Músico lançou guitarra assinada pela Fender na última semana
Yolanda Reis | @_ysreis
Publicado em 11/10/2020, às 17h00A quarentena de coronavírus fez muita gente aprender a se reinventar em casa. Novos hobbies tiveram um pico, e de repente parecia que todo mundo no Instagram começou a desenvolver algum passatempo esquisito. Para alguns, foi aprender um novo instrumento. Para outros, cozinhar. No caso de Troy Van Leeuwen, um pouco dos dois… Mas de maneira excepcional, claro.
O guitarrista da lendária Queens of the Stone Age contou, em entrevista para Rolling Stone Brasil, um pouco da sua nova rotina. Gosta de acordar e fazer o café da manhã enquanto ouve jazz. Depois, gosta de sentar para fazer música dele. E aí, o jantar é acompanhado do rádio. A introspecção familiar e social é ritmada por lendas do rock.
Van Leeuwen, embalado por Hendrix e Berry, caminha para se tornar ele mesmo um guitarrista lendário. Na última semana, assinou o próprio instrumento pela Fender: uma Jazzmaster cobreada, com detalhes pensados para combinar a outra paixão dele, os carros.
Além de seu próprio instrumento, prepara-se para lançar um novo disco com Gone is Gone (superbanda que tem ao lado de Troy Sanders, Mastodon, e Tony Hajat, do At the Drive-In). Por enquanto, isso é o que mais ocupa seu tempo pela cara de desafio que impõe: fazer música eletrônica. Desacostumado com estar longe para dar pitacos e precisar usar faixas, mixagens e instrumentos eletrônicos, Van Leeuwen precisou se reinventar na nova fase - como álgum batizado temporariamente de If everything happens for a reason, then nothing really matters at all.
Leia, abaixo, uma entrevista com Troy Van Leeuwen e informações sobre sua nova Fender no vídeo da empresa:
Olá! Tudo bom? E aí, como anda a vida de quarentena?
Olha… Eu levanto, e faço café da manha, aí olho pela janela para Los Angeles. Tem os incêndios agora, então vejo se já posso sair. Está bem ruim ultimamente, então só fico aqui dentro, agora…
Eu fico muito tempo com minha família, e faço música aqui, e gravo… Sabe, um pouco de experimentação. Mas sinto tanta falta de tocar ao vivo, estar numa sala cheia de amplificadores com meus amigos. Estou me coçando para isso. Mas fora isso, eu só cozinho. É minha atividade principal.”
Você vai lançar uma guitarra! Então minha primeira pergunta é: quando você ganhou sua primeira guitarra, quem te deu? Como foi a sua primeira conexão com a música?
Eu amo música desde que me lembro por gente. Minha mãe e meu pai… [Ele] tocava trompete no exército, e fazia parte do coral da igreja e tudo o mais. Ele tinha uma inclinação natural para a música. Ele podia ouvir de verdade. Ler. E puxei isso dele. Além disso, eu tocava tambores nas bandas colegiais e, sabe, participava da banda marcial.
Mas o que realmente abriu meus olhos para a música foi quando meu primo me deu a guitarra dele e eu peguei o jeito na hora. Depois disso, fiz algumas aulas, aprendi o básico. E aí, sabe, eu tentava tocar os discos que eu gostava. Foi assim que fui aprendendo quase tudo, de ouvido.
E o que você mais ouvia nessa época?
No ensino fundamental… Eu amava Chuck Berry, amava Lez Zeppelin, AC/DC, The Pretenders, Black Sabbath, tudo isso. Ficava ouvindo e tentando tocar na guitarra. Pensava ‘eu consigo.’ E tinha tudo aquilo que eu conseguia imitar na época.
E hoje em dia, o que você tem ouvido?
Eu ouço música todos os dias. Enquanto cozinho, gosto de ouvir algo. Quando me sento para comer com a família, sempre está tocando algo. Então, ultimamente ouvimos muito Duke Ellington. E Chuck Berry, você nunca erra com Chuck Berry. No geral, bastante blues, que juro, estou descobrindo agora. Agora que tenho Apple Music eu só coloco uma playlist de bluegrass e não sei quem está ali! Também tenho ouvido muito country por causa do James Brown. E muito Willie Nelson…
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E seus guitarristas favoritos, ou seus tracks de guitarra favoritos? Quais são?
Eu sempre fui grande fã do Jimmy Page, do Led Zeppelin. Mesmo quando era criança, ele sempre falou comigo. Você consegue dizer que ele sempre fez o possível para as performances dele chegarem ao limite. É animador quando você sente que ele pode errar, e ele talvez até erra, mas só mantém isso - não tenta arrumar. Gosto das imperfeições de algumas músicas dele.
Isso sempre me inspirou a despedaçar tudo, criar um overdub, aí remontar tudo… Igual quando você vai cozinhar algo, e precisa desconstruir o prato.
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Mas é, ele é um dos meus favoritos. Também… The Pretenders, o guitarrista antigo deles, James Honeyman-Scott. Ele era fenomenal! Esses dois sempre foram minhas principais referências.
E sobre o instrumento.. Quando você pensa nisso, assim, quando vai comprar uma guitarra, o que você procura? O que gosta no instrumento?
Eu tenho gravitado na Jazzmaster (da Fender), porque é um tom de guitarra bem pessoal. Sabe, eu tenho muitas guitarras, gosto de ter diferentes sabores e cores. Mas na maior parte do tempo, quando estou inspirado, quero algo que eu consiga tirar uma música ali, na hora. Então, por isso gosto da Jazzmaster para mim. E por isso decidi fazer um modelo assinado pela Fender.
Sim, você vai fazer uma Artist Signature para Jazzmaster da Fender. Qual é a melhor parte de poder ter a sua guitarra?
Eu amei fazer a cor. É uma cor nova. Sabe, meu pai era um mecânico, e ele pintava carros customizados e tudo isso. Então, cresci na oficina onde eu via ele com aquele spray e tinta, tudo o mais.
Agora sei que, na história da guitarra, todas as cores usadas eram de tintas de carros. Então, esse cobre que vou usar agora, é inspirado em alguns carros cor de cobre que a Chevrolet fazia no final dos anos 1950. O Corvette tinha essa cor acobreada, e alguns outros dois carros também. Foi interessante olhar para carros antigos e ver que eram da cor de guitarras.
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Para mim ainda mais, porque cresci fascinado por guitarras e carros. Eles eram iguais, ambos tinham curvas… Eles precisavam ser acentuados pelos detalhes metalizados, e tudo isso. Então, foi legal escolher as cores, os padrões…
E pode me contar um pouco do processo? Com você decidiu que queria uma guitarra? Como aconteceu?
Sempre gostei de guitarras da Fender. Nos últimos anos apoiei várias companhias, mas chegou num ponto que percebi que eu praticamente só tocava Fender. Sabe, eu tenho algumas Telecaster, e uma Jaguar 63 também. Quando eu estava gravando Sweethead com minha banda, e basicamente todas as músicas tinham uma Fender.
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Então, meu amigo Mike Pastor, foi de outra empresa para Fender. Ele viu que estava tocando muito e disse: “Por que não fazemos algo?” Isso foi há uns oito anos. Desde então, chegamos num ponto que comecei a desenvolver minha Jazzmaster, e isso é um pouco de um sonho, porque quando eu era um aluno, tinha 13 anos e estava aprendendo guitarra, eu pensava: “Um dia, terei a minha.” É um sonho realizado.
E… Além da nova guitarra, quero saber se você também tem música nova, ou algo planejado...
Tenho novas músicas. Estou num projeto com Troy Sanders do Mastodon e Tony Hajat do At the Drive-In. Se chama Gone is Gone. Então, estamos terminando nosso terceiro lançamento, agora é um disco completo. Lançamos uns singles aqui e ali durante o ano… Mas com o covid, tudo foi adiado. Precisamos repensar como lançar música. Mas estamos finalizando, e com esperança, isso sai ainda em 2020. Veremos.
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Como é gravar tudo isso durante a quarentena?
Foi um desafio… Eu sou um artista. Gosto de fazer música com outras pessoas do lado. Mas agora não posso nem viajar para estar com pessoas, e isso não parece certo.Mas, mesmo na pandemia a arte acha um caminho e, se tudo der certo, as pessoas vão gostar.
Mas, para mim, é difícil gravar algo do tipo: eu recordo alguma coisa, aí preciso mandar para o Tony, ele faz algo e manda para o Troy. Gravar online é assim. Então, precisamos nos imaginar lá com eles. É interessante tentar transcender, sabe, e pensar: “Ok, o que meus amigos pensariam sobre esta música?” Definitivamente, é um modo diferente de gravar.
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Infelizmente - ou felizmente, não sei! - é também bem eletrônico. É novo, para mim… Depender da nova tecnologia para fazer música. Acaba-se manipulando muita coisa. Foi interessante, para dizer o mínimo, e espero que as pessoas gostem, e os Queens posssam em breve estar por aí fazendo música!
Esse novo disco já tem nome?
Sim, trabalhamos nele… O título, por enquanto, é esse… Está pronta? Sim? If everything happens for a reason, then nothing really matters at all. Vamos ver se vai pegar, não sei.
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Se vale de algo, eu diria que vai pegar!
Ah, sim. Então ok. Se você gosta, eu gosto. Vou dizer para todos que você gostou [risos]
E com Queens of the Stone Age? Planeja algo?
Sei que queremos. Então, falamos bastante sobre isso… Mas ainda não conseguimos começar; Tem muita loucura acontecendo. Mas, é, quando fazemos um disco, todo mundo para tudo para poder focar na gravação. Então estamos trazer todo mundo pro mesmo lugar. Não é que não queremos, é só que precisamos resolver algumas coisinhas antes. Mas esperamos começar em breve.
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E vocês também tinham uma turnê planejada no Reino Unido. Acha que vai acontecer?
Se tem algo que aprendi com toda essa situação do coronavírus é: você nunca pode fazer planos. E, sabe, mesmo que a gente faça isso e tenha todas as intenções de fazre sse show, depende do resto do mundo. Então, veremos. Mas eu quero. Estou pronto… Já já. com esperança, tudo volta para o que quer que seja nosso normal.
E, bom, sobre o Brasil… Faz uns anos que vocês vieram a última vez. Então, a pergunta clássica: o que mais gostam daqui?
É difícil ter algo para não gostar. Vocês são demais. E não tem nada como, sabe… Tocamos no Rock in Rio há uns anos, e não tem nada como ver centenas de milhares de pessoas que amam suas músicas. É insano. Mas mesmo fazer nossos shows [fora de festivais] foi incrível. É divertidíssimo fazer turnês, porque é entre amigos, é divertido. Os shows aí foram muito, muito memoráveis. E isso é sobre os fãs. Vocês são grandes fãs de música, e é divertido para nós estar aí.