Peter Hook, ex-baixista de New Order e Joy Division - Divulgação

De volta ao Brasil, Peter Hook comenta turnê tocando Substance e indica projeto com integrante do Kraftwerk

“Joy Division é natural, intenso e poderoso, enquanto o New Order tem uma fragilidade, além de ser mais alegre e otimista”, diz baixista, que passa por São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre em dezembro

Lucas Brêda Publicado em 28/11/2016, às 20h24 - Atualizado às 21h12

No próximo dia 1º de dezembro, quinta-feira, dois shows acontecerão estranhamente de maneira simultânea. O New Order sobe ao palco do Espaço das Américas, em São Paulo, enquanto o ex-baixista e atual desafeto da banda, Peter Hook, apresenta-se com o The Light no Teatro Rival, no Rio de Janeiro.

“Eu acho estranho que a turnê deles tenha sido agendada depois da nossa para aproveitar ao máximo o festival colombiano que eles tinham”, acusa Hook, sempre sem filtros, sobre o motivo da – aparentemente desagradável – coincidência. O baixista, também ex-Joy Division, retorna ao Brasil com mais uma excursão “temática”, apresentando os dois volumes da coletânea Substance – um dedicado ao Joy Division e outro ao New Order, lançados, respectivamente, em 1988 e 1987 – na íntegra e na sequência original.

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Há cerca de dez anos longe do New Order, Hook mantém o discurso de que a banda “acabou” com sua saída e garante ter mais satisfação em tocar com o The Light. “Tinha me cansado da negatividade de Bernard [Sumner, guitarrista e vocalista] a respeito de tudo, e ele incrivelmente me culpou por ela”, recorda.

Hook lançou há dias um novo livro de memórias – o terceiro dele –, Substance: Inside New Order, desta vez sobre o período no New Order, classificado por ele como um “Mötley Crue indie”. O curioso é que o grupo de dance-rock também já teve a história contada em texto por Sumner e terá pelo baterista Stephen Morris (cuja autobiografia tem lançamento previsto para 2018) em breve.

No palco, o baixista – que também passa por São Paulo e Porto Alegre – dá vida às compilações Substance, que reúnem basicamente singles e lados B das bandas. A edição do New Order traz material de 1981 a 1987, incluindo músicas como “Temptation”, “Thieves Like Us” e “Bizarre Love Triangle”, entre outras, integrando a lista de 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos da Rolling Stone.

Já a do Joy Division contém faixas que só saíram como singles, como o hit “Love Will Tear Us Apart”, mas também lados B, canções do EP An Ideal For Living e registros da gravadora Factory Records. A Substance de 1988 inclui músicas como “Transmission”, “Komakino” e “Atmosphere”, entre outras.

Abaixo, leia a íntegra da entrevista com Peter Hook, que também comenta sobre tocar com o filho, Jack, e adianta um possível projeto futuro com Wolfgang Flür, do Kraftwerk, e o Reverend and The Makers.

Rolling Stone Brasil: Você está de volta à América do Sul com o The Light apresentando Substance, do New Order e Joy Division. Deve ser interessante tocar músicas das duas bandas na mesma noite, expõe as diferenças e similaridades entre elas.

Peter Hook: Estamos tocando material das duas bandas nos mesmos shows desde 2011. Nossa tendência é: quando tocamos um álbum de uma banda, é como se estivéssemos abrindo para nós mesmos, brincando com mais ou menos uma dúzia de faixas selecionadas da outra banda – e funciona muito bem. [Mas] A sensação dos dois grupos é muito diferente. O Joy Division é muito forte e tem uma abordagem muito natural, intensa e poderosa, enquanto o New Order tem uma fragilidade, além de ser mais alegre e otimista.

Você se sente mais confortável ao cantar/tocar músicas do Joy Division ou do New Order? Por quê?

Eu me sinto bem com as duas, apesar de que tocar Joy Division ao vivo é algo mais próximo de uma banda tradicional, enquanto o New Order pode ser mais complicado de apresentar ao vivo e demanda mais concentração. De qualquer forma, eu me sinto completamente confortável com as duas.

Você recentemente lançou um novo livro de memórias sobre seus dias no New Order. Bernard fez o mesmo, e Stephen o fará em breve. Não é sempre que todos os integrantes de uma banda querem compartilhar o que pensam sobre a história do grupo. Por que você acha que isso está acontecendo com o New Order?

Eu gostaria de saber. É uma das coisas mais loucas. Eu acho que de alguma forma é um testemunho do interesse e do sucesso do grupo em criar uma história com a qual as pessoas de identifiquem e queiram saber mais sobre.

Seu livro, nas suas palavras, retrata o New Order “como um Mötley Crue indie”. Você está sóbrio agora, mas seu filho, Jack, está no The Light – e tocando baixo. Ele tem esses momentos “Mötley Crue” como você tinha na idade dele?

É ótimo [ter um filho na banda]. Momentos “Mötley Crue” não são permitidos agora. Mas Jack é muito mais sério do que eu em ter certeza de que tudo funcione perfeitamente. Moleza não é permitido até por mim, mas eu tenho que admitir que ele comanda com vara de ferro.

Muita gente encara esse período – de excesso de drogas, sexo, entre outras coisas – com pesar. Você se arrepende, de alguma maneira?

Não. Você se arrependeria? Nós nos divertimos muito.

Tenho certeza que é diferente, você tem mais de 60 anos agora, mas do que mais sente falta daquelas turnês? E o que você tem agora que não tinha antes?

Eu tenho amor pela música de novo e orgulho na entrega que estamos tendo. Quando o New Order acabou, em 2006, eu tinha me cansado da negatividade de Bernard a respeito de tudo, e ele incrivelmente me culpou por ela. Eu gosto de fazer turnês muito mais hoje em dia.

Por falar em New Order, eles vão tocar na América do Sul literalmente ao mesmo tempo que vocês (no dia 1º de dezembro, por exemplo, você toca no Rio de Janeiro e eles em São Paulo). Você acha que os fãs vão se dividir quando escolherem a que show ir?

Eu honestamente espero que não. Eu gostaria que eles seguissem a paixão do que o The Light está fazendo. A banda [o New Order] se separou há dez anos. Eu acho estranho que a turnê deles tenha sido agendada depois da nossa para aproveitar ao máximo o festival colombiano que eles tinham.

Você tem revisitado o passado – tocando músicas antigas e escrevendo livros de memórias – há um tempo. Você pensa em gravar músicas novas ou em ter projetos novos?

Sim, eu gostaria de ter a chance de trabalhar em novos projetos. Eu já trabalho com outras pessoas o tempo todo e faço minha própria dance music como Man Ray, com meu parceiro de produção, Phil Murphy. Eu e Pottsy [David Potts, parceiro de Hook no grupo Monaco] estamos falando com o Wolfgang Flür, do Kraftwerk, e o Reverend and The Makers sobre colaborar no futuro. Está tudo bem.

Peter Hook & The Light tocando Substance no Brasil

Rio de Janeiro

1º de dezembro (quinta-feira)

Teatro Rival | Rua Álvaro Alvim, 33 / 37 – subsolo – Cinelândia

Porto Alegre

3 de dezembro (sábado), às 20h30

Opinião | Rua José do Patrocínio, 834

São Paulo

6 de dezembro (terça-feira)

Cine Joia | Praça Carlos Gomes, 82 – Sé

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