Cantora, que se apresenta em São Paulo e no Rio de Janeiro, revela o que tem ouvido, comenta a política nacional e adianta o quarto álbum da carreira
Lucas Brêda Publicado em 26/08/2016, às 13h08 - Atualizado em 24/03/2017, às 15h17
Até agora, Mallu Magalhães viveu o ano de 2016 longe dos palcos. Em 2014, ela lançou o autointitulado disco de estreia da Banda do Mar – grupo que integrou ao lado do marido, Marcelo Camelo, e do baterista português Fred Ferreira –, ficando na estrada durante boa parte do ano seguinte, quando tocou, inclusive, no Lollapalooza Brasil. “Quando paramos a turnê da Banda do Mar, eu estava grávida de quase sete meses”, relembra a cantora, cuja filha, Luisa, nasceu em dezembro de 2015.
Mallu vai encerrar o jejum com a miniexcursão Saudade, que conta com duas datas no Brasil: 27 de agosto, em São Paulo, e 2 de setembro, no Rio de Janeiro. “Senti saudade de tocar”, admite Mallu. A artista só não vai ficar mais tempo na estrada devido à pouca idade de Luisa. “Aí entra a questão prática. Não daria para embarcar numa loucura de viagens extensas nem em semanas de ensaio longe de casa e coisas assim. A saída perfeita foi a ideia de fazer voz e violão. Posso continuar praticando em casa, e com apenas duas datas no Brasil não comprometerei o bem-estar da bebê.”
Os shows contarão com versões despidas de músicas de todas as fases e projetos de Mallu: os hits cativantes da Banda do Mar, o balanço de Pitanga (2011) e até as ingênuas faixas em inglês que a apresentaram ao público há quase uma década. “É um processo muito interessante”, conta a cantora, que recentemente publicou no Facebook um selfie dela com um violão a tiracolo e a mensagem: “Preparar um show ‘voz e violão’ exige muito papel e muita caneta” (ela é uma prolífica usuária da rede, respondendo pessoalmente a fãs, divulgando informações do trabalho e, também, da vida pessoal). “É necessário reduzir a música à sua essência, ao seu fundamento, ao que importa. Revela-se a beleza da canção e também do que se pode fazer com ela com esses dois instrumentos tão complementares”, explica.
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No intervalo entre o hiato da Banda do Mar e as apresentações de Saudade, Mallu não apenas focou na criação de Luisa. Em Portugal, onde mora há alguns anos com Camelo, a paulistana vem compondo e preparando o que virá a ser o quarto álbum solo, o primeiro desde Pitanga (2011). “Tenho planos de lançar meu novo disco logo depois do Carnaval de 2017”, revela, adiantando que vai mostrar no Brasil não apenas músicas inéditas mas também algumas canções que não são dela, e que cantará ao público pela primeira vez. “Por mim tocaria logo o disco todo! Estou muito ansiosa para apresentar as músicas novas.”
O trabalho terá novamente a produção de Camelo (ele teve o mesmo papel em Pitanga), algo que exalta a proximidade e o entrosamento do casal. “Adoro trabalhar com o Marcelo”, derrete-se Mallu. “Ele é um excelente produtor, um grande músico. É a pessoa que mais conhece meu trabalho, por causa da nossa intimidade. Sinto uma enorme segurança tendo ele ao meu lado também no estúdio.” Mais do que os atributos do músico do Los Hermanos como produtor, é a presença dele que parece fazer a maior diferença para Mallu. Pitanga, por exemplo, foi considerado “o disco de amadurecimento” dela, sendo o mais bem-sucedido de seus três trabalhos solo, tanto em crítica quanto em vendas.
Uma das canções do próximo trabalho com certeza estará nos shows. Trata-se de “Casa Pronta”, divulgada recentemente por ela.
Além disso, foi com Camelo que Mallu desenvolveu o aspecto preponderante do próximo álbum que pretende lançar: a influência da música brasileira. Em menos de dois anos, Mallu praticamente abandonou a pegada folk de Mallu Magalhães (2009), inserindo a bossa nova (“Sambinha Bom”) e o balanço (“Velha e Louca”) em sua obra. “Será um disco de alma brasileira, de sambas, de baladas”, adianta ela, cujas playlists atualmente estão repletas de Elza Soares, Elis Regina, Maria Bethânia, Zeca Pagodinho, Almir Guineto e Arlindo Cruz. “Recentemente, acabei mergulhando numa leva de composições desse clima tropical, feitas no violão, com os acordes ‘complicados’ do samba e da bossa nova, com os quais, ao longo do tempo, fui ganhando intimidade. O álbum se baseia em canções novas, sem quase nada de resgate. Trata-se de um disco bastante diferente dos outros que fiz. Quero explorar esse caminho da música brasileira mais a fundo.”
De Portugal, Mallu tem estado de olho não apenas na música nacional. “Fico triste quando vejo o nosso país passando por tantas crises ao mesmo tempo”, analisa, referindo-se à situação política e econômica do Brasil. “Tenho alguma dificuldade de me posicionar politicamente, porque minhas impressões e sensações apontam sempre para um equilíbrio, uma harmonia, e, cada vez mais, vejo a política e as opiniões muito radicais, muito intolerantes, muito inconsequentes.” Vendo o discurso carregado de sentimento e as referências a Elza Soares e a Almir Guineto, não fica difícil perceber o porquê de a nova turnê de Mallu chamar-se Saudade. “É saudade do Brasil, sim”, assume. “É saudade de tocar, é saudade da minha família e dos meus amigos. Claro que fiz grandes amigos e criei raízes aqui [em Portugal], mas a saudade ainda existe. Acho que nunca irá embora. Hoje a saudade é parte da minha personalidade. Não sei viver sem saudade.”
Mallu Magalhães: Saudade
São Paulo
27 de agosto, às 22h
Grupo Tom Brasil – R. Bragança Paulista, 1281
Entre R$ 50 e R$ 90 (há meia-entrada)
Rio de Janeiro
2 de setembro, às 22h
Vivo Rio – Avenida Infante Dom Henrique, 85
Entre R$ 100 e R$ 200 (há meia-entrada)
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