“Se a plateia estiver esperando algo tradicional, é possível que fique desapontada”, diz representante da banda, que não revela a identidade dos integrantes
Lucas Brêda Publicado em 15/09/2015, às 19h20 - Atualizado em 17/09/2015, às 14h57
O Residents não é uma banda usual. Para começar, em 41 anos, eles já lançaram mais de 60 álbuns – fora diversos projetos audiovisuais – e ficaram conhecidos por manter secretas (até hoje) suas identidades, usando capacetes de olhos gigantes e outras fantasias. Além disso, quem dá entrevistas é Homer Flynn, “representante” – que, dizem as más línguas, é vocalista – do grupo.
Veja as capas das 100 primeiras edições publicadas pela Rolling Stone Brasil.
“Se a plateia estiver esperando algo tradicional, é possível que fique desapontada”, diz ele, vislumbrando o primeiro show do quarteto em São Paulo, nesta quinta, 17, pelo Popload Gig. Falando ao telefone de São Francisco, na Califórnia (EUA), Flynn afirmou estar “cansado” por ter acompanhado o Residents em alguns shows na Europa, dias antes. “Mas, se o público estiver aberto a experiências diferentes, podem ficar muito entusiasmados”, completa.
A apresentação atual, Shadowland, é a parte final de uma trilogia iniciada há cinco anos como forma de resgatar material antigo da banda. “Mas eles não queriam fazer algo comum, como pegar canções mais populares e tocá-las”, explica Flynn, sempre falando do grupo na terceira pessoa. “Então abordaram isso conceitualmente, dando ao show um tema.”
“O tema de Shadowland, por exemplo, é ‘nascimento, renascimento, reencarnação e experiências de quase morte’”, acrescenta Flynn. “Eles, então, buscaram músicas do cancioneiro antigo deles que refletissem o tema”. No palco, eles justificam a posição de ícones de arte multimídia experimental, alternando performances musicais e teatrais com vídeos curtos e monólogos, explorando ao máximo as possibilidades do audiovisual.
A proposta de resgate de Shadowland – e dos dois álbuns anteriores – é mais uma maneira do Residents de olhar para o passado. Em 2014, a banda foi tema do documentário Theory of Obscurity: A Film About the Residents (trailer abaixo), dirigido por Don Hardy. “Eles gostaram tanto desse cara – e confiaram tanto nele – que decidiram cooperar”, conta Flynn. “Acho que se outra pessoa tentasse fazer esse filme, não teria muita cooperação do Residents.”
O longa (não exibido no Brasil) revelou diversas crenças curiosas acerca do Residents, como a de que George Harrison e Eddie Van Halen chegaram a ser integrantes da banda em algum momento da carreira. Mantendo a postura misteriosa, e sem comprometer, Flynn aceita opinar sobre quem não esteve – mas poderia – no Residents: “Sun Ra, Liberace e Howlin' Wolf. Seria um grupo fantástico!”.
É difícil de imaginar que George Harrison tenha realmente tocado no Residents, mas ele já esteve – bem ou mal – em uma das capas de álbum do quarteto. Em 1974, o Residents lançou o trabalho de estreia, Meet the Residents, com uma capa ilustrada pela foto de Meet the Beatles! (primeiro álbum dos Beatles a ser lançado nos Estados Unidos) , só que com os integrantes do Fab Four deformados em figuras fantasmagóricas (abaixo).
O conteúdo do LP não ficava atrás: desde a primeira música, a banda mostrava o quão bizarra poderia ser na criação de atmosferas e arranjos, fosse com vozes ou instrumentos. Flyyn conta que há um fã na Alemanha com 60 versões diferentes de Meet the Residents: “Todo mundo ficou maluco. Eles sequer sabiam que havia 60 versões do Meet The Residents!”
As seis dezenas de cópias do álbum de estreia do Residents estão guardadas em um museu, na casa do fã alemão. “Então, obviamente, ele tem tudo”, conta o representante da banda. “Tem também outro colecionador do Residents no Texas. Ele decidiu que tinha de ter quatro de tudo, porque são quatro Residents. Então, ele tem o quádruplo de cada lançamento. Há diversas pessoas que são completamente obsessivas com o trabalho do Residents.”
Não é simples pensar que alguém pode ter consumido todos os trabalhos do Residents, principalmente em um gênero de difícil entendimento das obras. “É o que eles gostam de fazer”, opina Flynn. “Continuariam fazendo, tivesse mercado ou não. Existem álbuns nos quais eles pensam como projetos maiores, e outros como algo menor. Muito dos discos que fizeram ao longo dos anos não tiveram muita distribuição. Foram coisas menores, mais pessoais, distribuídas basicamente para os fãs.”
“Quando eles começaram, estavam com cerca de 20 anos”, diz Flynn, refletindo a proximidade exacerbada com o Residents. “Acho que, com certeza, eles pensaram: ‘Bem, isso vai ser uma carreira’. Mas não sei se aos 20 anos, as pessoas pensam em algo do tipo: ‘Quantos discos vamos ter feito quando tivermos 60 anos?’”. Ele conclui: “Mas eles entraram nisso de cabeça e para ficar por muito tempo.”
Para ficar muito tempo produzindo, mas também muito tempo sob máscaras e disfarces. Flynn afirma que alguns membros da banda consideram com afinco a ideia de permanecerem desconhecidos até o fim da vida. “Alguns acham a ideia bastante romântica”, revela. “Esse conceito de nunca revelar nenhum segredo e morrer, deixando que as pessoas saibam deles em algum ponto no futuro. Como eu disse, alguns deles gostam bastante da ideia, outros não acham tão legal.”
Se os boatos da identidade de Flynn forem verdade, entretanto, ele já colocou por água a baixo os planos dos amigos. “Com certeza sou muito conectado com o Residents”, admite. “Como há muito mistério em torno deles – e como sou a pessoa que fala por eles –, acho natural que as pessoas façam essa associação. Mas, sabe, os Residents são especiais. Eu sou só uma pessoa comum.”
The Residents em São Paulo
17 de setembro (quinta-feira), às 22h
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Ingressos: R$ 160 (há meia-entrada)
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