Ator também comenta a amizade com George Clooney, com quem trabalhou em E.R., e o papel de Steven Spielberg na série
Fernanda Brambilla, de Los Angeles Publicado em 07/06/2013, às 12h31 - Atualizado às 12h58
Foi com o jaleco do galanteador Dr. John Carter que Noah Wyle se consolidou como ator de TV. Não à toa, foram quinze anos brincando de médico na série E.R (Plantão Médico, no Brasil). Do seleto grupo de doutores na sala de emergência, Wyle viu a ascensão dos colegas George Clooney, que chegou ao primeiro escalão de Hollywood, e de Julianna Margulies, que chegou a ganhar uma série própria (The Good Wife). Mais de uma década se passou após o fim de E.R para que ele ganhasse enfim um novo papel com grandes ambições: ele está na linha de frente de Falling Skies, série de ficção científica que finca raízes com a terceira temporada. Nos Estados Unidos, o primeiro dos novos episódios estreia no próximo domingo, 9 (por aqui, será no dia 14, às 22h, nos canais pagos TNT e Space).
A demora em engrenar um novo desafio, no entanto, é encarada de maneira saudosa pelo ator norte-americano de 42 anos. “Eu adorava meu trabalho em E.R., conhecia todo mundo no set, éramos quase uma família”, diz Wyle. "Mas isso foi há cem mil anos…" Mesmo ainda sendo chamado de Dr. Carter nas ruas, Wyle agora segue outros rumos, e acumula funções de protagonista e produtor em Falling Skies. O personagem dele, Tom Mason, é um professor de história que se converteu no líder de um grupo de sobreviventes após a Terra ser invadida por extraterrestres. Fora da tela, o ator se apoia na produção executiva de Steven Spielberg para apostar na vida longa da atração.
Mas se na teoria a grife é garantia de qualidade em efeitos especiais, na prática a participação do cineasta é distante. "Estamos falando de uma das pessoas mais ocupadas do showbizz, é claro que Spielberg não está sempre no set. No ano passado, ele estava filmando Lincoln", admite Remi Aubuchon, também produtor executivo, que planeja outras três temporadas de Falling Skies.
A rotina de Noah Wyle envolve exaustivas 15 horas de trabalho diárias e longos períodos de gravações noturnas no inverno de Vancouver, no Canadá. Mas o cansaço não tira o brilho nos olhos de quem tem uma série nas mãos. "Noah está sempre pilhado, absolutamente comprometido. Ele morre por essa série", resume a atriz Moon Bloodgood, intérprete da Dra. Ann Glass, par romântico dele. O mais difícil para o ator, no entanto, é a distância dos filhos (Owen, de 11 anos, e Auden, de 7). "Eu me sinto culpado como qualquer pai. O que me conforta é que Owen aprovou a série."
Se por um lado há recursos e orçamentos generosos para quem faz TV, muitas produções são canceladas ano após ano. Com o terceiro ano de Falling Skies, já se sente seguro de que a série terá vida longa?
Confiante, sim; seguro, nunca. É difícil ter certeza de que as coisas estão indo bem, há sempre muita especulação quando se grava dez capítulos com muita antecedência. Mas não nos abalamos. Na primeira temporada tínhamos um conceito incrível, mas não sabíamos como executar. Um ano depois, fomos aprimorando – descobrimos, por exemplo, que o público reage melhor à atmosfera mais sombria, gosta de nos ver ensanguentados, enlameados; quanto mais sofremos, mais gostam da gente. Passamos quatro meses e meio gravando à noite no frio.
Você é o ator com mais participações em E.R. Como se sente agora à frente de Falling Skies?
Hoje sinto a responsabilidade de fazer esse programa o melhor possível sempre, e um senso de liderança que é novo para mim. Essa série é o meu orgulho. E estamos firmes, cara.
Você faz dupla jornada, como protagonista e produtor. Imagino que deva ser exaustivo.
Você está me vendo aqui descansado, com meus machucados já tratados, mas foram longos seis meses até aqui [as gravações terminaram em janeiro]. Eu vivia exausto. É um trabalho que exige tudo de mim, física e mentalmente, e que não termina nunca. Em um dia comum, eu acordava às 5h para estar às 6h no estúdio. São 15 horas de set e lá pelas 21h eu ia estudar minhas falas para o dia seguinte. Depois me reunia com os roteiristas, que estão em Los Angeles, ou seja, horas no telefone e trocando e-mails entre discussões de roteiro e montagem de sets. Sobravam, com sorte, umas 4 horas de sono. Isso quando não invertíamos os horários para fazer as cenas à noite, o que sempre acontecia.
Falling Skies tem o nome de Steven Spielberg nos créditos. Ele participa ativamente da série?
A minha confiança nessa série está no nome de Steven Spielberg. Eu sei que ele não assina algo de que não se orgulhe. E ele é a melhor referência que qualquer um poderia querer quando se trata de ficção científica. Steven aprova todos os roteiros, vê as edições, os designs, manda notas com observações de cada capítulo. Além disso, ele tem dois assistentes que estão o tempo todo no set.
Um dos dilemas do seu personagem é a participação de crianças na guerra contra os aliens. Tom Mason quer preservar os filhos desse ambiente, mas é quase impossível. Na vida real, como pai de dois filhos [ambos do casamento com Tracy Warbin, de quem se separou em 2009], você se preocupa em preservá-los de Hollywood?
Na série, Tom se dá conta de que o mais sábio a fazer é preparar seus filhos para que eles saibam se defender e, um dia, talvez os filhos deles tenham uma infância normal. Como pai eu vivo uma batalha parecida diariamente. Crianças estão expostas a muitas coisas desde muito cedo, seja via internet, televisão, videogame, música… Os escudos que a gente tinha para preservar nossos filhos de aspectos que não cabem a uma criança não existem mais. E na verdade eu não vejo essa preocupação em outros pais, ou vejo cada vez menos. Não existe um esforço coletivo para mudar isso. Minha luta é dosar as liberdades dos meus filhos: pode ficar acordado até tarde, pode ouvir a música que quiser, e pouco a pouco vou repassando responsabilidades maiores. Foi pensando na criação dos meus filhos que eu decidi comprar um rancho, onde crio animais e as crianças ficam em meio à natureza, longe desse ambiente Hollywood. É um alívio deixar tudo para trás e me refugiar lá. É o centro do meu universo.
Seu filho Owen foi decisivo para você aceitar fazer Falling Skies. Ele é seu crítico?
Eu tinha vários projetos e perguntei a ele: ‘O que você prefere que eu seja, um agente corrupto, um corretor, um líder de rebeldes contra extraterrestres?’ Não tive outra escolha [risos]. Ele adora a série. No meio da temporada passada, eu já estava exausto e falei com ele por telefone para dizer o quanto eu sentia saudade. Eu me sentia muito culpado por estar longe por quase cinco meses direto. E ele me disse: “Papai, estou muito feliz porque você está fazendo essa série”. Eu fiquei todo emocionado, mas na verdade o que ele quer é ir ao set brincar com as armas e os aliens e se gabar disso depois com os colegas de escola.
Quando a série começou, você tinha dublês para as cenas com motocicletas. Já superou esse medo?
Não gosto e não confio em motos. Minha mãe, que é enfermeira na área de ortopedia, vivia me dizendo que motociclistas são loucos e que se eu andasse de moto iria morrer –ela viu muitos acidentes graves quando trabalhava. Agora ela está aposentada, mas eu continuo não fazendo essas cenas. Isso ficou gravado na minha cabeça. Nessa temporada fazemos muitas cenas com cavalos e você não imagina como fiquei aliviado.
Na época de E.R. você e George Clooney se tornaram bons amigos. Ainda mantêm contato?
É uma amizade de mensagens de texto, digamos. Ele é um cara muito ocupado, mas quando nos vemos é sempre igual. Ele fez aniversário no mês passado, então nos falamos há pouco tempo. Temos boas histórias juntos – ele já me deu um carro [um Oldsmobile Dynamic 88], me emprestou dinheiro, e quando ocorreu aquilo na passeata, em Washington [no ano passado, Wyle foi detido ao participar de um protesto contra cortes nas verbas federais na saúde], George me ligou para tirar sarro e perguntar se eu queria que ele pagasse a minha fiança.
Você nunca esteve no Brasil, mas tem alguma relação com o país?
É uma pena que eu não conheça, mas aprendi coisas do Brasil quando era adolescente. Estudei em um internato e meu vizinho de porta era do Rio de Janeiro. Eu não falo nada de português, o que já me custou bem caro. Essa é uma história bem embaraçosa. Em uma das viagens de férias esse amigo trouxe uma revista cheia de fotos de mulheres de biquíni. Ele me desafiou: ‘Qual delas é um homem?’ Eu fiquei chocado com a pergunta, mas então comecei a prestar atenção nas moças e desconfiei de quatro, e olha, eram muitas. Ele riu, satisfeito, e soltou: “Noah, são todos homens!”
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