Nação Zumbi - João Rock - Guilherme Andriani/Divulgação

“Esquecemos de colocar um adesivo nesse disco: que é para escutar em alto volume”, diz Jorge du Peixe, do Nação Zumbi

O grupo pernambucano promoveu uma comemoração dos 20 anos de Da Lama ao Caos em festival

Lucas Brêda, de Ribeirão Preto Publicado em 08/06/2014, às 14h08 - Atualizado às 15h09

Vinte anos após o registro definitivo do movimento manguebeat, o disco Da Lama ao Caos, o Nação Zumbi ressurge com um álbum autointitulado, decorado com novas referências e arranjos bem azeitados. No festival João Rock, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o grupo pernambucano foi o último a tocar no palco principal do evento, dedicando uma homenagem catártica ao disco aniversariante e dosando a apresentação com novas músicas.

“Não é fácil criar um repertório, uma dinâmica de show, levar em conta a resposta do público”, disse o vocalista Jorge du Peixe à Rolling Stone Brasil, pouco depois de deixar o palco após uma das mais intensas apresentações do João Rock de 2014. “A gente está moldando da melhor maneira, e estamos chegando lá. Estamos tocando cinco do novo disco no show. Mas é difícil intercalar, saber depois de qual música vai ser e tal – assim como é difícil de se fazer a sequência de um disco.”

Em Ribeirão Preto, “Defeito Perfeito”, “Cicatriz” e “Foi de Amor” encontram espaço entre os clássicos da época de Chico Science – como “Manguetown”, que teve a participação de João Barone, baterista do Paralamas do Sucesso – e dos primeiros discos do grupo após a morte do ex-vocalista (a exemplo de “Blunt of Judah” e “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada”). Segundo du Peixe, foram somente três novas porque os shows em festivais são sempre menores. “A tendência é sete ou oito músicas no decorrer dos ensaios, estrada e tudo mais”.

Tocar no interior

“Esse negócio não existe mais”, afirmou o vocalista, se referindo às possíveis diferenças entre shows e festivais em cidades menores, em relação às metrópoles. "Interior ou capital, as pessoas estão ligadas, devido a uma ferramenta que é a internet, digital. Ela te possibilita tudo, você está aprendendo, está ouvindo tudo. Então não existe isso mais”.

Nação Zumbi

Foram sete anos sem lançar material inédito (desde Fome de Tudo, de 2007). O disco, que já estava pronto em 2012, ganhou novos acabamentos, e depois de dois anos chegou ao mercado. “A gente fica muito inserido durante a produção, e é quando ele fica pronto que você consegue ter um distanciamento”, contou Jorge du Peixe. “Você vê o guri de roupa, vestido – é um filho. Aí você se distancia um pouco dele e vai ouvir com outros ouvidos, e superou nossas expectativas".

Nação Zumbi foi batizado com o nome da banda para reafirmar a identidade do grupo – fato que du Peixe faz questão de ressaltar nas apresentações recentes. “Ninguém deixou nada para trás. A essência está ali ainda, desde o começo. Eu costumo dizer que é outro endereço do mesmo lugar, isso faz pensar um pouco”. Sobre as novas direções sonoras, como na balada “Um Sonho”, ele é enfático: “Por que ir em um lugar só se você pode ir em vários? É o mote inicial e principal da gente: a diferença”.

“No final, a gente viu o resultado pronto ali e a resposta toda, é satisfação total”, seguiu Jorge du Peixe, “está tendo uma boa reposta do público, a própria crítica falando bem”. Para o vocalista, eles se esqueceram de colocar um adesivo na capa do álbum: “Que é para escutar em alto volume”. Ele explicou: “As pessoas ouvem música hoje em dia nos lugares mais absurdos: micro fones de ouvido, mini speakers de computador. A gente fez um disco para se ouvir alto, em caixas e falantes altos. A melhor maneira de escutar música é assim”.

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