Líder do Nine Inch Nails e ganhador de um Oscar, músico afirma que passa por uma "efusão emocional catártica" ao cantar certas composições
Bruna Veloso Publicado em 09/04/2014, às 09h35 - Atualizado às 09h40
Trent Reznor não tem tanta raiva quanto antigamente: hoje, aos 48 anos, sóbrio, casado e pai de dois filhos, o pioneiro artista está mais calmo – mas isso não quer dizer que esteja menos criativo. A obra soturna de seu principal projeto musical, o Nine Inch Nails, continua pulsante e atual, desde as músicas do primeiro disco, Pretty Hate Machine (1989). Em meio a outros projetos, Reznor reavivou a banda no ano passado, depois de cerca de quatro anos de pausa. O resultado foi o ótimo Hesitation Marks, considerado pela Rolling Stone Brasil um dos melhores álbuns de 2013.
Neste nono trabalho de estúdio, Reznor manteve a linha evolutiva da banda que idealizou (da qual é o único integrante fixo), em que cada disco surge como uma visão renovada e aumentada de sua capacidade criativa. As férias que ele tirou do grupo antes de Hesitation Marks, no entanto, não foram para descanso. Artista inquieto, Reznor aproveitou o hiato para criar a banda How to Destroy Angels, ao lado da esposa, Mariqueen Maandig. Também faz parte do grupo Atticus Ross, parceiro de Reznor em sua mais recente atividade, a composição de trilhas sonoras. A dupla ganhou o Oscar de melhor trilha em 2011 pelo trabalho no filme A Rede Social, do diretor David Fincher.
De alma atormentada e de personalidade difícil nos primeiros anos do NIN a compositor convidado para o tapete vermelho da premiação mais comercial do cinema norte-americano, Reznor sempre se manteve honesto ao seu trabalho – e, para ele, esse é o caminho para permanecer ativo. “A única coisa que importa em termos da minha vida artística no NIN é que eu preciso sentir que é algo vital, que tem integridade e que é relevante”, ele explica à reportagem da Rolling Stone Brasil na frente do camarim da banda no Lollapalooza, no último sábado, 5. O sofá foi colocado do lado de fora do camarim a pedido do cantor, multi-instrumentista e compositor, que preferiu conversar ao ar livre a falar dentro da espaçosa sala reservada à sua banda.
Como é trabalhar com o Nine Inch Nails agora que você também é bem sucedido fazendo trilhas para filmes? Como você equilibra as coisas?
A única coisa que importa em termos da minha vida artística no Nine Inch Nails, ou a razão para o grupo continuar, é que eu preciso sentir que é algo vital, que tem integridade e que é relevante. Alguns anos atrás, eu disse que não iria mais sair em turnê com a banda, porque tínhamos acabado de finalizar um período de dois ou três anos na estrada. Achava que estávamos indo muito bem, provei para mim mesmo que podia fazer isso, foi divertido. Mas precisava me esforçar em fazer algo que não fosse confortável – ou que não parecesse estar em perigo de começar a fazer eu me sentir seguro. Também não queria que começasse a ser uma coisa nostálgica – odeio imaginar isso acontecendo em algum momento. Quero que o NIN pareça, para mim, a coisa mais difícil na qual eu posso trabalhar, a mais recompensadora, mais desafiadora e mais interessante que eu posso fazer. Então, tentei coisas novas. Trabalhei em alguns filmes, comecei uma família [Reznor se casou com a cantora Mariqueen Maandig em 2009, com quem tem dois filhos], comecei uma nova banda. Depois de alguns anos, fiquei interessado em saber como o NIN poderia soar. E isso acabou se tornando um novo disco [Hesitation Marks, lançado em 2013]. Não foi pela carreira, por dinheiro ou nenhuma outra razão, foi apenas pelo fato de que senti que seria algo excitante de se fazer. E essa é a minha principal preocupação. O que mais importa para mim é tentar fazer a melhor arte que posso, tentando mantê-la distante da parte dos negócios. É tentar pegar a habilidade ou o talento que eu possa ter e colocar em algo que seja puro.
Muitas de suas músicas remetem a períodos específicos e doloridos da sua vida. Como é cantar hoje uma canção como “Sanctified” [que ele já disse ser sobre “o relacionamento com um cachimbo de crack”]?
É estranho, algumas músicas apenas me parecem boas músicas, que eu posso curtir cantar. Algumas me levam de volta à lama, a lugares que... Bem, é quem eu era quando as escrevi. Não é atuar, fingir ser outra pessoa, estou apenas dando as boas-vindas àquilo tudo. E é um desafio. A cada noite, passo por uma efusão emocional catártica. Não é algo que eu faria no dia a dia, na “vida normal”, gritar comigo na frente do espelho por duas horas. É um esgotamento emocional, assim como físico.
Isso traz memórias específicas?
Sim, uma música como “Hurt”: eu sei exatamente onde eu estava quando a compus, e me deixa profundamente triste cantá-la. Eu me torno essa música. Uma canção como “Sanctified”, que você mencionou: ficamos anos sem tocar, e de repente se tornou uma plataforma diferente. Sou eu ali, não é como se fosse uma versão ultrapassada de mim mesmo, de 20 e tantos anos atrás. As músicas que sinto que eu não consigo habitar no momento, nós deixamos de fora.
É o caso de “Closer”? No ano passado, vocês a tocaram em shows, mas a deixaram de fora da turnê na América Latina.
Mexemos um pouco nela durante os ensaios, e pareceu... Eu não desgosto dessa música, e suspeito que ela deva voltar ao setlist nos próximos meses. Mas, agora, ela simplesmente não entrou no corte.
Entre o NIN, as trilhas e seus outros projetos, no que você pretende focar agora?
Estou fazendo com Atticus Ross a trilha do filme Gone Girl, do David Fincher. Temos trabalhado nisso desde o início do ano, nos intervalos da turnê. Depois do show do Brasil, teremos algumas semanas de folga, e eu vou imediatamente voltar ao estúdio para compor para esse projeto. Agora, estou sentindo uma ansiedade por estar cansado da turnê e por ter que fazer esse trabalho criativo, que é um desafio. Mas me sinto inspirado em relação ao NIN. Se eu não tivesse que fazer essa trilha agora, iria para o estúdio e começaria a compor coisas para a banda. Vamos ver o quanto isso vai durar, mas estar inspirado é a única coisa que importa.
Você tocou no primeiro Lollapalooza, em 1991, nos Estados Unidos. Como é tocar agora, no mesmo festival, mas em um país completamente diferente, mais de 20 anos depois?
É bem estranho, na verdade. O mundo era diferente naquela época. No primeiro festival, éramos meio que uma lista de bandas da “ralé”, que viviam fora do mainstream. Penso que fomos precursores da música alternativa – de certa maneira, demos início a esse termo. Você sentia orgulho de ser nomeado “alternativo”. Era legal, era ser uma alternativa ao que era uma droga. Foram tempos divertidos. Acho que preparamos o terreno para a revolução do Nirvana que veio alguns anos depois. E juro para você que naquele tempo eu jamais imaginaria que o NIN estaria ativo 20 anos mais tarde. O fato de os dois terem sobrevivido é ótimo.
E o que você vê da cultura alternativa hoje?
Bem, não sei o que vocês chamam de cultura alternativa aqui no Brasil, mas nos Estados Unidos, por exemplo, a palavra “indie” tomou conta no sentido de nomear o que é novo, cool. Se você quiser ser cool, vai se chamar de indie. “Alternativo”, até o meio dos anos 1990, era meio que esse tipo de termo, mas aí a palavra foi cooptada por um monte de coisas que não tinham absolutamente nada a ver com estar fora do padrão. Virou um rótulo, e aí invalidou tudo. Nos Estados Unidos, acho que hoje “Alternativo” deve ser uma estação de rádio via satélite que toca música de merda dos anos 1990. Particularmente, não tento levantar a bandeira alternativa no momento. Nunca me identifiquei, mas, no começo, significava algo. Não era necessariamente um estilo musical.
Quando você começou, o modo como a música alcançava as pessoas era diferente.
Completamente diferente.
E você se preocupa com isso? Se preocupa em como alcançar o público ou como chegar a mais pessoas?
Pensei muito, muito, muito sobre o modo como as pessoas consomem música. Parcialmente, por conta da necessidade de me manter vivo sendo músico. Nos últimos dez anos, vimos o negócio da música mudar. E não foi tudo para pior, foi algo bom de diversas maneiras. Mas o que me preocupa – vou tentar resumir, porque posso falar umas cinco horas sobre isso – é que agora é tudo em torno do acesso. Quando eu era jovem, as pessoas investiam em discos. E os discos que você comprava, escutava, porque você não tinha 10 mil discos – você tinha 20, 50, 100, 500. Se eu comprasse um disco, eu ouvia; se não gostasse, ouvia mesmo assim, porque eu tinha comprado, e não tinha todo o dinheiro do mundo. Nesse processo, aprendi muito. Houve muitos álbuns que eu comprei que não entendi de primeira – Remain in Light, do Talking Heads, e Sandinista!, do The Clash, são dois que me vêm à mente agora. A primeira vez que ouvi esses discos, pensei: “Não estou entendendo”. Mas depois de escutar algumas vezes, fiquei intrigado; depois de escutar dez vezes, meu cérebro cresceu. Aprendi por meio desses discos. E hoje, agora que todo mundo tem acesso a tudo, ouvir música é algo menos prioritário, é algo que você faz enquanto checa seus e-mails. Quando você tem toda essa música disponível, acaba não passando muito tempo com coisas específicas. Aquele álbum que você não entendeu, provavelmente não vai ouvir de novo, vai simplesmente pular para o próximo. Esse lado eu acho prejudicial. Acho que isso muda o processo de como algo se torna popular e como as pessoas se sentem em relação à música, porque elas dedicam menos tempo à música. Elas têm mais acesso, mas gastam menos tempo. Não posso mudar isso, nem estou tentando mudar, estou apenas observando o panorama. E, como artista, penso em como posso fazer com que a música chegue às mãos das pessoas de maneira que elas realmente ouçam. Tento fazer isso com integridade. Enfim, são coisas a se pensar.
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