De volta com os Raconteurs, músico também falou sobre saudade dos White Stripes
Patrick Doyle / Rolling Stone EUA Publicado em 15/07/2019, às 19h11
Após gravar Boarding House Reach em 2018, Jack White decidiu que era hora de se pressionar um pouco. Então, re-formou os Raconteurs - a banda que montou em 2006 pouco antes da dissolução dos White Stripes, com alguns colegas músicos de Detroit, incluindo o co-frontman Brendan Benson. Os dois primeiros álbuns caíram na graça dos fãs; o terceiro, Help Us Stranger, é um retorno bem-vindo à despretensão e à sua mistura dos vocais agressivos de White com “a doce voz” de Benson, como White, ligando de Nashville para a Rolling Stone EUA, descreveu. “Ele é um verdadeiro cantor”, acrescentou White. “Eu não.”
Desta vez, White mudou o caminho ao pegar algumas das músicas mais sentimentais e deixar Benson cantar alguns dos rocks. “O que é legal é que não tem competição”, disse White. “É mais como tentar inspirar um ao outro para deixar a zona de conforto de novo e de novo. O experimento de White funcionou - o disco estreou como Número Um no Rolling Stone Top 200 Albums na última semana.
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O que mais mudou na sua vida desde o último álbum dos Raconteurs, em 2008?
É engraçado. Eu era casado e com filhos, agora não sou mais casado e todo o resto da banda é. Envelhecemos 10 anos, e fazemos música há 25. Lembro quando eu tinha minha loja de estofados e tocava de vez em quando com uma banda e eu amava música e eu faria tudo para viver disso, mas pensei “não tem como. Esquece.” É estonteante pensar que você pode um dia - e até uma década - ser um artista e conquistar tudo. É como se você estivesse acelerando.
Como é o seu dia a dia em Nashville?
Bom, agora que a turnê começou, é preciso maximizar seu tempo em casa. Então basicamente fico com meus filhos. Estou [sempre] tentando encontrar atividades diferentes que podemos fazer juntos e que acho interessantes. Eu tenho um projeto de estofado que estou tentando terminar e está lá esperando eu voltar para casa. E eu sempre tenho projetos com a [gravadora] Third Man, sabe. Temos agora uma fábrica de vinil em Detroit. Estamos fazendo todo o trabalho nos discos de vinil do Raconteurs este ano. De verdade, tem muita criatividade acontecendo o tempo inteiro. Eu poderia entrar no departamento de arte a qualquer momento e ficar 18 horas lá. A gente fez nossa base em um lugar incrível que tem vários pistões, é demais.
Você acabou de receber um doutorado honorário da Wayne State University, que você estudou antes do White Stripes. Como foi isso?
Se eu pudesse ter escolhido qualquer lugar para isso acontecer, qualquer univesidade do mundo para me dar honras, eu escolheria a Wayne State. Foi uma honra que eles tenham percebido que eu existo, só isso já foi um elogio. E receber isso em um local em que eu costumava ir de ônibus… Te dá muita perspectiva.
Eu só pude pagar para estudar lá por um semestre. Eu fiz aulas de cinema e comia nos diretórios acadêmicos. Os White Stripes tocaram no mesmo lugar há alguns anos. Eu lembro que o clube do audiovisual colocou seis microfones enfileirados, todos apontados para o equipamento - alguém que nunca tinha feito isso. Relembro isso o tempo todo. É engraçado, e bizarro assumir “sim, esse é um jeito incrível de gravar tudo, colocar todos os microfones em uma fileira e apontar para os instrumentos.” É engraçado. Eu devia gravar um dia assim para ver como fica.
Quando você ouve White Stripes você se sente nostálgico?
É sempre uma catarse. Eu tive muita sorte. Se eu estivesse em um cenário onde alguém me mandasse tocar teclado mesmo eu não querendo ou me vestir de determinada maneira, eu olharia para trás e pensaria “não me orgulho disso.” Eu não cresci muito na época. Quase tudo que gravamos era porque queríamos que acontecesse. Tem hora que você ouve uma gravação ao vivo e pensa “ah meu deus, tocamos essa música rápido demais porque estávamos animados no meio do show e acelerando o máximo que conseguimos.” De vez em quando, eu vejo isso nas gravações do Jimi Hendrix, também, o que ele toca ao vivo é tão rápido e fora de tom, e é ótimo porque não importa. É só sobre a atitude.
Que conselhos você dá para jovens músicos que vão até a Third Man?
Eu sei que se os artistas estão reclamando, não fico impressionado. Ser um artista significa que você tem que trabalhar mais que todo o mundo. É uma responsabilidade, 24 horas por dia. Eu penso sobre isso o dia inteiro. Se você não tem isso dentro de você, se não é incontrolável, eu não sei o que dizer.
Que música nova te dá esperança?
Todos os discos de rock que saíram este ano. The Hives, Black Keys… Também é ótimo que as pessoas ainda apreciem uma banda que faça as próprias músicas, como Vampire Weekend e Twenty One Pilots. Eles são ótimos.
Interessante você mencionar Twenty One Pilots.
Amo o que estão fazendo. Eu os vi a primeira vez no Saturday Night Live. E pensei “nossa, isso é incrível. Outro duo que pode fazer algo realmente bom.” Gostei do que fizeram tocando piano e baixo, aquele cara, o vocalista principal. Foi realmente forte. Tem também o Royal Blood, outra banda de duas pessoas que é f***.
Quanto tempo fez para terminar o novo disco do Raconteurs?
Ninguém falou “vamos fazer um disco, vamos sair em turnê.” Só pensamos “vamos nos reunir e fazer música e ver o que acontece.” E todo mundo estava tão animado, foi muito inspirador. Quer dizer, tínhamos umas 30 músicas que trabalhamos intensamente e tivemos que dizer finalmente “olha, a gente precisa escolher umas 12 músicas aqui. Porque a gente vai continuar conversando e está indo bem.” Eu não sei quanto tempo demorou pra acabar tudo. Eu não posso realmente dizer isso. Provavelmente algumas semanas, no fim das contas, mas não lembro.
Uma das suas melhores frases está em “Don’t Bother Me”: “you fake punk jacket-liar.” (algo como “seu punk falso e com jaqueta de mentira”)
Essa é engraçada. É como transformar um pronome em um verbo ou algo assim.
Sobre o que fala a música [que tem as letras “o jeito que se olha no espelho / é seu maior admirador”]?
Era tudo agressão. Eu queria falar sobre agressividade e achar um personagem que pudesse demonstrar isso. Algumas pessoas são muito escandalosas e querem escrever sobre si mesmas. Eu gosto de trabalhar com personagens, peg algo que aconteceu em minha vida e vejo como encaixa.
Lembro que escrevi uma música bem agressiva com os White Stripes, como chamava mesmo… [Pausa] “There’s No Home for You Here.” E eu estava bem irritado, era sobre um cara que conheci em Detroit e mudei os pronomes para deixá-los femininos só para agitar tudo.
Quando você faz esse tipo de coisa, você quase quer ter certeza, durante o resto da vida, você não pensa o tempo inteiro em algo que aconteceu com você. E quando você coloca isso através de um personagem, é quase como se você estivesse fazendo um cover.
E Greta Van Fleet? Eles sempre são criticados por copiar os velhos blues e rock assim como você fazia antes.
Eles são três irmãos poloneses de Michigan, eu achei que fosse uma piada! Mas é incrível ver jovens que tocam rock & roll, sem dúvidas. O cara tem uma voz incrível. E quanto mais coisas autorais eles fazem, melhor. As pessoas costumavam dizer quando eu comecei “ele soa como o Robert Plant.” Se você insistir, isso para.
Você falou dos Black Keys. O twitter da sua gravadora recentemente comentou sobre o novo single deles, o que é uma surpresa dada a seu histórico de tensão. Como chegou nisso?
Eu respeito a galera do rock. Eu acho que que na briga teve alguns advogados querendo me ferrar e tentando tirar coisas do contexto. Patrick Carney passou pelo estúdio quando estávamos gravando o disco do Raconteurs e me emprestou um microfone. Foi bem legal da parte dele.
Como é essa amizade? Do que vocês falam?
Ele vem de um lugar que eu e os Greenhornes e várias dessas bandas de garagem viemos. Gostamos de músicas parecidas. A gente provavelmente sentaria junto e falaria de Captain Beefheart por um tempo. Ele é um cara legal. Os músicos com quem saio, normalmente vejo só em festivais. Eu sinto falta de ir em shows quatro ou cinco noites por semana. Eu fazia muito isso, e ainda faria isso se não tivesse alguém vindo me cumprimentar a cada cinco segundos. Não faço mais isso agora, mas amo bater papo.
Por isso dou tanta importância para lojas de discos. É lá que acontecem as conversas, lá que forma-se amizades e onde toda a integração acontece. Quantas bandas você conhece que nasceram em uma loja de discos? Vocês têm um respeito músico pelo tipo de música, e acabam tocando juntos. Que ruim seria se elas lojas deixassem de existir.
A música mais ouvida nos EUA agora é “Old Town Road” do Lil Nas. O que acha disso?
Lindo. A música tem só 1 minuto e 47 segundos, por aí, o mesmo tempo de “Fell In Love With a Girl.” E as pessoas diziam “não vão querer tocar isso nas rádios.” Mas funcionou, e é ótimo que esteja acontecendo de novo.
Os Raconteurs iam tocar no Woodstock 50. Ainda planejam fazer isso?
Não entendo direito o que está acontecendo. Alguém me disse que eles não tinham a permissão que precisavam ou algo assim. Não entendi. Tudo que sei é que quando ouço algo sobre isso, só o que penso é “ainda bem que não sou um produtor desse festival porque parece um pesadelo.” Todas as vezes que você toca em um festival, é tipo “wow, não quero ajudar a organizar isso, meu Deus.” Só organizar os banheiros já é uma loucura.
Você conhece o Bob Dylan, que vai abrir uma destilaria em Nashville. Ele já te disse algo que você lembra até hoje?
O tempo inteiro. Ele foi um mentor incrível para mim, e um ótimo amigo, também. Eu tenho sorte de ter conversado com ele. Todo o resto foi como a cobertura desse bolo.
Existe um lado dele que as pessoas não conhecem?
Ele é bem complexo. A maioria das pessoas que passam pela fama, nem que seja os 15 minutos, passa por experiências que nenhum humano deveria. Já teve vez de eu entrar em um lugar e senti que intimidava as pessoas. Você não sabe o que tem que fazer. Eu acho que gente como o Dylan tenta evitar isso.
Já escreveram uma música juntos?
Não posso dizer que sim. Queria, mas não posso.
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