A Rolling Stone EUA analisou as vacinas contra a Covid-19 disponíveis nos Estados Unidos, que mesmo promissoras, não são uma solução simples
Elizabeth Yuko | Rolling Stone EUA. Tradução: Vitória Campos | @camposvitoria (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 03/02/2021, às 16h25
Quando o surto de Covid-19 tornou-se uma ameaça séria, começaram a falar sobre a necessidade de uma vacina. Mas a proposta de uma nova imunização para um vírus nunca antes visto em humanos, em uma tentativa rápida de desacelerar e eventualmente interromper uma pandemia enquanto o número de mortes aumentava, nunca havia sido tentada em um emergência de saúde pública de tamanha escala.
Notavelmente, em menos de um ano depois, existem duas vacinas com taxas de eficácia superiores a 90%, submetidas à Food and Drug Administration (FDA) para autorização. A vacina distribuída pela Pfizer foi aprovada e a utilizada contra o coronavírus é fabricada pela Moderna, sendo assim, outros milhões poderiam ser vacinados em breve.
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O lançamento da vacina para Covid-19 pode não acontecer rápido o suficiente. As taxas de infecção crescentes devem piorar, graças ao número impressionante de pessoas desprezando as medidas de saúde pública, como o uso de máscaras, e ignorando as recomendações de não viajar nas férias.
Em 2 de dezembro, o presidente eleito nos Estados Unidos Joe Biden expressou sua preocupação com esse comportamento em uma mesa redonda econômica sobre a pandemia, alertando o país: “Não quero assustar ninguém aqui, mas entendam os fatos, provavelmente vamos perder outras 250 mil pessoas, mortas, entre agora e janeiro, porque as pessoas não prestam atenção.” Isso aconteceu algumas horas depois do diretor do Centro de Controle de Doenças, Dr. Robert Redfield, dizer à NBC News: “Na realidade, dezembro, janeiro e fevereiro serão tempos difíceis. Acredito serem os momentos mais difíceis da história da saúde pública desta nação. ”
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As vacinas aparentam ser promissoras, porém não são uma bala de prata, nem uma desculpa para as pessoas baixarem a guarda. Aqui estão informações sobre o processo de vacinação, pois vai de uma situação hipotética à realidade. (Lembrando: as informações são válidas para os Estados Unidos, principalmente).
Por enquanto, o CDC determinou que os profissionais de saúde e residentes de instalações de cuidados de longo prazo serão os primeiros a receber as vacinas da Covid-19 quando estiverem disponíveis. O Reino Unido atingiu esse marco em 2 de dezembro, tornando-se o primeiro país ocidental a aprovar a vacinação em massa contra o novo coronavírus. As pessoas nos Estados Unidos começaram a receber a vacina Pfizer em 14 de dezembro, e a primeira norte-americana a recebê-la foi uma enfermeira da cidade de Nova York, Sandra Lindsay.
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“Eu sinto a cura chegando”, disse Lindsay após ser vacinada. Na sexta-feira, 18 de dezembro, o vice-presidente Mike Pence recebeu a vacina diante das câmeras, apesar de suas mensagens confusas e conflitantes sobre o vírus desde o início da pandemia. Outros políticos nos Estados Unidos, incluindo republicanos, começaram a receber as doses e a compartilhar publicamente seu apoio para combater os meses de ceticismo.
Como explicou o Dr. Anthony Fauc (diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas) em 30 de novembro, os americanos dispostos a serem vacinados, deverão poder fazê-lo até abril ou maio de 2021. Em junho, “100% dos estadunidenses inclinados à vacina” devem ser capazes de obtê-la, disse o tenente-general Paul Ostrowski, diretor de abastecimento, produção e distribuição da Operação Warp Speed à CNN.
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(O estado de Nova York, anunciou o governador Andrew Cuomo, receberia 170 mil doses de vacina em 15 de dezembro se os reguladores federais autorizassem a vacina da Pfizer para uso emergencial, e os mais vulneráveis, incluindo profissionais de saúde e residentes de asilos, receberiam as vacinas primeiro.a)
A estimativa é: 70% da população precisará atingir imunidade individual, seja por meio de uma vacina (preferível), ou por transmissão natural para atingir o ponto de imunidade de rebanho. Nessa fase, as pessoas não vacinadas, moradoras desta área, estão protegidas de um surto. Continuam podendo ser infectadas, mas por causa da imunidade no nível da comunidade, o vírus não continuaria a se espalhar como agora. Com a vacina disponível, o próximo obstáculo será gerar aceitação e confiança do público, um desafio particular, devido ao aumento das altas taxas de hesitação da população norte-americana em se vacinar.
Não, a vacinação é um processo e o prazo total para vacinas de duas doses de fabricantes como Pfizer e Moderna é cerca de um mês e meio. Após a primeira dose da vacina, a segunda vem três semanas depois para a Pfizer, e quatro semanas depois para a Moderna. Em seguida, leva cerca de duas semanas para a vacina fazer efeito.
“Pode haver imunidade incompleta, pouca ou talvez nenhuma proteção significativa após apenas a primeira dose ou mesmo na primeira semana após a segunda dose”, diz o Dr. Wilbur Chen, chefe da seção de estudos clínicos em adultos do Centro para Desenvolvimento de Vacinas e Saúde Global na Escola de Medicina da Universidade de Maryland.
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Então, quando uma pessoa está totalmente vacinada e se passaram duas semanas após sua dose final, está completamente protegida de contrair ou transmitir o coronavírus? Não exatamente. De acordo com Chen, nesse ponto, a pessoa estaria protegida contra doenças das quais poderiam resultar do novo coronavírus, incluindo casos graves o suficiente para levar à hospitalização ou morte. No entanto, se forem expostos e infectados com SARS-CoV-2, podem não ficar doentes, mas podem espalhar o vírus, potencialmente transmitindo a infecção a outras pessoas. Por esta razão, Chen diz ser importante para todos, mesmo aqueles totalmente vacinados, continuar a usar máscaras e praticar o distanciamento social, pelo menos até haver uma aceitação de alto nível em sua comunidade.
E isso significa ser seguro voar em um avião? Em teoria, sim. Uma pessoa totalmente vacinada pode começar a viajar novamente confiando correr um risco menor de adoecer com Covid-19. Mas Chen enfatiza sobre o fato da diminuição do risco não significar a não existência do risco. “A eficácia das vacinas não demonstrou ser 100%”, disse Chen à Rolling Stone. “Portanto, este é outro motivo para tentarmos alcançar o alto nível de imunidade populacional por meio da vacinação.”
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Esta é complicada. Como qualquer outra vacina, as doses contra o Covid-19 vêm com a possibilidade de alguns efeitos colaterais. Os mais comuns da Pfizer e Moderna são fadiga, dores musculares e de cabeça, calafrios e febre leve. Embora pareçam semelhantes aos sintomas de casos leves de Covid, ao contrário da infecção viral, os efeitos colaterais das vacinas tendem a durar 24 a 48 horas (às vezes menos) e geralmente são aliviados com analgésicos.
O Dr. Florian Krammer, vacinologista da Escola de Medicina Icahn em Monte Sinai, participante do estudo da Pfizer, referiu-se aos efeitos colaterais da vacina como "desagradáveis, mas não perigosos". Além disso, a Pfizer e a Moderna relataram não haver problemas de segurança graves associados às vacinas.
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Ao decidir se vai receber a vacina da Covid, ou qualquer outra intervenção médica, é importante analisar os riscos e benefícios. Neste caso, os benefícios de evitar Covid-19, especialmente quando você considera os efeitos potenciais de longo prazo do vírus e as mais de 270 mil mortes pelo vírus nos Estados Unidos, superam significativamente o risco de suportar alguns dias de desconforto.
Ao mesmo tempo, os profissionais de saúde precisam ser transparentes sobre a possibilidade de efeitos colaterais, em vez de tentar minimizá-los na tentativa de deixar os pacientes à vontade. Desta forma, o paciente pode se preparar mental e fisicamente para os sintomas potenciais, e a pessoa responsável por administrar a vacina pode tranquilizá-los da possibilidade de qualquer dor ser tratável e temporária.
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Mas o ceticismo e medos são, naturalmente, intensos. São as razões pelas quais os ex-presidentes Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton apoiaram publicamente a vacina e a ideia de recebê-las diante das câmeras, para ajudar a aliviar as preocupações e promover a confiança do público em geral.
Em uma entrevista com o apresentador do SiriusXM, Joe Madison, Obama enfatizou a confiança na vacina: “Em pessoas como Anthony Fauci, com quem trabalhei e conheço, confio totalmente”, disse Obama. "Então, se Anthony Fauci disser que esta vacina é segura e pode, você sabe, imunizá-lo contra a Covid, com certeza vou tomá-la."
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Provavelmente sim, pelo menos inicialmente. Como Fauci disse, repetidamente desde abril, "não vai ser um interruptor de luz", onde um dia a pandemia acaba de repente e tudo volta ao normal. Parte disso é porque, embora a eficácia das vacinas Pfizer e Moderna seja promissora, o Dr. Brandon Dionne, professor clínico assistente na Escola de Farmácia da Northeastern University e especialista em doenças infecciosas, diz continuar havendo muitas perguntas sem respostas. Isso inclui quanto tempo dura a imunidade, quanta transmissão assintomática por pessoas vacinadas ocorrerá e quantas pessoas estão dispostas a receber a vacina.
“Com o tempo, à medida que a vacina se torna mais prontamente disponível, aprendemos mais sobre a durabilidade da imunidade e a eficácia no mundo real fornecida pela vacina e, com sorte, a aceitação atinge um limite crítico quando podemos alcançar imunidade coletiva e reduzir as outras medidas preventivas, mas não está claro exatamente quando acontecerá ”, disse à Rolling Stone. Alguns especialistas estão prevendo isso apenas no terceiro ou quarto trimestre de 2021, mas Dionne acredita na mudança desse prazo, dependendo de algumas incógnitas.
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As vacinas Pfizer e Moderna receberam aprovação emergencial do FDA para uso nos Estados Unidos, enquanto as candidatas da Johnson & Johnson e de vários outros fabricantes estão nas fases finais dos testes clínicos. No final do ano, o Reino Unido deu autorização de emergência para a vacina contra o coronavírus desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, atualmente a opção mais barata. Os Estados Unidos ainda não aprovaram a AstraZeneca. Isso significa, com toda probabilidade, haver pelo menos duas opções de vacina. Então, isso significa a existência de uma vacina "melhor"?
Chen enquadra de uma maneira diferente. “Não estamos pensando em uma dessas vacinas ser tecnicamente melhor. Tendo uma bem-sucedida, devidamente revisada e aprovada pelo FDA, está em jogo, e adoraria ver mais delas obtendo sucesso ”, disse à Rolling Stone.
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Quando as vacinas da Covid são eventualmente oferecidas ao público em geral, Chen dá alguns conselhos: “A primeira oportunidade de ser vacinado, seja qual for a vacina fornecida, tome. Da perspectiva de uma pessoa responsável por tentar distribuir vacinas e da perspectiva da pessoa disposta a receber as vacinas, acho justo considerá-las iguais. ”
Chen também observa: quem receber vacinas de duas doses, como as da Pfizer e Moderna, deve se certificar de completar a série com a mesma vacina recebida anteriormente. “Não queremos as pessoas recebendo uma dose de Pfizer seguida de uma dose de Moderna, porque não sabemos se isso conferirá a proteção potencial total de uma vacina de duas doses”, explica.
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Depende de quando os dados dos ensaios clínicos envolvendo crianças estarão disponíveis. No momento, a Pfizer testa a vacina em crianças de apenas 12 anos, mas é a única grande fabricante de produtos farmacêuticos a fazê-lo neste estágio. Em aparição no Meet the Press, Fauci estimou estarmos provavelmente a meses da vacinação de crianças em idade escolar.
“Antes de colocar [a vacina] nas crianças, você quer ter a certeza do grau de eficácia e segurança estabelecido em uma população adulta", explicou. Mas a pesquisa continuará a avançar rapidamente: "Muito provavelmente em janeiro [teremos resultados], para chegar às crianças mais cedo ou mais tarde".
Quando uma vacina se mostra segura e eficaz em adultos, geralmente funciona em crianças também, mas não universalmente, de acordo com a Dra. Amy Edwards, especialista em doenças infecciosas pediátricas do Hospital Universitário Rainbow Babies & Children’s Hospital em Cleveland, Ohio. “O sistema imunológico das crianças é muito diferente dos adultos, como evidenciado por sua reação muito diferente ao serem desafiadam por um novo vírus”, disse à Rolling Stone. “Uma vacina eficaz em adultos pode, ou não, funcionar tão bem em crianças”.
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