Com exaltação ao solo brasileiro, Keane mostra lado festivo em show na capital paulista
Por Bruna Veloso Publicado em 12/03/2009, às 09h19
As comparações mal elaboradas com o Coldplay talvez tenham servido como um impulso para que o Keane amenizasse seu lado "lamurioso" - e buscasse nos sintetizadores de Perfect Symmetry (2008), terceiro disco da carreira, a formação de uma outra identidade. Foi o tom dançante do álbum que animou cerca de 5.500 pessoas na segunda passagem da banda por São Paulo, na noite desta terça, 10.
O vocalista Tom Chaplin entregou uma performance dividida em dois contrapontos: animada nas canções marcadas por um quê de anos 1980, e apaixonada nas baladas que elevaram a banda à condição de expoente do pop britânico. As demonstrações de carinho pelo Brasil, mais do que comuns em shows de artistas internacionais que tocam por aqui, pareciam genuínas - assim como a alegria de Chaplin em tocar para uma platéia que sabia de cor suas músicas, mesmo estando tão longe de sua terra natal, a Inglaterra.
O setlist passeou pelos três álbuns da carreira do trio (seis faixas de Hopes and Fears, de 2004, seis de Under the Iron Sea, de 2006, e sete de Perfect Symmetry) mas, para o bem do resultado final, reinou o clima festivo de composições como "Spiralling" e "Lovers Are Losing", que abriu a noite com ares eletrônicos (o trio ainda é acompanhado pelo baixista Jesse Quin). "Esqueçam seus problemas e divirtam-se!", disparou Chaplin, na primeira das muitas sentenças em português que decorou para a apresentação.
"Everybody's Changing", talvez o maior hit radiofônico do trio (e utilizado como base para as comparações com a banda de Chris Martin), tornou-se o maior coro da noite. Seguiram-se "Bend and Break" e "Nothing in My Way": o som constante do piano, ainda mais destacado nas faixas dos dois primeiros discos, faz com que as melodias soem parecidas demais - o refresco veio com "Again and Again", na qual, em boa parte do tempo, a bateria se destaca.
Tim Rice-Oxley se reveza entre teclados e sintetizadores, sempre acompanhando a animação de Tom. O vocalista, que aproveita para caminhar pelo palco quando não está com a guitarra em punho, também "canta com as mãos": durante todo o tempo gesticula, como em uma peça teatral. Conversa com o público por meio das letras, cantadas sempre com competência, e dos braços, chamando a platéia para si (quando os ergue à frente do corpo e estica os dedos em direção ao horizonte fechado do Credicard Hall, Tom chega a lembrar os trejeitos de Jon Bon Jovi).
"Spiralling", a mais "anos 1980" de Perfect..., transformou o espaço da casa em uma pista de dança, embalando o público ao som da bateria marcada, dos "uuuh" grudentos do refrão e das luzes coloridas acima do palco. Depois de erguer os ânimos ao máximo, chegou a hora do momento "voz e violão": a limpeza do som das cordas vocais de Tom se fez ouvir em "Playing Along", com o vocalista sozinho no palco. Deu-se continuidade ao clima intimista quando os quatro músicos se uniram no centro do palco, bem próximos um do outro, com teclado, chocalhos e cajon.
O que antes seriam isqueiros se tornaram celulares e desagradáveis flashs quando Chaplin pediu luzes para o alto, em "You Don't See Me" ("Minha canção favorita de Perfect...", revelou). Com uma bandeira do Brasil no pedestal de seu microfone, o cantor de despede da platéia ao final de "Crystal Ball".
O bis veio com o cover de "Under Pressure" (em que a voz do Keane caminha tranquilamente entre os graves de David Bowie e os agudos de Freddie Mercury, da versão original) e "Is It Any Wonder?" (no momento de maior destaque para o baixo). Desfazendo o clima de festa (infelizmente), o trio encerra a apresentação com "Bedshaped", balada manjada do primeiro disco.
O Keane, que esteve no Brasil pela primeira vez em 2007, ainda se apresenta em Belo Horizonte (12/3) e no Rio de Janeiro (13/3).
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