Veterano de guerra, Curt Claudio procurava nas letras do músico um sentido para sua vida
Redação Publicado em 21/07/2019, às 10h00
A ruína de John Lennon foi a obsessão de um fã. Morreu assassinado em 1980 na porta de seu prédio em Nova York com quatros tiros de um revólver disparado por Mark David Chapman, admirador do músico e dos Beatles. Poucas horas antes, havia feito o que fazia de melhor: ser solícito com quem pedia e assinado um álbum para o assassino.
Lennon sempre achou que qualquer obsessão e qualquer perseguição de um fã era por sua conta, conforme explicou Yoko Ono, com quem o músico foi casado, no documentário Gimme Some Truth: The Making Of John Lennon’s Imagine Album (2000). “John sempre se sentiu responsável por essas pessoas, pois eles eram resultado de suas canções – era assim que ele sentia”, explicou.
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E foi por isso que o casal recebeu tão bem Curt Claudio, um fã andarilho (na época com 23 anos de idade) que apareceu na porta da casa de Lennon em 1971, depois de enviar alguns telegramas ao ex-Beatle avisando de sua visita. Ele queria, conforme explicou, “olhar nos olhos” do músico para “saber a resposta”, e para isso acampou no quintal dos dois por dias, e a polícia queria prendê-lo, mas John não deixou e foi falar com o admirador.
John e Yoko: Só o Céu Como Testemunha, filme da Netflix lançado em 2019, explicou um pouco mais da história do conturbado Curt Claudio pela voz de Dan Hitcher, produtor de Lennon. “Era um jovem que lutou no Vietnã totalmente em choque, acho que ficou em um hospital em São Francisco e acho que ia ter alta. John era muito empático. Ele se importou.”
Tudo aconteceu durante as gravações de Imagine, o disco de 1971, e foi mostrado em ambos documentários. Yoko, John e Curt aparecem nas filmagens, parados à porta da casa do astro. “Não confunda as músicas com sua própria vida”, aconselha Lennon. “Quero dizer que elas podem até ter relevância, mas muita coisa têm”, completa, enquanto Curtis o olha fixamente. “Nos encontramos agora, e eu sou só um cara comum que faz música. Dissemos oi, e o que mais tem para dizer?”
Pensativo, o fã acena concordando. “É… Eu achei que… se nos encontrássemos, eu saberia só de te ver”. “Mas saber o que?”, quer saber Lennon. “Se o que eu pensava era verdade.”, diz Curt, mas percebe que o músico não é, na verdade, algo além de uma pessoa comum, como enfatiza algumas vezes na conversa.
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Curt continua tentando encontrar “sentido” em John, e cita um trecho de “Carry That Weight” (lançada pelos Beatles em 1969): “cara, você vai carregar esse peso por um bom tempo”, relembra o fã. “Se você tentar o bastante, tudo se encaixa [em nossas vidas]. Todos vamos carregar [um peso] até morrermos”, explica o músico. Curt tem um pouco de dificuldade de entender como surgiu a canção - que acreditava ter sido escrita para ele e sobre ele. Mas Lennon nega. “Como poderia ser sobre você? Eu penso sobre mim, ou sobre Yoko se é uma música de amor. Mas é só isso. Eu canto sobre ‘preciso fazer algumas coisas hoje, e foi isso que pensei hoje de manhã, e amo a Yoko’, mas foi isso. Cantei sobre mim e minha vida, e se é relevante para a vida de outras pessoas, tudo bem.”
Um silêncio segue. Curt parece tentar digerir as palavras do músico. “Está com fome?”, pergunta Lennon, ao que o admirador timidamente afirma. “Vamos arranjar alguma coisa para você comer.”
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Depois, a filmagem mostra o homem à mesa com Yoko e Lennon, comendo pão e bebendo café com leite. Ao fundo do filme do ano 2000, uma música que exemplifica o sentido da conversa: “How?”, lançada no próprio Imagine, com os versos “como posso ir em frente se não sei que caminho fazer? Como posso ir em frente em algo que não tenho certeza de que devo?”. E, na versão documental de 2019, a canção escolhida é sobre o peso que Curt carrega: “Eu Não Quero Ser um Soldado, Mamãe”, “eu não quero morrer.”
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