Guitarrista encerra programação do festival Cultura Inglesa com show gratuito no próximo domingo, 21, em São Paulo
Lucas Brêda Publicado em 17/06/2015, às 15h59 - Atualizado às 16h41
Foi preciso uma experiência memorável para trazer Johnny Marr de volta ao Brasil rapidamente. “Foi surpreendente, a plateia sabia cantar as músicas do [primeiro álbum solo, de 2013] The Messenger, lembra-se o guitarrista, falando sobre o show na edição nacional do Lollapalooza 2014. “Minha banda ficou impressionada.”
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A ocasião foi marcada por um momento especial, no qual algo próximo da formação original do Smiths (ou, pelo menos, o mais próximo que os brasileiros já presenciaram) tomou o palco: Marr tocou o hit “How Soon Is Now?” com o ex-baixista da banda, Andy Rourke (lembre como foi aqui).“Às vezes nos encontramos na mesma cidade, sabe?”, diz. “Nem sempre é o caso, mas a gente se conhece há muito tempo – desde que éramos crianças.”
No próximo domingo, 21, Marr retorna a São Paulo, para fechar a programação do festival Cultura Inglesa, em apresentação no Memorial da América Latina, às 19h, com abertura do Strypes. Desta vez, ele traz a turnê de Playland (2014), disco que dá continuidade à carreira solo iniciada tardiamente – mais de 15 anos depois do último álbum do Smiths.
“O primeiro álbum foi muito bem recebido, e isso me deixou muito surpreso”, admite Marr. “The Messenger foi uma coletânea de canções que eu compus e com as quais eu estava muito animado. O segundo disco é meio que uma progressão do que eu aprendi na minha estreia solo.”
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Para o guitarrista, Playland é um resultado direto do tempo na estrada com The Messenger. “Consegui conhecer minha plateia de perto”, explica ele, falando do público específico da carreira solo dele. “Minha banda estava muito entrosada. Queríamos traduzir o que fazemos no palco [nas gravações].”
Contudo, Playland é mais do que Marr e sua banda afiados no estúdio. O trabalho beira o conceitual, com divagações acerca da futilidade, ganância e aspectos da vida moderna. “‘Easy Money’ trata de como as pessoas vivem por dinheiro”, diz, citando o principal single do álbum. “Por isso fiz a música em formato pop e comercial, como uma forma de tirar sarro.”
O ex-Smiths ainda define a faixa como “estranha”, por ser “a música de mais sucesso que eu fiz em um bom tempo”. Neste “bom tempo”, Marr passou por muitos projetos, do Modest Mouse ao The Cribs, passando pelo Electronic (ao lado de Bernard Sumner, do New Order) e até trabalhos com o Pet Shop Boys.
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“É como perguntar qual seu trabalho preferido quando faz diversos trabalhos que gosta”, desconversa quanto a eleger o projeto mais prazeroso em que esteve. “Talvez a época mais feliz tenha sido quando eu estava no Modest Mouse”, diz. “Porque eu já estava um pouco mais velho, gostava de morar nos Estados Unidos, e a banda teve muito sucesso nos três discos que tem.”
Ele, entretanto, não se esquece do sucesso que fez com o Smiths. “Foi muito importante por ter sido quando eu comecei, além de ser o grupo pelo qual as pessoas passaram a me conhecer”, confessa, mas não sem ponderar: “Toquei guitarra melhor quando estava no Modest Mouse, acho. Ainda que a maioria das pessoas me valorizem pelo Smiths.”
Seja com o Smiths, o Modest Mouse, Noel Gallagher ou sozinho, o processo de Marr com as seis cordas e os amplificadores é o mesmo. “Não mudo o jeito que me relaciono com música desde que tenho, sei lá, 14 anos de idade”, conta. “Às vezes acordo, pego a guitarra, e fico tocando por 15 horas até sair algo. Outros dias, algo me vem à cabeça enquanto estou dirigindo e pronto.”
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A manutenção da lógica de criação pode ser responsável pela sonoridade ímpar – e já tradicional – que ele consegue tirar da guitarra. Com uma mão direita precisa, ele faz o ritmo e a melodias se sobressaírem em relação aos arranjos e acordes – não é preciso muito para identificar uma frase de guitarra com a assinatura de Marr.
“Nos anos 1990, gravei muita coisa com o Pet Shop Boys e com o Electronic, e muitas dessas coisas soavam como o que eu fazia no Smiths – e eu apagava”, lembra. “E acho que tem muitas músicas da minha carreira solo que soam diferente de tudo o que eu já fiz anteriormente. Mas tem outras que lembram alguma coisa do Electronic, ou do Smiths. Hoje eu acho isso bom. Fico feliz que tenho meu próprio som.”
Autobiografia
Agora, além da carreira solo, Marr prepara uma autobiografia, anunciada para 2016. “Tenho muitas histórias”, comenta. “Meus amigos estão cansados de me ouvir contá-las até às 2h da manhã e querem que eu as coloque em um livro e cale a boca [risos].”
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“Não sou uma pessoa nostálgica, mas tenho uma boa memória”, diz ele sobre o livro, ainda sem título, cujas partes já escritas o “agradam bastante”. “Você tem que se concentrar: desligar a internet, o som, e levar a sério. E você percebe como o tempo voa.”
Aos 51 anos, ele encara as memórias da juventude e medita sobre a passagem do tempo. “Talvez eu esteja um pouco mais paciente agora”, reflete. “Eu tinha uma pressa te fazer tudo o tempo inteiro. Vivia como se tivesse 36 horas por dia. Agora, vivo com as usuais 24 horas. Acho que dá para perceber pela minha música: continuo gostando de ser rápido. Mas eu costumava ser muito mais veloz quando eu era mais jovem.”
“Também acho que estou mais educado”, diz, com uma tonalidade diferente de voz. “Ou pelo menos gosto de pensar que sim.”
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