashbacks em Orange –, Laverne gostava de dançar, modificar roupas de segunda mão e era agredida sem piedade. Sua carreira atual mal era imaginável na época, quando havia zero transexuais na televisão. Aos 11 anos, tentou suicídio. Agora, é um dos rostos mais conhecidos da comunidade transgênero, uma visibilidade que ela sabe ser importante, “especialmente no que a autora Bell Hooks chama de ‘patriarcado capitalista supremacista branco imperialista’.”

A pressão dessa responsabilidade pode ser intensa – “É demais, porque sou um ser humano com defeitos” –, além de expô-la ao falatório constante dos preconceituosos. Na noite anterior a meu encontro com Laverne, alguém a enviou comentários transfóbicos nas redes sociais. “E isso doeu”, conta. Só que ela tem muitas ferramentas para conseguir lidar com os intimidadores (também está fazendo terapia: “Toneladas. Toneladas”), uma das quais é escrever uma lista de todos os motivos pelos quais é bonita, o que já fez. Começa a chorar quando fala sobre isso. “Estou muito cansada, então vou ficar emotiva hoje”, diz.

Apesar de toda a sua feiura, Cox credita à Internet o progresso feito desde sua infância. “Tem sido uma maneira de conectar, e também um jeito de amplificar nossas vozes, amplificar nosso ponto de vista. Acredito que há muitas histórias trans para contar, e elas ainda não foram contadas.” Orange lhe deu a plataforma para contar algumas delas. Sem o programa, afirma, “eu não estaria aqui.” Ela não é a única.

Uzo me encontra em um café em Chelsea, o cabelo sem os característicos nós, mas com mechas lisas, usando um suéter justo e calças soltas imaculadas. Filha de imigrantes nigerianos e estrela do atletismo no ensino médio, ela descobriu a paixão por atuar enquanto estudava ópera no conservatório da Universidade de Boston, mas, antes de abandonar a carreira aos precoces 31 anos, nunca havia estado na TV ou em um filme. Não foi por falta de tentar: tinha aparecido em peças e ido a audições atrás de audições. No entanto, “mesmo no teatro eu não me via”, afirma. “Não via a diferença ou isso ser celebrado”. Desistiu no dia em que saiu de uma audição para Blue Bloods, um papel que sabia que não conseguiria.

“Pensei ‘Já chega, desisto e estou abrindo mão’”, conta. “Estava no trem chorando, não alto, mas, sabe, aquele tipo de choro – as lágrimas que você não consegue evitar. Tinha desistido de tudo. Foi tão duro para meu coração, porque amava aquilo”. Ela entraria para a faculdade de Direito. Pelo menos isso deixaria sua família orgulhosa. Uzo foi para casa, pediu vinho e sushi para se consolar e assistiu a um episódio de Oprah’s Master Class para não se sentir sozinha. Ali estava Lorne Michaels, falando sobre como, no começo, o Saturday Night Live havia sido criticado e ele pensava se desistiria, quando uma imagem etérea apareceu na tela durante sua fala, um balanço pendurado em uma árvore, com um entardecer rosa ao fundo, e as palavras que ele disse: “Mantenha a fé”. Eram 17h43 de 14 de setembro de 2012, e ela sentiu a mensagem penetrar. O telefone tocou. Era sua agente: Uzo havia conseguido um papel em Orange. Um tempo depois, voltou a assistir o episódio com Lorne Michaels de Master Class novamente. A parte onde viu a imagem e as palavras “mantenha a fé” não estava na tela. Nunca havia estado.

Há histórias suficientes de redenção da vida real dentro da história de redenção romanceada de Orange para encher um episódio inteiro. Veja Selenis Leyva, a cubana-dominicana-norte-americana de 40 anos que faz Gloria, a deusa da cozinha que mexe com feitiçaria. Criada no Bronx, antes de Orange era uma atriz com 20 anos de carreira, conseguindo papéis em tudo, de The Sopranos a The Good Wife, mas “não conseguia encontrar trabalho contínuo”, diz. Estava ficando velha para os padrões de Hollywood e ouvia depois de audições que “não sou suficientemente latina porque uma latina não é para ser afro-latina.” Selenis tinha uma filha para sustentar, então decidiu abandonar a carreira. “Estava em um momento na minha vida no qual não atuaria mais”, conta. Só que seu agente ligou e... bom, você sabe como a história continua.

Ou então, veja Lea DeLaria, a já mencionada e autoproclamada sapatão gorda que faz a Big Boo em Orange. Bebendo um copo de vodca do tamanho do seu rosto no Palm Restaurant no West Side em Manhattan, relembra durante o almoço como, alguns anos atrás, desistiu de atuar e do país. Cansada de conseguir apenas pequenos papéis, arrumou as malas, entregou o apartamento e embarcou em um avião para Londres, onde vivia muito bem como uma renomada cantora de jazz e comediante de stand-up. Havia acabado de aterrissar quando viu que tinha 12 ligações perdidas de seu empresário, dizendo que era melhor ela voltar para este papel de Jenji Kohan que havia acabado de conseguir.

Lea, de 57 anos, é uma ex-estudante de escola católica que é tão desbocada pessoalmente – ela me contou uma piada sobre diarreia durante o almoço tão detalhada que seria cruel repetir – quanto é no seriado. O papel de Big contribui imensamente para o enfrentamento da série à sexualidade “normal” da TV. “Eu fazendo sexo com um consolo foi, tipo, a melhor coisa que já aconteceu”, diz Lea sobre uma cena da nova temporada. “Porque quando você já viu isso?” Jenji afirmou que sua política com relação ao sexo, em geral, é que quanto mais sexo, e mais gráfico, melhor. Considere uma fala da segunda temporada – validadora para mulheres que transam com mulheres em todo lugar – na qual a personagem Poussey (também lésbica na vida real) e sua namorada estão impotentemente tentando esfregar suas vaginas até que Poussey desiste e diz: “Eu te falei que esse negócio de tesoura não existia.” “Ri tanto com aquilo”, conta Lea. Ela balança a cabeça, lamentando essa posição sexual, e uma cultura que só consegue entender o sexo lesbiano como psicologicamente ridículo. “Que perda de tempo.” “Minha política e minha humanidade são mais importantes para mim do que tudo”, continua. “Laverne e eu enxergamos o que está acontecendo conosco como uma oportunidade de fazer avançar algumas políticas que nos tocam profundamente.” “A pauta gay?” brinco. “Bom, para Laverne seria a pauta trans. Para mim, é a pauta sapatão. Transar com o máximo possível de garotas.”

Não se engane: um grupo de autoidentificadas desajustadas não significa um desastre fora das telas. “Não vamos ser o exemplo para como mulheres não dão certo juntas”, Uzo diz que Jenji (a quem chama de “mamãe urso”) deixou claro. “Ela falou desde o início: ‘Não quero babacas no meu programa’”, conta Selenis, que atribui a ausência de brigas ou picuinhas e os bons sentimentos às lutas que as atrizes enfrentaram. “Todas somos gratas por esta oportunidade de estar em uma série que não é apenas sobre o quão magra ou jovem você é”, afirma. “Sabemos como é fazer audições e ouvir que você não é o tipo certo.”

Também há Dascha Polanco, que diz: “Não desvalorizo as oportunidades dadas porque, para mim, é difícil ser latina em Hollywood. Sabe, as inseguranças de crescer e não conseguir ver alguém com quem você se identifique na mídia”. Sua personagem que engravidou do carcereiro, Daya, é tão supercalma que fico completamente despreparado para o quão animada ela é, tocando meu braço ou perna frequentemente para enfatizar algo – ou para o fato de que ela me cumprimenta com um beijo assim que nos conhecemos. Era uma mãe solteira que trabalhava em um hospital quando conseguiu o papel, aos 20 e tantos anos.

Também há Danielle Brooks, a “bebê” de 25 anos do elenco fixo, que faz o papel de Taystee. Ela lutou para conseguir papéis depois de se formar na Juilliard e também com o “amor próprio como uma mulher curvilínea plus-size”. Fãs já lhe disseram que se identificam com Orange porque “as pessoas são representadas lá”.

Já Ruby Rose, de 29 anos, a novata genderqueer da terceira temporada, não é a última pessoa que você esperaria ver na TV, tudo bem, mas ela teve de competir com mais de 50 atrizes pelo papel. E como o seriado é “atuação da melhor qualidade”, ficou “um pouco preocupada, tipo ‘vou ser suficientemente boa? Vou fazer um bom trabalho?’.”

Seja lá quais forem os motivos para essas mulheres não serem babacas, “esta é minha vida”, diz Jenji sobre sua política contra trabalhar com gente difícil. “Passo a maior parte da minha vida no trabalho, tristemente, e ela é curta demais para gastar tempo com gente que a deixa desagradável.” Portanto, como Lea diz, “Não há uma porra de uma vadia diva no nosso programa.”

Se você já perguntou se os atores que interpretam suas personalidades de prisão favoritas são o tipo de gente com quem teria a sorte de ficar preso – ou ter, digamos, como melhores amigas ou namoradas –, a resposta é ‘sim’. Enquanto encontro e falo ao telefone com diversas atrizes, todas são gentis e centradas.

De todas as histórias de redenção que cercam Orange, a de Natasha Lyonne é a mais dramática. “Ela estava procurando uma segunda chance na carreira”, conta Lea. “E mandou maravilhosamente bem.” Pessoalmente, Natasha é tão barulhenta quanto qualquer fã de seu personagem, Nicky, a lésbica ex-viciada, mordaz, mas doce, e predadora da penitenciária de Litchfield, esperaria que ela fosse. Sentamos em seu apartamento em Manhattan, cheio de itens da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto (“viu, isto é depois da guerra, 28 de dezembro de 1945, porque meus avós são sobreviventes do Holocausto, então acho que eles tinham, tipo, casacos de pele... e agora olha isso, é um desenho de oficiais da SS matando judeus, viu?”), fazendo uma pausa para fumar (Marlboros finos e cortados, porque “tenho, tipo, 1,58 m ou algo assim, então acho que provavelmente tenho pulmões menores; cigarros de verdade são feitos para gente mais alta”) antes de ir de carro até Midtown para devolver um bracelete de diamante que ela pegou emprestado da madrinha (“foi um presente de um dos amantes dela. É, acho que ela deve transar muito bem”). Ela me diz que vai fazer xixi, depois esclarece: “Pelo buraquinho”. Então, pergunta quantos buracos tenho e bota a culpa pela pergunta na personagem.

“Pronto, Nicky está no meu sangue agora”, afirma. A confiança da personagem penetrou em sua psique e isso a faz ter “mais colhões” para fazer perguntas, paquerar gente e enviar mensagens de texto – só que não tanto na cama. “Basicamente porque o sexo distrai e se é bom, você não fica realmente ‘Ah, vou te mostrar minha próxima posição’. Tomara que você não fique pensando tanto no negócio, tipo ‘Você não vai acreditar no que posso fazer’.”

Diferentemente do resto das colegas de elenco, que foram crianças na infância, Natasha está na TV desde os seis anos, estrelando em Pee-wee’s Playhouse. Quando tinha 20 e poucos anos, depois de um grande papel em American Pie, subiu de carro em uma calçada em Miami Beach e foi presa por dirigir intoxicada. Um tempo depois, foi despejada de uma maneira muito pública por supostamente assediar vizinhos e ameaçar molestar um cachorro. Depois disso, passou muito tempo hospitalizada por vício em heroína, hepatite e uma infecção no coração. “Tive de reaprender a andar”, conta. Assim que leu o roteiro para Orange, “comecei a dizer [a Jenji, à produtora e à diretora]: ‘Olha, todo esse negócio de junkie, sei tudo. É minha linguagem, gente’.”

Nunca ficou encarcerada, mas foi presa algumas vezes. De certa forma, era perfeita para um programa adaptado de um livro que foi escrito “para fazer as pessoas pensarem de um jeito diferente sobre quem está na prisão e por que está lá e o que acontece com essa gente lá”, afirma Piper Kerman, a verdadeira, que encontro em Washington. Atualmente, quando ela não está escrevendo, é defensora da reforma penal. Embora more em Columbus, Ohio, onde ensina redação em dois presídios, está na cidade como palestrante para um evento beneficente. “Do meu ponto de vista, o seriado também faz isso”. É um encaixe feliz entre as visões desta ativista/ex-presidiária e o projeto de ativismo de uma produtora famosa. A Piper da vida real tem alguma semelhança física com a de Taylor na série – mas é mais durona.

Orange não é um documentário filmado em tempo real, obviamente, e à medida que os episódios progrediram, a adaptação foi se afastando de qualquer verdade sobre Piper Kerman, que é consultora executiva do programa. “Como a chave de fenda", diz, mencionando uma trama envolvendo uma ferramenta roubada e uma fabricação caseira de consolo. "Há um negócio com uma chave de fenda no livro e eles fizeram algo realmente diferente daquilo na série”. No entanto, “um livro te dá a oportunidade para introspecção e pode iluminar conflitos internos de uma maneira praticamente impossível de colocar na tela. Um programa que tentasse isso seria incrivelmente tedioso. Você precisa de conflito externo”.

O que importa não é o material de Orange ser fictício, o que é quase totalmente – mas, sim, que seus espectadores “reconheçam esses milhões de pessoas que estão na prisão agora como humanas”, diz Piper, “e como gente interessante e que tem valor.” Segundo Natasha, ninguém é mais adequado a essa causa do que as atrizes de Orange. “Eles encontraram muitas de nós em um momento de nossas vidas em que já havíamos passado por infernos pessoais”, afirma.

“É importante ser franca sobre tudo isso”, diz sobre o próprio passado. “Seria mais fácil para todos nós se não houvesse tanta vergonha sobre ser humano”. Ela continua: “É basicamente por isso que as pessoas reagem tanto ao seriado”. Porque, essencialmente, nós, humanos, gostamos de ver outros humanos que erram, mas têm bom coração, oferecendo alguma esperança de também sermos redimíveis.

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