Duas principais forças da música brasileira, atrações do festival Forró da Lua Cheia, conversam sobre aspirações e inspirações
Pedro Antunes Publicado em 13/06/2019, às 11h04
Elza Soares é uma das representações máximas do que de melhor a música brasileira pode produzir. É força, é ressurgimento, é discurso e é afeto. Foram décadas sem um disco próprio, com canções inéditas, até A Mulher do Fim do Mundo, de 2015. Veio, enfim, a aclamação.
Xenia França deixou Camaçari, na Bahia, mudou-se para São Paulo. Integrou a banda Aláfia, quando passou a se posicionar como uma das vozes obrigatórias da nova música produzida por aqui. Em 2017, lançou Xenia, o disco solo, um rito de passagem, uma oração, ancestralidade e futuro juntos.
Xenia e Elza tem seus início de carreira separados por anos (Elza estreou há quase 60 anos, por exemplo). Mas vivem, no hoje, nesse capenga 2019, como figuras importantes de resistência, de arte e de vanguarda.
As duas artistas são estrelas do 29º Festival Forró da Lua Cheia, realizado em Altinópolis, cidade a 340 Km de São Paulo, entre os dias 20 a 23 de junho, ao lado de Ney Matogrosso, Planet Hemp, Djonga, entre outros. A programação completa pode ser vista aqui e os ingressos estão disponíveis aqui.
Também é bom lembrar que Elza e Xenia estarão no Rock in Rio 2019 também (veja a programação aqui)
À Rolling Stone Brasil, Elza Soares entrevistou Xenia França, e Xenia França entrevistou Elza Soares, o que cria um interessante diálogo sobre como duas artistas de diferentes gerações veem o mundo, a arte e seu papel dentro de tudo disco. Confira:
Elza Soares: Fiquei sabendo que você vai se apresentar no Rock in Rio pela primeira vez. Qual a expectativa e a importância de chegar a um palco como esse?
Xenia França: Fiquei muito surpresa e feliz com o convite. Será uma honra dividir o palco com um artista tão grandioso como Seal. Espero que seja uma troca bonita.Estou bem ansiosa na verdade...rsrs. Uma grande responsabilidade cantar pra tanta gente num dos maiores festivais do mundo. Com certeza é um reconhecimento do trabalho que venho desenvolvendo com tanto amor e dedicação, um passo importante na minha carreira. Nunca pensei que isso seria possível!
E: Vejo que os seus videoclipes têm uma preocupação estética muito grande. Como pensa na hora de casar uma música com uma narrativa/imagem?
X: Tenho o mesmo cuidado que tenho com a produção das músicas do meu disco. Um trabalho feito a mão e cheio de detalhes. Tenho Lua em virgem o que me torna um pouco perfeccionista na hora de entregar meus trabalhos. Levei um ano para apresentar meu disco. Depois mais um ano pra fazer clipes, para dar tempo do público se relacionar e degustar cada coisa. Na hora de casar som e imagem respeito muito a estética do som, porque acho que clipes são molduras para músicas e que devem estar a altura da produção. Gosto de criar narrativas que levem o público a pensar. Gosto de coisas fantásticas e mirabolantes...Sol em Peixes rs....Também gosto do que é belo e suntuoso, ascendente em leão (risos). Desde pequena sou muito fã do Michael Jackson e os clipes dele eram sempre inovadores, levavam a um novo horizonte artístico. Me inspiro muito até hoje na maneira como ele alinhava música, figurino, clipes, dança como se fossem uma arte só. Fazendo clipes realizo varias fantasias de criança, posso brincar de ser o que eu quiser!
E.: O seu primeiro disco-solo levou você a muitos lugares e conquistas. Qual o significado que esse trabalho tem pra você? Tem algo novo vindo por aí?
X.: Ter um disco solo sempre foi um sonho desde que peguei num microfone pela primeira vez. Mas por vários motivos ele só aconteceu agora. Precisava de experiência musical e tempo pra organizar tudo o que eu gostava e queria dizer na hora certa. O universo conduziu tudo do jeito mais perfeito e não tenho palavras pra traduzir a gratidão que tenho a todas coisa bonitas que meu disco tem me dado, todos os lugares que ele tem me levado...e tudo o que tenho aprendido com ele. Minha vida realmente se transformou pra muito melhor depois do meu primeiro disco.... Por isso quero desfrutá-lo ao máximo já que ele foi tão sonhado e hoje ele é tão real, não estou ansiosa em atropelar as coisas. O universo vai sinalizar quando for a hora certa de lançar um novo trabalho.
X.: Elza com tantos anos de carreira...cheia de energia...sempre nos inspirando…Onde Elza recarrega as baterias? Como você trabalha a sua espiritualidade?
E.: Deixa eu te contar, recarrego minha energia no palco, troco energia com o meu público. Ali eu me sinto inteira, me sinto forte, plena... Essa meninada me dá força, me sinto poderosa, grande, logo eu que sou pequenininha... (Risos) Quando termino o show, chego em casa, estou tão revigorada que você acredita que eu demoro a pegar no sono? Fico animada e cheia de gás. Tudo isso é o palco e o público que me dão.
X.: Ser intérprete é dar vida e eternizar canções... Como a voz do milênio escolhe as músicas do seu repertório? E, sabe que ela é totalmente sua quando um compositor lhe apresenta?
E.: Eu pesquiso muito, minha vida é música, eu como e bebo música o dia todo, e nas minhas pesquisas vou achando músicas que contém letras que eu gostaria de me expressar ali. Sabia que foi assim que eu fiz com a metade do repertório do meu novo disco? Eu sou muito louca, cara, crio uns arranjos loucos na minha cabeça, meu diretor musical fica enlouquecido com as minhas ideias, sou muito inquieta. Eu tenho problemas na minha coluna, mas minha cabeça e minha voz estão ótimas, graças a Deus!
X.: Você sabe que é a nossa estrela maior né? Com toda a sua experiência, que conselho ou mensagem você daria para as novas cantoras negras do Brasil?
E.: Dizem que sou isso, que sou aquilo, sabe que não me vejo como as pessoas me veem? Eu ainda sou aquela menina de Moça Bonita, que hoje se chama Padre Miguel, eu me vejo como uma lutadora que têm ofício de cantar aquilo que eu acredito. Meu conselho é, não abaixe a cabeça, siga sempre em frente!
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