- Médico segurando caixa do remédio cloroquina (Foto: Andressa Anholete / Getty Images)

Exército começou produção de cloroquina antes de autorização do Ministério da Saúde

Segundo documentos, a licitação para compra de insumos que produzem a cloroquina ocorreu antes de aval do Ministério da Saúde

Redação Publicado em 19/05/2021, às 11h43

Em ofício à CPI da Covid, o Ministério da Defesa afirmou que começou a produzir cloroquina para tratamento de Covid-19 a pedido do Ministério da Saúde. Outros documentos, contudo, mostram que a compra dos insumos para a produção ocorreu antes de orientação para que medicamento fosse utilizado no tratamento de pacientes graves. As informações são do O Globo.

Segundo ofício encaminhado pela Defesa e assinado por Walter Braga Netto, a produção de comprimidos de cloroquina iniciou a pedido do Ministério da Saúde, ainda na gestão de Luiz Henrique Mandetta. O medicamento não tem eficácia comprovada contra a doença e não é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Um trecho do documento diz: “Atendendo à orientação e à demanda do Ministério da Saúde para a produção de cloroquina no âmbito da Defesa, o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) ficou encarregado da fabricação e entrega ao demandante, por possuir o registro válido na ANVISA do sobredito medicamento.”

Apesar dos ofícios da defesa, documentos revelam que a  primeira licitação para a compra dos insumos para produção da cloroquina ocorreu em 20 de março, com o empenho de pagamento realizado em 23. O Ministério da Saúde, contudo, só editou em 27 de março a nota que recomendou uso de cloroquina apenas em formas graves da doença, conforme divulgado pelo O Globo.

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Apesar de a cloroquina não ter eficácia comprovada contra a Covid-19, o governo Bolsonaro incentiva o uso do medicamento em tratamentos. No dia 21 do mesmo mês, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou nas redes sociais o aumento de produção do remédio: “Também, agora há pouco, me reuni com o senhor ministro da Defesa onde decidimos que o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército deve, imediatamente, aumentar a sua produção desse medicamento,” disse.

A CPI (Comissão Parlamentar) da Covid investiga a atuação do governo na pandemia, inclusive o uso da estrutura do Exército para fabricação e distribuição de cloroquina durante a pandemia. 

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Nesta quarta, 5 de maio, Jair Bolsonaro (sem partido) comentou sobre a CPI da Covid, que investiga a atuação do governo federal durante a pandemia. Durante declaração, o presidente chamou de “canalha” quem não concorda com o tratamento precoce contra a doença e não "apresenta alternativa". As informações são do G1.

Um dos pontos de investigação da CPI da Covid é a promoção governamental de medidas sem eficácia comprovada contra a doença, como o tratamento precoce. Bolsonaro é um dos defensores do uso desses medicamentos, como hidroxicloroquina, e afirma que se curou da Covid-19 graças ao remédio.

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No Palácio do Planalto nesta quarta, 5, Bolsonaro disse: "Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa. Esse é um canalha. O que eu tomei [para tratar a Covid], todo mundo sabe. Ouso dizer que milhões de pessoas fizeram esse tratamento. Por que é contra?"

Segundo o G1, o presidente também disse esperar que a investigação da CPI também seja feita em relação ao resultado do uso de hidroxicloroquina em Manaus no início de 2021: "Espero que a experiência de Manaus com doses cavalares de hidroxicloroquina seja completamente desnudada pelos senadores. Por que não se investe em remédio? Por que é barato demais? É lucrativo para empresas farmacêuticas ou para laboratórios investir no que é caro? Nós conhecemos isso."

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Durante o discurso, Bolsonaro sugeriu aos senadores integrantes da CPI que ouçam profissionais defensores do tratamento precoce: "Essa CPI, eu tenho certeza, parlamentares, senadores, em especial, vai ser excepcional no final da linha. Que vai mostrar sim o que alguns fizeram erradamente com os bilhões entregues pelo governo para os seus respectivos estados e municípios. Junto àqueles que são isentos e apoiam a verdade, senadores, estamos sugerindo que seja convocado ou convidado autoridades que venham falar do tratamento precoce."


Os perigos do tratamento precoce

Além de não prevenir contra a Covid-19, o chamado tratamento precoce pode ter diversos efeitos colaterais. Muitas vezes, os medicamentos são usados em altas dosagens e sem acompanhamento médico, o que pode causar hemorragias, doenças no fígado e insuficiência renal.

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Também chamado de “kit-covid”, o tratamento com remédios sem eficácia pode ter diversas complicações no organismo, além de atrasar a busca por atendimento após o diagnóstico de Covid-19.

Em entrevista ao Estadão, o médico Valmir Crestani Filho explicou:  “Em um dos últimos plantões, atendi um paciente que estava tomando cloroquina e usando oxigênio em casa. Ele chegou azul. Tive de intubar na hora.”

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“Guerra Química”

Além de defender o tratamento precoce, Bolsonaro também insinuou que o vírus foi criado em “laboratório.” Sem mencionar a China, o presidente questionou se a pandemia seria, de fato, uma “guerra química”.

"É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês," disse.

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A hipótese já foi descartada pela OMS, conforme noticiado pelo G1. A organização realizou um estudo que indicou ser "extremamente improvável" que o vírus tenha sido criado devido a um incidente em laboratório.

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