O ator explica as atitudes do personagem e diz que não consegue pensar de forma objetiva quando se trata dele
Rob Tannenbaum Publicado em 28/09/2013, às 12h15 - Atualizado em 24/04/2014, às 14h53
Em preparação para o fim de Breaking Bad, que vai ao ar nos Estados Unidos neste domingo, 29, a Rolling Stone preparou um especial com entrevistas com membros do elenco e da equipe. Leia abaixo a de Bryan Cranston, o intérprete de Walter White. Esse texto pode conter spoilers.
Walter White não se transforma exatamente do humilde professor de escola no barão das drogas. Até mesmo na primeira temporada já dá para ver o quanto ele gosta de violência e fica bem confortável na posição de poder. Considerando o quão rápida é a mudança, será que a violência dele estava bem perto da superfície?
Quando vemos Walt pela primeira vez, ele está deprimido. Todo mundo do passado dele, da faculdade, seus pais, amigos, professores, disseram para ele “o céu é o limite para você”. E talvez alguns impedimentos emocionais tenham feito com que ele não tentasse realizar tudo que poderia. Se ele tivesse decidido que seria motorista de caminhão, todo mundo diria que ele estava desperdiçando talento, mas ele se tornou professor, algo que ninguém pode criticar, porque é algo muito nobre.
Quando ele fica sabendo do câncer, a depressão o tornou mais suscetível do que se ele estivesse bem e se sentindo feliz com ele mesmo. Minha teoria é que todo mundo é capaz de se ser perigoso. Todos somos capazes de fazer mal aos outros e a nós mesmos.
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Então você não demoniza Walt como muitas outras pessoas fazem?
Bom, eu não tenho esse luxo de poder ser totalmente objetivo. Quando você interpreta um personagem, ele está na sua pele. Você é ele. Quando me perguntam o que eu acho de Walt, eu preciso sair da minha mente e do meu corpo e tentar refletir. Vince Gilligan consegue responder essa pergunta porque ele cria Walt, mas para mim é muito mais difícil.
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Vince disse que ele perdeu toda a empatia que sentia por Walt.
Foda-se ele. [Risos] Isso, para mim, é como ouvir que Vince perdeu toda a empatia por mim.
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Então não fica nem perplexo nem desapontado que as pessoas ainda estão torcendo para que ele escape dessa?
Não, não fico. Eu amo a ambiguidade que há aí. Eu amo que não é limpo. Vemos exemplos de comportamento extremo toda hora. Coçamos a cabeça, mas não sabemos a respeito da estabilidade mental de alguém ou da educação pregressa, as pressões.
É como o caso do garoto que explodiu as bombas na maratona de Boston. Ele tinha 19 anos e todos os amigos dele falaram que ele gostava de dançar e de festas. Estamos acostumados a ver personagens na TV que são pretos ou brancos. Tem o cara bonzinho, o malvado, o cuzão, a megera. As pessoas não são assim, somos um medley dessas coisas diferentes.
Até mesmo Hitler amava Eva Braun.
Eu aposto que Hitler também gostava de gatos, cachorros ou algo assim. Certo? [Risos] Às vezes você vê uma pessoa terrível sendo bondosa ou pegando lixo do chão. E eu sei que Walter White nunca perdeu seu amor ou o desejo por sua família, mesmo que tenha usado isso para justificar seu comportamento.
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Walt tem uma forma estranha de mostrar seu amor, especialmente em relação a Jesse. Ele o persuade a encerrar o relacionamento com Andrea, que Jesse ama, e aí envenena Brock, filho de Andrea. Ele estraga toda a vida de Jesse!
Calma, espera um minuto. Risos Jesse já era um traficante, ele só era ruim nisso. Ineficiente. Então eu não o corrompi. E como aconteceram as primeiras mortes? Jesse que colocou Krazy-Eight e Emilio em cena. E eles iam nos matar! Então como é que é culpa de Walt a introdução de morte e destruição?
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Walt também deixa a namorada seguinte de Jesse, Jane, engasgar até morrer.
Hmm. Certamente há um certo conflito aí. Mas não é verdade que ela viciou Jesse em heroína? O que acontece com pessoas que viciam em heroína? Elas geralmente morrem em algum momento. Essa certamente é uma desculpa, concordo com isso. Mas é o que estávamos dizendo antes. Não há nenhuma versão sanitária disso.
Ninguém na série é inocente, apenas Walt Jr.
E a Holly! [Risos]
Você guardou alguma coisa do set?
Fiquei com o chapéu. Fiquei com Heisenberg.
Por que Walt larga a cópia dele de Leaves of Grass perto da privada? Existe uma parte dele que quer ser pego para que o mundo saiba que ele é o grande traficante Heisenberg?
Quando conhecemos Walt, ele é muito metódico. Na química, há uma resposta para tudo. Tudo é lógica, tudo é calculado. Todo o núcleo emocional dele foi empedernido pela depressão.
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Quando ele se envolve profundamente com seu novo trabalho, seu núcleo de emoções explode. Ele passa a expressar realização, orgulho, alegria. As pessoas respeitam o trabalho dele, ele tem uma sensação de poder. E tem o lado negativo: avareza, ganância, ego, todas as coisas que se somam para formar uma pessoa.
Ele não estava acostumado a lidar com as próprias emoções e foi um caos. Foi daí que veio o impulso de matar Mike. Ele se tornou um homem impulsivo. O Walt antigo, o cara metódico, teria se certificado de que aquele livro estava bem escondido ou o teria destruído. Mas ele escorregou. Quando você fica muito emocionado, você é menos metódico.
Walt merece viver?
Alguém merece? Foi justo que ele teve câncer de pulmão, sendo que não fumava? Ele merece um caso terminal de câncer de pulmão? Dá para abrir todo um conjunto de questões desse tipo. O que é justo?
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